segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Pós-graduação X educação básica

No último dia 5, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação promoveu uma audiência pública com o seguinte tema: Contribuições das pesquisas de pós-graduação para a melhoria da qualidade da Educação Básica.

Fizeram parte da mesa de debates o conselheiro José Fernandes Lima, a professora Alice Ribeiro Casimiro Lopes (UERJ), vice-coordenadora do Fórum Nacional de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação da ANPEd e João Teatini, da Diretoria de Educação Básica presencial da CAPES.

Foram feitas exposições pelos membros da mesa e depois aberto um período de debate dos participantes, na sua maioria composta de gestores estaduais e municipais, membros de conselhos estaduais de educação e representantes de entidades de pesquisa educacional.

O debate se desenvolveu em duas direções. A primeira, estimulada pela exposição do conselheiro Lima e pela fala da professora Alice Lopes, foi refletir sobre a relação que existe (ou que deveria existir) entre os 97 programas de pós-graduação em educação e a educação básica em nosso país. A segunda, estimulada peã fala do representante da CAPES, foi sobre o desafio da formação dos professores da educação básica.

Algumas questões abordadas eu considero mais relevantes.

1ª. A área de pós-graduação brasileira tem sido considerada de excelência, mas o mesmo não se pode falar do desempenho da educação básica. Há, obviamente, um processo de elitização do acesso educacional, funil que vai se estreitando até chegar no último degrau (a pós). Isso se reflete no valor por aluno investido em cada etapa da escolarização, por exemplo.

2ª. A representante dos coordenadores de pós-graduação fez questão de combater uma visão utilitarista da pesquisa educacional pelas escolas e redes, como se na academia se produzisse manuais para solucionar os problemas candentes das redes escolares. Isso é verdade, mas faltou acrescentar que há uma circulação ainda restrita sobre os estudos feitos sobre a realidade escolar, ou pelo menos, há ainda uma distância entre o que as pesquisas indicam e a incidência destas conclusões na alteração do cotidiano escolar ou da rede.

3ª. Um exemplo desta dicotomia é a formação dos professores. É verdade que avançamos muito nos últimos anos, especialmente com o lançamento da plataforma freire, mas ainda nossos professores continuam saindo das universidades com formação distante do que as redes públicas consideram importante como formação inicial. Além disso, uma boa quantidade dos professores conseguiu acessar cursos de especialização nos últimos anos, mas a qualidade destes tem sido questionada pelas redes. O controle da CAPES é muito bom quando falamos de mestrado e doutorado, mas proliferou uma verdadeira indústria de especializações.

De qualquer forma, queria louvar a iniciativa do CNE em promover debates sobre temas relevantes da área educacional. O próximo debate será sobre avaliação, no dia 30 de agosto.

4 comentários:

Alcy Maihoní disse...

É sempre pertinente iniciativas como esta, a promoção destes debates na área educacional, mas penso que o Conselho Nacional de Educação deveria divulgar mais abertamente os pareceres destes encontros e encaminhar aos municípios, melhor dizendo aos CMEDs, muitos tópicos relevantes levantados nestas reuniões seriam amplamente e melhor discutidos. O diagnostico da realidade escolar é por demais complexas, não tem como evitar, mas se tivermos nestas pesquisas uma base sólida, concisa vinda diretamente deste Conselho talveis possamos minimizar estas alterações e consequentemente os dados apurados de maneira objetiva e assim estaremos próximos da realidade. (uniaodanon.blogspot.com).

S.O.S. Educação Pública disse...

Esse debate é fundamental, pois precisamos com urgência, desenvolver projetos educacionais, compatíveis com a nossa cultura e realidade.
A cópia e a implantação de modelos estrangeiros, até o presente momento, em nada contribuiu para a solução dos nossos problemas.
É impossível desenvolver a autonomia do educando, quando a própria nação não tem essa capacidade, não por falta de profissionais qualificados, mas pela obtusidade das nossas autoridades, que insistem em ignorar a capacidade de seus educadores.

Anônimo disse...

É de se questionar mesmo essa proliferação de especializações. Sou cursista de Mídias na Educação (Eproinfo). Porém, o tratamento que é dispensado aos alunos está longe da qualidade desejada. Terminamos a Extensão, certificado nada. Terminamos o aperfeiçoamento, certificado nada e conclusão com a especialização, ainda não iniciou.Fomos participar de aula inaugural, etc., com promessa de recebermos passagem e estadia, levamos calote até hoje. Enquanto isso secretários de educação e seus apaninguados viajam a vontade prá lá e prá cá, recebendo diárias gastando recursos sem controle, e melhorias que é bom na educação, nada!!!!

Algum tempo atrás (2008) fizemos um treinamento sobre Linux voltado para a Educação Básica, 40 horas e 100 horas na sala de informática da escola e até hoje não recebemos o certificado comprobatório.

No entanto, outro dia esteve aqui no município, um navio do Governo do Estado e Marinha, promovendo um monte de cursos de 1 dia (politicagem), e todos receberam certificados. Enquanto nós professores da rede pública, somos tratados com descaso e redução de salário constantemente, e, quando atrasa não recebemos o devido.

Mandei um projeto à SEDUC-PA para trabalhar com alunos do 1º, 2º e 3º ano do Médio, até hoje o projeto protocolado se encontra em análise. No entanto, o governo quer distribuir notebooks para os alunos, mesmo muitos sem saberem o que é exatamente um computador. Os professores em sala de aula vão ter mais dor de cabeça.

Vou enviar outro projeto, agora, à SEMED do municipio que atuo, para trabalhar com roda de leituras e dramatização, e também utilização de mídias disponíveis na escola com turmas de EJA 3ª e 4ª etapas, numa tentativa de combater a forte evasão. Quero ver qual vai ser a desculpa por não aprovarem os projetos.

P.S. Minha conta no Google não está sendo aceita por problemas de conexão.

Emanuel M. - Professor de Geografia - Cursista de Mídias na Educação - Eproinfo

Lara Rezende disse...

Pois é, não há limites para a educação, e vários estudos do pessoal da pós buscam sim, de forma significativa refletir na educação básica, mesmo que de forma singela. E esses debates estimulam cada vez mais a educação básica, para que essa tenha uma alavanca no ensino brasíleiro.