Aconteceu no dia de hoje em um cruzamento do meu bairro. Na esquina, distribuindo panfletos promocionais, um adolescente negro. Cruzando a esquina, um carro cheio de adolescentes vestidos para a prática de futebol, todos felizes com a proximidade de uma manhã esportiva.
O adolescente negro lançou um olhar para o carro que passava. Foi um misto de raiva e inveja. Seu olhar resumia de forma nua e crua as desigualdades sociais que vitimam a juventude brasileira.
Pelos dados do IBGE aquele adolescente bem que poderia se enquadrar em todas ou em algumas das situações abaixo:
A maioria dos jovens brasileiros pobres não consegue pelo menos oito anos completos de escolaridade, sendo que uma das causas é a prematura necessidade de trabalhar, seja ajudando a família, seja em empregos informais;
Apenas 50% dos jovens brasileiros estão no ensino médio, sendo que este índice cai para 29,6% se for muito pobre e sobe para 78,5% se for rico;
A maioria dos analfabetos brasileiros é muito pobre. São 19% dentre os muito pobres e 20% dentre os muito pobres negros. O analfabetismo caiu progressivamente quanto mais sobe a renda do cidadão;
A maioria de nossos adolescentes que conseguem terminar a oitava série do ensino fundamental (atual novo ano) não consegue ler e escrever corretamente, nem domina as quatro operações da matemática. Este índice é maior entre os pobres e negros, dificultando suas chances de sucesso na vida e alijando-os dos melhores empregos; e
A possibilidade de aquele adolescente negro ingressar na universidade é 2.7 vezes menor do que a chance dos adolescentes brancos que caminhavam para mais uma manhã de lazer.
Esta desigualdade tem conseqüências graves para o futuro de nossa juventude. Talvez o adolescente negro de hoje de manhã supere estas dificuldades, continue estudando (caso esteja ainda na escola), consiga uma vaga no ensino médio, consiga um emprego que lhe garanta sobreviver, constitua uma família e seus filhos cresçam tendo acesso a bens materiais e imateriais em maior e melhor quantidade que seus pais.
A Conferência Nacional de Educação, que será realizada em abril, precisa discutir as medidas necessárias para tornar nosso país menos desigual.
3 comentários:
Luiz Araújo, muito bacana seu texto. Trabalha o cotidiano em uma abordagem de dados que não é cega para o racismo, como é comum vermos no Brasil.
Valeu e um abraço!
Luiz, bom dia.
Estamos tentando ajustar nosso Plano de Carreira à nova legislação federal.
Como nossa rede não tinha o 2º segmento e incorporou recentemente, precisamos incluir no nosso plano possibilidade de ter professores para esse segmento. Como posso ter no plano apenas um cargo de professor, fazer concurso específico para cada segmento ou disciplina e não incorrer em desvio de função ao movimentar os profissionais? Posso fazer concurso para professor com tratamento especial para cada segmento e ter mesmo assim um só cargo? Como fazer?
Obrigado
Nelson Neves Saraiva
Sec. Munic. de Educação, Esporte e Cultura de Santa Maria Madalena-RJ
nelsaraiva@uol.com.br
Excelente abordagem! Se mais pessoas fossem capazes de enxergar um cenas corriqueiras e rápidas como esta a verdadeira causa do racismo velado que nossa sociedade vive, talvez as coisas fossem diferentes. Repito, talvez...
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