quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia da consciência negra




As pessoas escolhem várias maneiras de comemorar o dia da consciência negra.
É um dia para lembrar que a abolição da escravidão continua incompleta e que é necessário gritar pelos direitos sonegados nas ruas e nas praças.
Podemos aproveitar para render homenagens àqueles que lutaram pela igualdade em nosso país.
Decidi homenagear Florestan Fernandes, o maior sociólogo brasileiro de todos os tempos. Um homem que soube ser rigoroso na pesquisa e, ao mesmo tempo, presente em todas as lutas de seu tempo.
Nas primeiras décadas do século passado ousou pautar a temática racial em nosso país. E fez isso por intermédio de uma profunda pesquisa sociológica.
Publico estratos do livro A integração do negro na sociedade de classes, um verdadeiro clássico escrito em 1964 por Florestan Fernandes. Infelizmente suas descobertas continuam válidas para caracterizar a nossa sociedade, passados 44 anos.


(...) Não só os mecanismos de dominação racial tradicionais ficaram intatos. Mas a reorganização da sociedade não afetou, de maneira significativa, os padrões preestabelecidos de concentração racial de renda, do prestígio social e do poder. Em conseqüência,a liberdade conquistada pelo “negro” não produziu dividendos econômicos, sociais e culturais.



(...) As descrições feitas acima permitem compreender e explicar geneticamente esse fenômeno de demora cultural. Ele se produz, de forma recorrente, porque o “negro” sofre persistentes e profundas pressões assimilacionistas e, apesar de responder a elas através de aspirações integracionistas ainda mais profundas e persistentes, não encontra vias adequadas de acesso às posições e aos papéis sociais do sistema societário global.



(...) O “branco” se apega, consciente e inconscientemente a uma percepção deformada da situação de contato racial. O “negro”, por sua vez, quando rompe essa barreira,não só é ouvido, como suscita incompreensões irracionais. Além disso, pelo próprio teor reivindicativo de suas aspirações igualitárias, ele luta por corrigir as inconsistências e as contradições das relações raciais dentro de uma área imediatista, que se delimita por seus interesses econômicos, sociais e culturais prejudicados ou insatisfeitos.



(...) Como escreveu Nabuco, “temos de reconstruir o Brasil sobre o trabalho livre e a união das raças na liberdade”. Enquanto não alcançarmos esse objetivo, não teremos uma democracia racial e, tampouco, uma democracia. Por um paradoxo da história, o “negro” converteu-se, em nossa era, na pedra de toque da nossa capacidade de forjar nos trópicos este suporte da civilização moderna.

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