segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Uma Conferência Nacional de Educação em novo contexto

Várias mudanças políticas foram provocadas pela queda de um jato particular na cidade de Santos. Tal afirmação é “chover no molhado” dirão alguns leitores, posto que o resultado das eleições presidenciais se tornou imprevisível após a morte de Eduardo Campos, que patinava em terceiro lugar e nada apontava para mudança deste patamar e a fulminante ascensão de sua substituta, a ex-senadora Marina silva, nas pesquisas.
Mas hoje quero falar de um dos efeitos colaterais deste acontecimento que ainda não foi comentado. No início do ano deveria ter sido realizada a II Conferência Nacional de Educação. A mesma deveria ter ocorrido às vésperas das votações decisivas do novo Plano Nacional de Educação e para evitar forte pressão da sociedade civil sobre o parlamento, o governo federal operou para adiá-la. E a data, escolhida por motivos eleitorais evidentes, ficou para depois do pleito presidencial, esvaziando a sua importância.
Bem, o plano foi aprovado e várias mudanças pretendidas pelo governo foram aceitas pelo parlamento, recuando em conquistas anteriormente arrancadas pela sociedade civil.
Acontece que o cenário tranquilo de continuidade do atual governo, em uma repetição da disputa vivenciada nas eleições passadas se alterou completamente. E, como escrevi em post anterior (http://migre.me/lr7xz), o eixo dos programas eleitorais e debates nas TVs passou a ser sobre o quanto os candidatos são confiáveis ao mercado, sobre ajustes fiscais “necessários” e coisas do gênero.
A possibilidade de que a próxima Conae ganhe importância política que havia perdido após o seu adiamento é grande. Vejamos os motivos:
1.       Na hipótese de uma vitória de Dilma Rousseff, em um provável segundo turno disputado com a candidata Marina Silva dependerá de sua capacidade de convencer o eleitorado ser mais de esquerda do que realmente foi no governo. Terá que fazer concessões políticas aos movimentos sociais, muito dos quais estão migrando para a campanha da sucessora de Campos. Neste cenário, ao invés de ser mera ratificadora dos programas do atual governo, o espaço da conferência pode arrancar mais e melhores compromissos políticos para o próximo mandato da atual gestora.
2.       Na hipótese de uma vitória de Marina Silva, cenário apontado pelos analistas como o mais provável faltando 30 dias para o pleito, a Conferência se tornará o primeiro espaço de participação da sociedade civil e certamente será um forte elemento de pressão por manutenção de programas e aprofundamento de questões não resolvidas pelo último governo. A depender dos compromissos assumidos pela candidata para viabilizar suas eleições, especialmente no que diz respeito a ajustes fiscais, áreas fortes de tensão virão à tona antes mesmo da posse do novo governo.
3.       Na hipótese cada vez mais remota, de ser Aécio Neves o eleito, também teríamos um espaço privilegiado da sociedade civil tentando evitar inevitáveis retrocessos e exigindo avanços arduamente consignados no Plano Nacional de Educação.
Em todos os cenários mais prováveis a importância da Conferência será outra, por que o resultado das eleições, qualquer que seja, tornará mais aberta a conjuntura educacional para o próximo período. E este desafio se evidencia no peso que os anúncios de ajustes fiscais ganham força nos discursos eleitorais.
Ilustro estas afirmações com um fato que passou despercebido. Quando a polarização ainda era entre Dilma e Aécio, o tucano afirmou em sua propaganda que faria um governo para as pessoas e que conseguiria isso diminuindo gastos públicos com a máquina federal. No dia seguinte os editoriais mais conservadores cobraram dele coerência no discurso e afirmaram que a única forma de “ajustar a economia” seria cortes nos programas sociais, o que é contraditório com discurso de “gastar mais com as pessoas”.

Quanto mais independente for a postura das entidades da sociedade civil, mais força terão para atuar em qualquer um dos cenários mais prováveis neste momento das eleições. De qualquer forma, como diria a professora Lisete Arelaro, a CONAE será mais animadinha.

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