quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Jedi versus Sith?


Ontem os estudantes brasileiros voltaram a ocupar a Esplanada dos Ministérios. A mobilização denominada de Agosto Verde e Amarelo teve como eixo a defesa de 10% do PIB para a educação e 50% do Fundo Social do pré-sal para a Educação.

Além da manifestação de rua, que contou com a presença de muitos estudantes secundaristas de escolas de Brasília, também os estudantes participaram de audiência sobre novas fontes de recursos para a educação no Senado Federal e a direção da UNE e UBES seriam recebidas pela Presidenta Dilma.

Li atentamente a pauta de reivindicações que seria entregue a Presidenta. É um documento composto de 43 itens. Em relação à maioria deles eu tenho total concordância, mesmo que alguns pontos sejam contraditórios. Destaco aquilo que me unifica com a luta dos estudantes:

Destinação de 10% do PIB pra educação

Fim do superávit primário

Mudança da política econômica: menos juros, mais investimentos

Proibição do capital estrangeiro nas universidades privadas

Fim das fundações nas universidades públicas

Fico feliz com toda mobilização que acontece em defesa de mais recursos para a educação, seja promovida por centrais sindicais, organizações da sociedade civil ou estudantes.

Lendo a pauta da UNE/UBES e ouvindo os pronunciamentos de suas principais lideranças identifiquei uma contradição. Quase todos os líderes estudantis acreditam e apóia o governo atual, da mesma forma que empenharam apoio a Lula durante oito anos. E mais, acreditam que a manutenção da política econômica é fruto da pressão de “lobby do mal”, da influência que banqueiros nacionais e internacionais possuem sobre o governo. Ou seja, o atual governo estaria em permanente disputa, sendo tensionado em fazer ações a favor da maioria do povo e ações contrárias aos interesses populares.

Caberia ao movimento apoiá-lo e ao mesmo tempo trazê-lo para o lado do bem.

Não sei se a nova geração está muito influenciada pelo conceito embutido no filme Star Wars, que o herói está sempre sofrendo influência do bem e do mal. Seria Dilma uma governante que precisaria de uma forcinha para não ser levada para o lado das trevas? Seriam os estudantes nossos Jedis, prontos pra enfrentar os Siths e libertar Dilma desta má influência?

Bem, depois de ter jogado todas as energias militantes para garantir que a presidenta fosse eleita, acho razoável que tantos jovens busquem de forma sincera acreditar nesta explicação. A influência malévola do senhor das trevas deve ser uma boa explicação para que o governo decida privatizar os aeroportos e os Correios, decida aumentar o superávit primário, perdoar a dívida de desmatadores e piorar o código florestal. E deve ter tido real participação para que tantos ministros tenham se envolvido em atos de corrupção.

Sei que uma liderança estudantil chilena prestigiou o ato. Será que nossas lideranças não conseguem enxergar que no Chile, depois da ditadura de Pinochet e antes do conservador Pinera, houve governos do bloco Concertación, em tudo governos similares aos de Lula e Dilma, ou seja, eleitos pra mudar, mas que mantiveram tudo como estava antes?

Bem, mas se as forças das trevas atuam aqui, certamente influenciaram negativamente também governos ditos de esquerda pelas bandas chilenas.

Será?

2 comentários:

John Charles Torres disse...

Perfeita sua reflexão, professor Luis. A questão é saber até que ponto essas lideranças realmente acreditam nessa "disputa".

Vítor Lucena disse...

Ficou muito bom, Luiz. vou tomar a liberdade de amplamente divulgar.