Diz o dito popular que o cachimbo deixa a boca torta. Pois
bem, esta foi a expressão que julguei mais adequada ao ler o documento “De Olho
nas Metas 2012 - Quinto relatório de monitoramento das 5 Metas do Todos Pela
Educação”.
A organização não governamental denominada Todos pela
Educação (TPE) é uma articulação empresarial interessada em influenciar os
governos na linha que estes seguirão em matéria educacional.
Muitos dos seus ideólogos já influenciaram muito o governo federal
em carnavais passados e ainda orientam a política de importantes governos estaduais
e municipais (especialmente Estado de São Paulo, Minas Gerais e Prefeitura do
Rio de Janeiro). Ou seja, em matéria educacional não são nem novidade nem
progressistas, muito pelo contrário. Porém, devemos reconhecer que são muito
eficientes para produzir propostas com aparência de novidade, possuem uma
impecável articulação com a mídia e funcionam como uma azeitada empresa de
lobby.
O que me chamou a atenção foi o descompasso de parte do
documento com tudo que consome os educadores e gestores desde a realização da
CONAE: a necessidade de elevar o percentual de recursos públicos diretos para a
educação na próxima década.
A Meta 05 deste Movimento é descrita da seguinte forma: Investimento
em Educação ampliado e bem gerido Até 2010, mantendo-se até 2022, o
investimento público em Educação Básica deverá ser de 5% ou mais do PIB”.
Na página o documento afirma que “quando considerada apenas
a Educação Básica, o investimento em 2010 representou 4,3% do PIB, valor abaixo
da Meta 5 do Todos Pela Educação, que era de 5% ou mais a partir de 2010, assim
se mantendo até 2022”.
Algumas observações sobre esta esclarecedora afirmação:
1.
O documento utiliza dados de 2010 e constata que
a educação básica representava 4,3% do PIB, mas que para cumprir as metas de
melhoria da qualidade educacional basta que este patamar tivesse chegado a 5%
em 2010 e se mantivesse assim por diante até 2022. Ou seja, para resolver os
problemas enormes de acesso, permanência e sucesso escolar presentes na
educação básica basta que se acresça 0,7% do PIB de investimentos diretos.
2.
A premissa desta conclusão deve ser buscada um
pouco atrás na história educacional brasileira, bastando ler entrevistas
concedidas pelo ex-ministro Paulo Renato Souza, o qual defendia ardorosamente
que recursos educacionais já eram suficientes, o problema todo era de
redistribuição mais justa e principalmente de gerência mais competente. O fundo
teórico do texto é uma ideia antiga na política educacional brasileira.
3.
Resolvi fazer alguns testes com esta ideia.
Vejamos o seguinte:
a.
A taxa de crescimento nos últimos a última
década (um ano de FHC e oito de Lula e um de Dilma) dos investimentos em
educação básica foi de apenas 0,12% do PIB ao ano. Apesar deste irrisório
crescimento a meta do Todos Pela educação, sem que sejam feitos esforços
adicionais relevantes, será alcançada em 2017.
b.
A sociedade civil (exceto a parcela que se
aglutina em torno do TPE) pressionou os deputados federais e conseguiu aprovar
10% do PIB para educação até 2020. O texto foi aprovado na Câmara e corre risco
de ser revisto pra baixo no Senado. Mantendo a mesma proporção de participação
atual da educação básica nos recursos investidos (83%) já em 2013 ultrapassaremos
os 5% e fecharemos 2020 com 8,3% do PIB na educação básica.
4.
Ao revisitar uma ideia defasada o TPE contribui de maneira direta para o
reforço das manobras governamentais para derrubar o percentual aprovado na
Câmara dos Deputados.
5.
E mais, o documento ainda apresenta comparações
mal elaboradas, como a que afirma que o gasto com os alunos do ensino superior
no Brasil estão próximos da média dos países europeus e, portanto, não
necessitamos crescer os gastos neste nível de ensino. A comparação com países
desenvolvidos deve ser feita com parcimônia, pelo menos por que:
a.
O Brasil possui milhões de alunos fora da escola
e precisa investir recursos para construir escolas e equipá-las, coisa que foi
feita em décadas passadas pelos europeus citados;
b.
O Brasil precisará formar em nível superior
milhares de professores e garantir a formação continuada para dois milhões de
trabalhadores já em exercício. Além disso, estes professores recebem hoje 62%
do que outros profissionais de igual formação recebem e isso terá que ser
resolvido;
c.
A maioria das escolas das regiões Norte e
nordeste está muito abaixo de qualquer padrão aceitável de oferta de ensino e
teremos que investir recursos para erguê-las até um patamar mínimo de
qualidade;
d.
Menos de 15% dos jovens entre 18 e 24 anos
frequentam um curso superior e mais de 80% são privados e precisaremos elevar
este percentual e isto significa abrir novos cursos em todas as regiões do
país.
Por isso afirmei no título que o documento peca por não
perceber que anos defendendo a tese de que não seriam necessários mais recursos
para a educação deve ter deixado a boca dos ideólogos do TPE com a boca torta e
em total descompasso com o pensamento educacional brasileiro.
Um comentário:
Quanto ao ítem "b" Luis, gostaria de lembrar que os cursos de formação em nível superior, que são ofertados atualmente via "Parfores" da vida são de péssima qualidade. Conheço muitos professores que obtém a graduação através de terceiros que fazem seus artigos, tcc, monografia, etc. Os caras não sabem nada. Para piorar aqui no Pará a Ufopa, espécie de universidade Frankstein, que se formou a partir de um campus provisório da Ufpª em Santarém, está "formando" professores 2 em 1, que se quer vão dar conta de apenas uma formação específica.Quero ver eles passarem em um concurso concorrendo com quem fez um bacharelado e licenciatura em cinco anos em uma ciência específica, quem vai levar a melhor? Fácil saber, não é? É cada absurdo na educação nacional que só faz com que ela ande para trás.
Luis já passou da hora de se dar mais autonomia para o Professor poder atuar mais eficientemente, esse sistema escolar está falido. O professor deveria trabalhar com um número de turmas reduzido ser valorizado a altura, e os alunos do mesmo seriam avaliados por uma instituição governamental validando ou não a aprendizagem dos alunos. Acho que uma escola hoje deveria ser pensada organicamente somente com alunos e professores, espaço escolar adequado e pessoal de apoio estritamente necessário como bibliotecários, serventes e porteiros somente, com o restante se gasta a toa, sem necessidade nehuma.
Queria também comentar sobre as perdas de royalties do Rio de Janeiro e outros estados, achei bem feito pra esse tal Governador Sérgio Cabral, pra que ele quer 1 bilhão se ele se quer se preocupa em melhorar a decadente educação pública do RJ? então, a verba tem que ser redistribuída para todos. Parem de choramingar governadores incompetentes e vão trabalhar, isso sim!
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