segunda-feira, 8 de junho de 2009

Perfil dos professores brasileiros

Neste dias o INEP divulgou uma publicação denominada “Estudo exploratório sobre o professor brasileiro”. O documento foi elaborado tendo por base os dados coletados pelo novo modelo do Censo Escolar, no caso, relativos a 2007.

É bom lembrar que na década passada se promoveu um censo específico para conhecer o perfil dos professores, mas foi pouco eficaz. E o próprio documento nos lembra que até o ano de 2006, o Censo Escolar era baseado no preenchimento de formulário que tinha por unidade básica de informação a escola. Isso provocava distorções em relação ao perfil dos professores.

A partir de 2007, com o sistema Educacenso, o levantamento de dados passou a ser feito de forma individualizada – por alunos, professores, escolas e turmas – mediante a organização de cadastros específicos de informações, antes inexistentes, sobre cada uma dessas unidades de coleta.

Apresento uma pequena contribuição para que os leitores deste blog se estimulem a ler o texto completo.

Perfil dos professores

Em relação ao recorte de sexo os dados sistematizados demonstram que nas “creches, na pré-escola e nos anos iniciais do ensino fundamental, o universo docente é predominantemente feminino (98%, 96% e 91%, respectivamente)”. Mas, quanto mais a faixa etária das crianças cresce, também cresce o número de professores do sexo masculino. A participação dos homens representa 8,8% nos anos iniciais do ensino fundamental, passa para 25,6% nos anos finais e chega a 35,6% no ensino médio.
No geral, considerando o conjunto da educação básica, 81,6% dos professores que estavam em regência de classe são mulheres e somam mais de um milhão e meio de docentes (1.542.925).

Levando em consideração a cor e a raça dos professores o estudo mostra que “entre os docentes, a mesma diversidade existente na população brasileira, ainda que tenha havido, no levantamento de 2007, alta proporção de docentes de raça/cor não-declarada”.

Na Região Sudeste há 50,5% de professores brancos, nas Regiões Norte e Nordeste há apenas 7,6% e 12%, respectivamente, de profissionais com essa característica.
O interessante é que nas 2.550 escolas que oferecem educação indígena, onde atuam 10.296 professores, 3.357 são indígenas, ou seja, um terço do total. E, infelizmente, nas 1.253 escolas localizadas em áreas remanescentes de quilombos, onde lecionam 6.302 docentes, somente 5,8% declararam-se pretos e 66,5% não declararam a raça/cor de que fazem parte.

Atuação

Um dos dados mais significativos captados pelo Censo Escolar de 2007 foi a identificação do número de escolas em que o professor atua, onde predomina o docente que trabalha em uma única escola. “São 1.522.971 professores nessa condição, que correspondem a 80,9% do total, seguido de uma parcela menor de professores (301.183) que atua em duas escolas (16%)”, afirma o documento.

No que se refere à localização do estabelecimento, urbana ou rural, observa-se que 83% dos professores trabalham em escolas urbanas, 15% em escolas rurais e 2% atuam tanto na área rural quanto na urbana.


Formação

Um dos assuntos mais importantes é a verificação do perfil da formação dos professores. O Censo atestou um total de 1.288.688 docentes com nível superior completo, que correspondem a 68,4% do total. Daqueles com graduação, 1.160.811 (90%) possuem licenciatura plena. Os professores conhecidos como leigos, por não possuir a formação legal mínima, ainda representam um contingente de 119.323 docentes (6,3%), distribuídos em todo o País, tanto nas zonas urbanas quanto nas rurais, atendendo a alunos de todas as redes de ensino.

A situação mais delicada foi detectada no atendimento em creches. Nelas “atuam 95.643 professores, 82,2% dos quais têm a formação requerida pela atual legislação para o exercício do magistério: 45% apresentam o magistério na modalidade Normal e 37,2% possuem nível superior com licenciatura”. Ainda temos 4,9% que possuem nível superior sem licenciatura, 9,9% nível médio e 3,0% nível fundamental, “o que representa, em relação às outras etapas de ensino, o percentual mais elevado de professores sem formação ou habilitação legal para o exercício da docência”. Além disso, dentre os docentes desta etapa de ensino, apenas 11,8% possuem curso específico de formação continuada para atuar em creche.

Na pré-escola temos 240.543 docentes da pré-escola, 86,9% possuem a formação exigida pela LDB, sendo 45,5 % com escolaridade superior e licenciatura e 41,3 % com o curso Normal ou Magistério.

Nos anos iniciais do ensino fundamental foi encontrado um número de 685.025 professores que lecionam em turmas de 1ª a 4ª série ou do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Destes, 54,9% têm curso superior com licenciatura e 32,3% Normal ou Magistério, perfazendo 597.889 docentes (87,3%) com a formação mínima exigida por lei para lecionar nessas séries. Já nos anos finais do ensino fundamental, onde existem 540.496 professores com licenciatura em nível superior, que representam 73,4% do total geral desta fase (736.502) e correspondem ao conjunto com a escolaridade exigida para lecionar nessas séries (5ª a 8ª) ou anos (6º ao 9º) do ensino fundamental.

No nível médio, numa visão geral, o professor apresenta a escolaridade mínima exigida pela atual legislação educacional, pois 360.577 professores têm curso superior com licenciatura, o que equivale a 87,0% do total. Dentre os outros, 6,4% (53.978) possuem nível superior sem licenciatura e 6,6% têm nível médio ou, apenas, fundamental.

Conclusão

O documento conclui que o professor “típico” em nosso país é “do sexo feminino, de nacionalidade brasileira e tem 30 anos de idade, a raça/cor é não-declarada, possui escolaridade de nível superior (com licenciatura) e sua área de formação é Pedagogia ou Ciência da Educação. Leciona, predominantemente, a disciplina Língua/Literatura Portuguesa, trabalha em apenas uma escola, de localização urbana, e é responsável por uma turma com 35 alunos em média”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Luiz Primeiro, uma observação sobre o movimento do blog. Parece que muitos entram nele, outros muitos lêem alguma coisa mas poucos dialogam, poucos comentam suas observações, que são tão preciosas. Por que será ?
Mas eu insisto em participar. Essas notícias sobre os professores estão muito estranhas. O dado que mais me chocou e que contrasta com minha experiência e observação é o de que mais de 80% dos professores trabalham somente em uma escola. Não concordo. Pelo menos nas cidades com mais de 50 mil habitantes (onde estão mais de 70% dos professores do Brasil), a maioria da galera trabalha em escola estadual + municipal; em escola pública + particular; e na escola e em outro emprego.Como será que a pergunta foi formulada ? Há também com frequência casos de duplo emprego na mesma escola, cujos resultados para a professora e para os alunos são nefastos. Outra coisa que não entendi foram as baixíssimas percentagens de brancos(as) no Norte e Nordeste. Penso que a cor dos mestres acompanha a estrutura da população em geral, com algumas exceções. Mas o que mais me chamou a atenção foi a discriminação dos professores formados em nível médio. Em geral, o pessoal diplomado (não sei se formado) em nível superior nos últimos anos, que está em exercício, tem menos habilidades docentes que as formadas em nível médio Normal. Ou seja, o que a gente precisaria pesquisar era a adequação ou não das propostas formativas ao desafio do magistério público atual. Estou impressionado com o número baixíssimo de pedagogos e pedagogas habilitados(as) em Faculdades de Educação TOP (tipo Unicamp, USP, UNB, UFRJ, UFMG, etc) que se trabalham nos anos iniciais de ensino fundamental nas escolas públicas. Ora, se os maiores desafios estão ali, qual é o locus de formação mais adequado e com maior retorno social ? Estou muito afim de trocar umas idéias com professores de cursos normais de nível médio que ainda subsistem por aí...João Monlevade monlevad@senado.gov.br