quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Público e privado nas eleições presidenciais

Todos nós temos assistido o quanto as fronteiras entre educação pública e privada estão dissolvidas. E o debate presidencial, pelo menos no que diz respeito as três principais candidaturas, não permite nenhuma esperança de que tal hegemonia se reverta a curto prazo na política brasileira.
Este não é um debate novo, muito pelo contrário. Várias foram as batalhas que os defensores de uma escola pública de qualidade travaram na histórica republicana brasileira. Durante a tramitação do novo Plano Nacional de Educação este foi um dos temas presentes.
Felizmente, mesmo não conseguindo inscrever na Constituição de 1988 que as verbas públicas seriam destinadas exclusivamente para a educação pública, a conquista da vinculação de recursos, combinada com a forte pressão social por ampliação do acesso escolar, garantiu que a maior parte das matrículas fossem oferecidas pelo setor público. Podemos afirmar que, como regra, quanto maior presença pública em determinada etapa escolar, mais a participação privada ficou circunscrita ao chamado “direito de escolha”, ou seja, existem vagas públicas, mas um segmento social (ricos e classe média) optam por matricular seus filhos na rede privada, em parte por enxergar mais qualidade neste espaço, em parte por mantê-los convivendo com seu círculo social (de classe).
As etapas com baixa participação cobertura (educação infantil, ensino profissional e ensino superior) e, portanto, participação pública aquém do esperado, também são as áreas com maior presença privada. Em 2012, a participação privada em creche foi de 36,5% e na pré-escola foi de 24,7%, no ensino profissional era de 46% e no ensino superior chegou a 73,5%.
O governo tucano de FHC desregulou o ensino superior, o que permitiu a proliferação de cursos superiores privados e investiu no apoio financeiro público via subsídio na política de crédito educativo. Os três governos petistas, mesmo que tenham retomado a expansão da rede pública federal, especialmente no segundo mandato do Lula, também investiram na criação de condições para que o setor privado tivesse uma fatia considerável da oferta. Isto aconteceu via o Prouni (via isenções fiscais em troca de bolsas afirmativas), incremento financeiro no financiamento estudantil e, mais recentemente, instituindo bolsas para o ensino técnico em instituições privadas e financiamento subsidiado também para esta área.
Após ter perdido a votação da redação da Meta 20, o governo Dilma operou violentamente para incluir no percentual de 10% do PIB, todas as políticas de repasse de recursos para o setor privado.
Não consegui enxergar até o momento nenhuma inflexão no discurso e nem nos programas dos três principais candidatos sobre o tema. Pelo contrário. Há um esforço enorme para tranquilizar o “mercado” (este ser de difícil definição e que os candidatos tanto se preocupam em agradar), as bases da política econômica serão preservadas, seja qual for o eleito (ou eleita) no pleito. E há forte destaque para as “parcerias” com o mundo privado, inclusive na educação.
De um lado, Dilma colocou como carro chefe de seu discurso justamente o Pronatec, inflando os dados oficiais (coloca no mesmo balaio cursos de curtíssima duração junto com ensino técnico de dois ou três anos) e anunciando aprofundar o caminho atual.
De outro lado, Aécio se apresenta como aquele que pode reduzir a presença do Estado na economia, implantar a meritocracia no serviço público e chamar a iniciativa privada para gerenciar áreas onde o poder público é ineficiente. Este filme já vimos em Minas Gerais e o final é mais presença privada no ensino.
E a novidade chamada Marina? Os seus economistas (“homens de bem do tucanato”) defendem receituário idêntico aos dois descritos acima. E sua principal assessora para a área educacional, gerente de uma das principais ONGs empresariais do país, tem defendido durante toda a sua trajetória a presença privada sem fins lucrativos como suporte para a rede pública, no estilo que temos vivenciado pelo país afora.
Apesar de todos responderem que se empenharão no cumprimento do PNE e de sua Meta 20, fica claro que na área educacional, mesmo com matizes diferentes, a presença privada continuará sendo um dos eixos do crescimento da oferta educacional, especialmente para as etapas com menor cobertura.
Seria leviano afirmar que as três candidaturas são idênticas, mas que neste tema possuem muitas semelhanças, isto podemos dizer.


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