segunda-feira, 13 de junho de 2016

O ódio de lá é o mesmo disseminado aqui

Infelizmente as pessoas aprendem mais com a dor do que de outras formas. E temos muito que refletir e aprender com o massacre ocorrido na boate na cidade de Orlando, especialmente por que não é um acontecimento distante, como tentarei discutir.
Em primeiro lugar, foi um ataque homofóbico. O ódio e o preconceito, disseminados nos EUA e aqui no Brasil, são tão responsáveis pela morte de mais de 50 pessoas em Orlando quanto o homem que puxou o gatilho. Da mesma forma, quem dissemina o preconceito e a cultura do ódio no Brasil, é cúmplice e também responsável pelos assassinatos de gays, lésbicas e travestis em nosso país. A única diferença é que aqui morrem um pouco a cada dia, especialmente nas periferias das grandes cidades, muitos fazendo parte da parcela invisibilizada pela mídia no Brasil.
E o que tudo isso tem a ver com o debate educacional que fazemos hoje no Brasil? Muito, mas muito mesmo. A cultura do ódio, o preconceito, o racismo e a homofobia precisam ser combatidos em todos os terrenos da sociedade. A escola é um dos espaços mais importantes desta batalha civilizatória. Não é somente na escola que aprendemos como proceder na vida, mas certamente uma criança brasileira passa boa parte do seu dia convivendo com o espaço escolar e, esperamos nós cada vez mais, durante muitos anos de sua vida.
Vivemos tempos de ofensiva conservadora na sociedade. Derivado disso prolifera ações contrárias a que a escola discuta a realidade do país (escola sem partido e sem debate), movimentos contrários a debate sobre gênero (nossos filhos devem ser todos anjos assexuados para estes senhores!), criminalização de qualquer debate sobre orientação sexual nas escolas e muito mais. A ofensiva conservadora também é responsável pelas mortes de homossexuais, mesmo que nem todos puxem o gatilho das armas, mas impedem que se previna a disseminação do ódio.
Não acredito que podemos jogar nas costas das escolas toda a responsabilidade para resolver o problema do preconceito, do ódio, do racismo, da homofobia e do machismo. É muita responsabilidade. Mas, na melhor das hipóteses, devemos desenvolver políticas que ajudem nesta batalha.
Nós professores, em todas as etapas e modalidades que lecionamos, temos enorme responsabilidade sobre as bases civilizatórias que as futuras gerações crescerão.
É responsável também (e com grande dose) quando um governo federal se omite sobre o problema, cede a pressões de setores evangélicos conservadores (nem todos evangélicos são homofóbicos como alguns dos seus líderes), quando minimiza a importância do debate de gênero para não perder base de apoio parlamentar. Não vou nem falar do atual ilegítimo governo que extinguiu secretarias importantes para este trabalho, colocou uma deputada acusada de corrupção e conservadora no comando da pasta da secretaria das mulheres e acaba de colocar no ar a primeira propagando sob o slogan de ordem e progresso (já assistimos esse filme durante 21 anos!), tendo como eixo a indisciplina dos alunos, eleito pelo ministério como o problema mais relevante para debater no momento (inspirado na produção teórica de fundações privadas que querem ditar o que devemos ensinar nas escolas, esses sim os verdadeiros partidos que influenciam a educação em nosso país).
Vamos aproveitar o acontecimento triste de absurdo deste final de semana em Orlando para mobilizar todas e todos contra a cultura do ódio e tornar a escola um espaço privilegiado deste combate.


Um comentário:

Josiel disse...

Interessante, não vi nenhuma crítica aos verdadeiros criminosos. Pessoas que seguem uma religião que em nome de Deus matam a qualquer um que não professam sua fé. Por que será que esse pessoal de partidos de esquerda fecham os olhos para esses religiosos criminosos?