Um dos sintomas da esquizofrenia é que as ideias do paciente podem se tornar confusas,
desorganizadas ou desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de
compreender. Ao ler o PLP 257/2016
fiquei com a nítida impressão de que o governo surtou. Vejamos por que afirmo
isso:
1.
Acossado por um golpe institucional, pela
campanha milionária da FIESP e o apoio escancarado da grande mídia, o governo
tenta sobreviver. Nas últimas semanas, o despertar de uma consciência cívica e
democrática, da “minoria expressiva” citada no editorial da Folha de São Paulo,
mostrou que nem tudo está perdido.
2.
É verdade que o governo joga investindo e apoiando
as manifestações, mas aproveitou o desembarque do PMDB para tentar atrair os
votos necessários para evitar a vitória do impeachment na Câmara.
3.
Porém, antes disso, todas as ações do governo
foram direcionadas para agradar o grande capital, basta ver as sinalizações e
ações do ajuste fiscal. Não foi suficiente por que o andar de cima (como nos
disse Guilherme Boulos) decidiu trocar o governo agora e não aguardar as
eleições de 2018.
4.
Acontece que o grande nó político é, no fundo,
econômico. Estamos em recessão e o governo, por suas opções, parou de fazer concessões
(mesmo que pequenas) para a base social interessada em um governo de esquerda.
Os que foram para rua (pelo menos grande parte) nos dias 18, 24 e 31 de março
não saíram de casa para defender a política do governo, foram para evitar um
retrocesso maior na política econômica e para impedir o golpe na frágil democracia.
E como interpretar o envio, no meio deste fogo cruzado, de
um Projeto de Lei complementar como o citado acima?
1.
O PLP 257/2016 é, na verdade, a edição de uma
segunda Lei de Responsabilidade Fiscal. Os motivos são os mesmos: garantir que
estados paguem as suas dívidas com a União e garantir que não sejam “desviados”
recursos públicos reservados para o pagamento dos juros e amortização da dívida
pública.
2.
Lendo o texto só podemos concluir que o setor
rentista nacional e internacional é de uma ingratidão sem tamanho. Não param de
lucrar, o governo mantém os pagamentos em dia e aumenta sistematicamente a taxa
básica de juros e agora, mesmo vendo este parceiro tramando contra o seu
mandato, Dilma manda um PLP que garante seus interesses.
3.
O PLP estabelece congelamento de salários de
servidores estaduais e outras maldades, as quais devem ser aprovadas por leis
estaduais, procedimento que está condicionado ao esticamento do prazo para
pagar as dívidas. O prazo para isso acontecer garante fôlego para governadores
tentarem se reeleger em 2018 e joga o ônus do pagamento da dívida nas costas
dos servidores públicos, na paralisia do crescimento de oferta de serviços
públicos e na entrega de parte da previdência para o setor privado. Estimula
também trocar as dívidas por ativos (leia-se empresas estaduais) que seriam
repassados para a União vender para o setor privado (vejam como o setor privado
é ingrato, inacreditável!).
Em termos educacionais, o PLP inviabiliza o cumprimento de
todas as metas do Plano Nacional de Educação, posto que a expansão da oferta de
vagas pressupõe ampliação de contratação de professores e demais servidores e a
meta 17 do referido plano pressupõe existência de aumentos reais (proibidos
pela lei) e planos de carreira (que serão praticamente extintos ou congelados).
Deveria ter um artigo revogando a lei nº 13005/2014, teria sido mais coerente.
A pergunta que ficou na minha cabeça: se são os setores
assalariados progressistas que estão indo às ruas defender o governo contra o
golpe institucional e é o grande capital (dentre ele o financeiro) que trama
contra sua permanência, não seria um ato insano o envio do PLP?
O referido projeto, por mais cruel que pareça, pode render
importante apoio de governadores, sufocados pela diminuição da receita e
acossados com os pagamentos da dívida para a União.
Um comentário:
Muito lúcida, a análise, Luiz Araújo. Durma-se com uma confusão dessas! José Marcelino
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