terça-feira, 16 de julho de 2013

Efeito colateral


Desde a I CONAE que está sendo travado caloroso debate sobre quanto de recursos públicos são necessários para viabilizar um Plano Nacional de Educação digno do nome. Ou seja, qual o patamar de recursos públicos investidos na rede pública são necessários para enfrentar o déficit de acesso, os baixos índices de qualidade e a desvalorização crônica dos educadores.

Recentemente, no debate sobre a destinação dos royalties, ficou claro que há uma distância entre o discurso e a prática do governo e do parlamento. De um lado, o discurso afirma que são necessários mais recursos e que destinar 50% dos dividendos dos recursos depositados no Fundo Social são suficientes para cumprir as metas constantes do PNE. De outro, quando a Câmara resolve garantir que o recurso destinado à educação seja 50% do montante (e não dos dividendos) do Fundo Social há intensa mobilização governamental para evitar destinação de mais recursos.

Ontem recebi uma informação que confirma a manutenção da mesma filosofia conservadora sobre recursos educacionais vigente desde a era Paulo Renato. Documento inserido no site do Tesouro Nacional sob o título “É possível atingir as metas para a educação sem aumentar os gastos? Uma análise para os municípios brasileiros” (http://migre.me/fuK7Z), é possível ler um arrazoado que acreditava ter sido arquivado por dez anos de governo petista.

Qual a conclusão dos notáveis econometristas autores do referido documento? Que o dinheiro existente no conjunto dos municípios brasileiros é suficiente para cumprir as metas do IDEB para 2021, pois o que atrapalha é o “desperdício” de recursos.

Afirmam que:

Os resultados indicam que o desperdício de recursos é expressivo para qualquer agrupamento de municípios definido pelo tamanho da população. Para o conjunto dos municípios o desperdício representa 47,3% e 40,1% do total dos gastos efetivamente realizados quando são assumidas as hipótese de retornos constantes e variáveis de escala, respectivamente.

O gasto efetivamente realizado é muito maior do que o gasto mínimo necessário para atingir as metas. Mesmo quando são feitas simulações a partir do estabelecimento de metas mais duras, fica claro que a restrição não é a escassez de recursos.

 

Que maravilha... após a leitura deste documento fiquei pensando no desperdício de tempo e dinheiro que o parlamento brasileiro está fazendo desde dezembro de 2010, tempo em que se discute o novo plano nacional da educação para o próximo decênio.

Fiquei pensando nas escolas do norte e nordeste, lá do interior do Maranhão, sem bibliotecas, sem laboratórios, sem quadras, muitas vezes sem professor.

Fiquei pensando nos milhares de professores que não recebem nem o piso salarial nacional do magistério.

É lógico que há “desperdício”, caso desvio de recursos possam ser contabilizados enquanto tal. E a impunidade ainda campeia em nossas terras.

Porém, a continuidade da política econômica conservadora, primeiro e único pacto anunciado de fato e de direito pela Presidenta Dilma diante dos protestos de junho, tem como efeito colateral a permanência e reedição das ideias que lhe dão sustentação. Não é possível fazer políticas conservadoras e pensar de forma progressista.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse desperdício sempre vem preocupando muitos comprometidos com uma educação de qualidade no Brasil inteiro. É mais do que claro que esse modelo administrativo educacional brasileiro é corrupto e ultrapassado. A maior parte dos recursos são roubados na “cara dura”, e não se faz nada. Em minha opinião, todas as secretarias estaduais e municipais de educação devem ser urgentemente extintas, só de uma canetada e todo o pessoal delas ir pro olho da rua. As escolas antes da decisão radical de abolir as famigeradas secretarias de educação, devem ser preparadas para gerir os recursos da educação diretamente, inclusive com autonomia para demitir e contratar pessoal. Essa preparação passa por uma readequação da direção das escolas e dos conselhos escolares que passarão a gerir os recursos com a participação direta dos interessados: alunos, pais, representantes da comunidade e trabalhadores da educação pública. Os desvios, caso ocorram, ficarão mais fáceis de serem descobertos e denunciados às autoridades locais, e, mesmo em esferas superiores, porque a vigilância será mais eficiente quanto à prestação dos recursos públicos da educação.Aliás, a punição contra os larápios já poderá partir da própria escola com demissão sem direito a nada, já que não somos celetistas e sim estatutários, e o elemento corrupto ainda poderá responder por crime hediondo. Se o PNE não propor mudanças radicais para combater os “desperdícios” estará fadado a mais um “sonho de Ícaro”.