No sábado passado (23.05.09) o jornal Folha de São Paulo dedicou a seção Tendências/Debates para posicionamentos favoráveis e contrários a seguinte pergunta: O “novo Enem” democratiza o acesso ao ensino superior e induz melhorias no ensino médio?
De um lado, o professor Aloísio Teixeira (Instituto de Economia da UFRJ) discorrendo argumentos favoráveis. De outro, os professores Sandra Zákia e Ocimar Alavarse (Faculdade de Educação da USP).
Aloísio buscou inspiração no educador Anísio Teixeira e inicia constatando que nosso sistema de acesso ao ensino superior é excludente, mas insere a proposta de um novo Enem dentro das mudanças positivas que estariam sendo implementadas pelo governo federal. Para ele, o novo Enem é um ponto de partida para a revogação desse mecanismo perverso (vestibular), para a democratização do acesso e para a consolidação do caráter público das instituições de ensino superior.
Em dado momento o professor Aloísio afirma que estamos próximos da duplicação das vagas no sistema federal e que a soma de mais vagas, mais recursos, novos mecanismos e políticas ativas de assistência estudantil, tudo isso é parte de um rico processo de mudanças.
Os professores da USP respondem de forma negativa a pergunta formulada pela FSP e enumeram os argumentos:
1º. Estudos sobre perfil de ingressantes no ensino superior apontam para o fato de que o nível socioeconômico é uma variável com forte influência nas suas possibilidades de acesso. A proposta de novo Enem não consegue incidir sobre este fator;
2º. O atual Enem já aponta para disparidades de desempenho dos alunos entre as regiões mesmo quando controladas as variáveis socioeconômicas. Portanto, a possibilidade de escolha nacional dará mais chances aos que já as possuem;
3º A seletividade social sob a aparente seletividade técnica pode se intensificar ao favorecer o ingresso nas universidades públicas de alunos de maior poder aquisitivo e de regiões mais ricas;
4º. Minimizam a capacidade de influência do novo Enem no currículo do ensino médio Afirmam que a maioria das escolas públicas, diante da percepção dos alunos e dos professores de que possui poucas chances de ingresso no ensino superior não pautam o currículo pelo teor dos exames vestibulares.
É um debate que precisa ser aprofundado inclusive ouvindo aqueles que há anos pesquisam sobre o ensino médio e sobre acesso ao ensino superior.
Um comentário:
João concordando.
Realmente, é preciso pesquisar e refletir. De minha parte, já pesquisei e refleti 40 anos e não tenho dúvidas mais: o que é urgente, para democratizar o acesso à educação superior, é multiplicar as vagas gratuitas nas universidades federais e estaduais. Isso depende de políticas centrais (como o Reuni no governo federal) e de iniciativa de cada universidade.Nossos companheiros das universidades são demais acomodados. Se tivessem maior sensibilidade e vissem que 80% dos concluintes de ensino médio precisam trabalhar de 18 anos em diante, já teriam fechado muitos cursos diurnos e aberto noturnos com mais vagas. Dei aulas num curso de Pedagogia diurno que formava 100 alunos por ano. Quantos iam ser professor ? No máximo dez. Isso no DF, onde um professor começa a carreira com salário de R$ 3.500,00 e termina com R$ 8.000,00. Ou seja, a UnB teria que fechar o curso diurno e abrir uns cinco noturnos nas cidades satélites. Vocês não concordam ?
O ideal para democratizar o acesso, a meu ver, seria fazer uma série de Enens. Os que tivessem um aproveitamento básico que comprovasse seu preparo para estudos superiores (média 6, por exemplo)teriam livre acesso para um ciclo básico na universidade pública de sua região ou preferência. Ali ele seria orientado segundo as aptidões e desempenho nos estudos iniciais. Acontece que esta proposta "quebraria" as atuais instituições privadas de educação superior. Uma solução de transição seria limitar as vagas a 50% dos aptos pelo Enem, por sorteio, o que daria uns 500 mil alunos para as particulares por ano, além da demanda reprimida, hoje de 3 milhões de brasileiros, e dos que não tivessem se capacitado no Enem.
Não estou pensando alto. Estou antecipando uns pensamentos de meu próximo livro "A Universidade Não É Privilégio", que devo lançar em 2010, para perturbar um pouco a CONAE de abril. Abraços militantes, grande Luiz João
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