quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Vencemos uma batalha


Na noite de ontem (14 de agosto) a Câmara dos Deputados aprovou a destinação dos royalties para a educação e saúde. Esta votação, que se arrastava desde junho, representou uma derrota aos interesses do governo e dos banqueiros, mesmo que não seja uma tábua de salvação definitiva aos problemas de financiamento dos dois setores.

Os educadores e os estudantes estão em permanente guerra por uma educação pública de qualidade e a favor da universalização do atendimento de saúde com qualidade. Um dos campos em que se trava esta batalha é na área do financiamento.

O estabelecimento de vinculação constitucional para as áreas sociais, especialmente para educação e saúde, foi fundamental para que fosse viabilizado o SUS e garantida a cobertura escolar alcançada nas últimas décadas. Sem esta definição as políticas públicas, bastante descentralizadas, não teriam continuidade nem sustentabilidade.

Na área de educação, com a tramitação do novo Plano Nacional de Educação, o debate sobre a necessidade de mais recursos para viabilizar o direito à educação se tornou pauta de discussão. De um lado, os conservadores de todas as ordens, setores empresariais e o  próprio governo defendendo o mesmo discurso da era FHC: dinheiro é suficiente, o problema é de gestão! De outro lado, as organizações da sociedade civil, os pesquisadores, as entidades acadêmicas e parlamentares progressistas defendendo que um plano educacional digno do nome, que enfrente enormes desafios de acesso e qualidade não é possível com apenas um crescimento vegetativo dos recursos atualmente vinculados.

A aprovação de um formato de destinação de royalties do petróleo para a educação e saúde reforça a sustentabilidade e a viabilidade do aumento da oferta nestas áreas sociais. Aliás, são duas áreas muito presentes nas demandas populares que ocuparam as ruas do país nas Jornadas de Junho.

Segundo cálculos da Consultoria Legislativa da Câmara este formato destinará em 2013 1,4 bilhão e em 2022 chegará a 37,8 bilhões para as duas áreas.

Porém, quero registrar o meu protesto contra dois elementos do debate de ontem.

O primeiro foi a aprovação do destaque do PMDB que diminuiu o percentual de recursos que ficarão com o Estado Brasileiro nas áreas que serão leiloadas no Pré-Sal, que o Projeto previa 60% e caiu para 40%.

Pensando apenas na destinação de recursos para educação e saúde, nos próximos dez anos, a retirada dos 60% representa uma redução de R$ 193,42 bilhões para R$ 179,87 bilhões (R$ 13,55 bilhões). No entanto, ao longo do contrato do Campo de Libra (35 anos), ele representa uma redução de R$ 300 bilhões na renda do Estado brasileiro.

É a velha e recorrente prática de entregar o patrimônio que pertence ao povo brasileiro para empresas multinacionais. E o mais incrível é que vários especialistas e entidades sindicais denunciam que não precisamos fazer este Leilão tão cedo, dizem que a Petrobrás já descobriu mais de 60 bilhões de barris no pré-sal nos campos de Tupi, Carioca, Franco, Libra, Sapinhoá, Iara, e outros, que somados aos 14 bilhões existentes antes do pré-sal nos dão uma autossuficiência para mais de 50 anos. Não havendo, portanto, justificativas para se leiloar um campo já descoberto e testado, sendo hoje o maior do mundo, e entregá-lo ao capital externo reduzindo drasticamente uma riqueza nacional.

 

O segundo é que para garantir a votação teria sido feito um acordo entre o governo e as lideranças dos partidos aliados para, no futuro, rever o texto aprovado e voltar a destinar apenas os rendimentos do Fundo Social para a educação e saúde. Isso seria feito um pouco mais adiante, posto que o grosso da destinação desta fonte ainda vai custar uns quatro anos para começar a migrar para a área social.

É verdade que é o tipo de acordo feito por atores sociais que não sabem se poderão cumpri-lo no futuro, posto que em 2014 terão eleições e nem a presidenta, nem os deputados presentes, podem garantir a continuidade de seus respectivos mandatos. E até o envio do referido projeto muita água passará por debaixo da ponte da política brasileira. Acho que foi o típico acordo para diminuir a imagem de derrota do governo.

E mais, o povo brasileiro não estava na mesa deste acordo, portanto não o avalizou. E as últimas manifestações mostraram que mobilização social tem grande poder. sem estas mobilizações, sem o trabalho das entidades da sociedade civil, especialmente a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, este resultado não teria acontecido. Quando tal projeto de revisão foi enviado é bom perguntar para o povo brasileiro se concorda com seus termos.

A guerra não terminou, ganhamos uma batalha. A próxima já está marcada: garantir 10% do PIB para a educação pública no texto do Plano Nacional de Educação.

 

 

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