quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ausência

Peço desculpas aos leitores deste espaço virtual pela ausência de vinte dias. Adoraria que a falta de postagens no blog tivesse sido motivada por férias (bem que necessito!).
Neste mês de maio foi instalada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os vínculos entre a organização criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira e agentes públicos e privados. E por dever profissional tenho me dedicado a assessoria do senador Randolfe Rodrigues (PSOL/AP) no seu trabalho investigativo.
Parte do meu trabalho é ler milhares de páginas das duas Operações da Polícia Federal (Vegas e Monte Carlo), ouvir gravações de membros da organização criminosa, ajudar na investigação dos vínculos desta quadrilha com parlamentares, governadores, procuradores e prefeitos. E buscar descobrir as empresas que se beneficiavam dos esquemas fraudulentos montados em vários estados.
Aparentemente não é um assunto que tenha ligação com os debates educacionais que meu blog busca acompanhar. Mas, refletindo de maneira mais profunda, acho que a CPMI tem tudo a ver com o debate educacional nacional.
1º. A atuação da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira não se circunscrevia apenas ao jogo ilegal e lavagem do dinheiro resultante desta atividade ilícita. Mesmo que só fosse isso já teríamos um prejuízo para a educação pelo não pagamento dos tributos correspondentes, pela evasão de divisas para os EUA e paraísos fiscais.
2º. Carlinhos Cachoeira montou uma rede de contatos e colaboradores na estrutura do Estado. É um exemplo (não é o único, apenas o que está em evidência no momento!) transparente de que os recursos públicos estão sendo desviados de forma descarada em nosso país. A participação explícita da sexta maior empreiteira do país (Delta Construções) mostra a magnitude do prejuízo. São informações sobre fraudes em licitação, direcionamento de obras e outros negócios escusos.
3º. A participação de parlamentares no organograma da quadrilha deixa qualquer cidadão indignado. Ler os diálogos entre agentes públicos e os membros desta organização é revoltante. Aqueles que foram eleitos pelo povo de uma cidade ou de um estado transformaram a delegação dada pela população em uma oportunidade de enriquecimento ilícito (há quem diga que não existe forma lícita de fazê-lo!). Como esta é apenas a quadrilha da vez (vide outras operações anteriores da PF direcionadas a outros conglomerados empresariais) não é exagero de que como brasileiro me sinto inseguro sobre as motivações que induzem este tipo de parlamentar a votar nos projetos que tramitam no Congresso Nacional.
4º. O envolvimento de governadores de pelo menos quatro estados é um acinte. Os mesmos que choram pelos cantos por não ter dinheiro para pagar o piso dos professores, para melhorar a saúde pública, garantir saneamento básico, etc., são os que aparecem nas gravações fazendo negociatas, jantando com empresários corruptos aqui ou em Paris, acertando negócios, fazendo e recebendo favores.
Deixar que esta CPMI termine em pizza, que os culpados sejam perdoados e que os recursos desviados não retornem aos cofres públicos é uma forma de atacar a educação de nosso país.
Fico feliz de poder contribuir um pouco para que isso não aconteça.

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