O estudo do Observatório da Equidade, analisando os resultados das PNADs de 2005 e 2007, atesta que nos dois anos houve apenas uma redução de 1,1% na taxa de analfabetismo.
A importância do estudo é alertar para a diferença entre o urbano e rural no analfabetismo brasileiro; enquanto apenas 7,6% dos maiores que 15 anos estão nesta situação nas cidades, este número salta para 23,3 no meio rural.
Também as regiões mais pobres sofrem mais com este fenômeno, pois o Nordeste possui 14,8% de analfabetismo na área urbana e o absurdo número de 33,8% na área rural, ou seja, um a cada três nordestinos que vivem na área rural são analfabetos.
Esta desigualdade tem cor, pois entre os brancos o analfabetismo é de apenas 6,1% e entre pretos e pardos este número alcança 14%.
E apresenta uma informação pouco divulgada pela imprensa e pelo governo: a UNESCO está considerando o Brasil como parte do grupo de países em situação de risco quanto ao analfabetismo absoluto.
E conclui que deve se esperar “que, com prioridade governamental e social, sejam solucionadas os persistentes problemas que obstaculizam a redução da maior das iniqüidades sociais do Brasil: o baixo envolvimento do setor público e de gestores educacionais, os altos índices de evasão, o baixo rendimento do processo de alfabetização, e a pequena continuidade em programas de EJA entre os alfabetizados”.
Esta mensagem tão clara tendo sido escrita por um órgão tão próximo do Presidente Lula deveria ter algum efeito na postura tímida do governo no enfrentamento de tão importante problema.
Um comentário:
João Monlevade falando.
Se queremos mesmo erradicar o analfabetismo (intenção de que duvido que muitos partilhem...)é fundamental entendermos a construção histórica tanto do contingente dos analfabetos como dos fracassos das campanhas para debelá-lo.
O que o Luiz apontou das prevalências (população rural, negra e regional) é fruto do modo de produção escravista, que exigia o analfabetismo como condição de produtividade do trabalho.
Mas o que mais me doi é a "burrice consentida" das políticas pretensamente abolicionistas do analfabetismo. Quer-se forçar a presença de adultos e jovens cansados de trabalhar - cansaço do dia ou cansaço da vida - em "aulas" de alfabetização no mais das vezes inadequadas à sua condição etária e cultural. Como o MOBRAL, as classes de alfabetização e EJA, com algumas exceções, resolvem o problema do(a) professor(a), dando-lhe alguns trocados. Mas não têm força para concorrer com as cores e luzes da TV (e do sofá...) ou com os apelos emotivos e gregários das igrejas.
O próprio fato de haver um corte de política entre a EJA e as iniciativas de alfabetização já denuncia a fraqueza de ambas. Para mim, só há um caminho: reunir os analfabetos como cidadãos e tirar deles as decisões para superarem sua situação. Coisa de Paulo Freire: tratá-los como sujeitos e não objetos da política. A outra solução - ocupar a TV aberta com um programa compulsório de alfabetização-eja das 8 às 9 da noite - é dose pra leão...
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