A principal contribuição do governo federal para a
manutenção da educação básica em nosso país não está ancorada em programas de
alimentação ou transporte, muito menos no gasto com distribuição de livros
didáticos. E, obviamente, não são os 54 milhões desperdiçados nas chamadas
escolas cívico-militares.
Desde 2007 que o governo federal é obrigado por força
constitucional a complementar com 10% do montante bloqueado dos estados e
municípios pelo Fundeb. Este recurso está salvo, por força legal, de cortes
orçamentários e representou um desembolso de 15 bilhões no ano passado. E é
fundamental para elevar o valor por aluno disponível em nove estados,
especialmente faz enorme diferença no Pará e no Maranhão, estados que possuem
os valores mais baixos, caso disponham apenas com recursos educacionais
próprios.
Pois bem, o Fundeb perde sua validade no dia 31 de dezembro
de 2020 e no seu primeiro ano de gestão, o senhor Weintraub fez de conta que
não era uma demanda importante, não apresentou nenhum estudo consistente e nem
enviou nenhuma proposta do novo governo para o Congresso Nacional. Apenas um
oficio assinado pela sua assessoria parlamentar, dando alguns pitacos sobre uma
minuta de substitutivo em debate na Câmara dos Deputados.
Para não ser injusto, às vésperas do início da tramitação
das 3 Propostas de Emendas Constitucionais que mexem com o pacto federativo,
uma das minutas que circulou nos corredores do Congresso Nacional propunha
adiar por um ano a vigência da Emenda Constitucional nº 53, jogando para
adiante a decisão sobre mudanças no formato do fundo e desconsiderando todo o
debate do parlamento e todas as contribuições feitas pelos gestores estaduais e
municipais, pesquisadores e entidades da sociedade civil brasileira. Depois,
por encanto, essa proposta foi retirada.
Agora, depois de ser questionado pela ausência de proposta,
o ministro decidiu gravar um vídeo na sua conta pessoal do twiter para afirmar
que vai enviar uma Proposta de Emenda redigida pelo governo. Aproveitou também
para chamar de demagogos todos os que ajudaram a construir o substitutivo
apresentado pela deputada Dorinha e o texto apresentado por duas dezenas de
senadores.
No referido vídeo diz que os que defendem elevar para 40% a
participação da União são os mesmos responsáveis pelo desequilíbrio fiscal do
país.
´Depois de um ano de omissão, o governo decidiu ser
irresponsável. Quer que todo o processo legislativo se reinicie, isso em um ano
em que o parlamento consegue quórum somente no primeiro semestre, por ser ano
eleitoral e numa matéria que precisa para ser aprovada de:
1. Uma votação de admissibilidade na CCJ da Câmara.
2. A tramitação e aprovação do texto em uma comissão
especial.
3. Duas votações com três quintos dos deputados na Câmara.
4. Tramitar nas Comissões do Senado Federal.
5. Duas votações com três quintos de votos dos senadores.
6. Possível retorno para nova votação na Câmara, caso os
senadores alterem parte do texto.
7. Aprovação de uma lei regulamentadora pelas duas Casas.
Tudo o que descrevo acima até 31 de dezembro de 2020.
Não conhecemos a proposta do governo, talvez nem o ministro
a conheça, pode ser que neste momento algum assessor esteja fazendo um curso
intensivo sobre o tema e redigindo às pressas o texto. Mas certamente será uma
proposta rebaixada em termos de destinação de recursos, diminuindo o impacto
benéfico para a melhoria da qualidade da educação brasileira que o texto em
debate na Câmara apresenta.
Considero que tudo isso é uma jogada para embaralhar o jogo
e forçar o Congresso Nacional a adiar o fundo atual sem nenhuma mudança, tudo
em nome do ajuste fiscal de Guedes/Bolsonaro. Jogada combinada.
Ahh, antes que me esqueça, considero subestimado o valor de
arrecadação prevista para o Fundeb para 2020. Considerando a atualização de
estimativa feita pelo governo em dezembro, a receita do fundo entre 2018 e
201º9 cresceu 10,6%. E agora o governo quer nos convencer que em 2020 a
variação será de apenas 4,2%.
Ou tem uma baita crise fiscal sendo escondida do povo
brasileiro ou o governo quer economizar nos valores de complementação e, no
final do ano, vai fazer o ajuste para os valores realmente esperados. Na
segunda hipótese (espero que seja a mais provável) estamos diante de um roubo
de recursos tão necessários para o cotidiano de milhões de alunos localizados
nos estados contemplados com a ajuda federal (Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí,
Ceará, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia).
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