O portal do INEP destacou esta semana a publicação pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) do documento Education at a Glance 2010, que faz um balanço do desenvolvimento da educação nos países membros desta organização (Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, República Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos) e de países denominados de parceiros (Brasil, Federação Russa, Estônia, Eslovênia, Israel, China, Índia e Indonésia).
A OCDE produziu também uma Nota Técnica que compara os dados alcançados pelos países membros e o Brasil.
A referida Nota foi destaque no portal do Instituto, que destacou a informação de que no “período de 2000 a 2007, o Brasil aumentou em 66% o percentual de gastos em educação em todos os níveis de ensino combinados, enquanto o aumento na média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) foi de 26%”.
E também destacou que enquanto “na maioria dos países da OCDE a renda do estudante aumenta cerca de 50% com a conclusão do nível superior”, no Brasil estes ganhos “excedem os 100% para os que conseguem um diploma de graduação”.
Por curiosidade li atentamente a íntegra da Nota Técnica.
O Portal do INEP não mentiu, mas apenas destacou aquilo que interessava ao governo. Faltou refletir sobre os demais indicadores apresentados no documento. Destaco alguns:
1. Na maioria dos países da OCDE, 60% ou mais dos adultos de 25 a 64 anos concluíram a educação secundária. Em nosso país a situação está invertida, com mais de 60% da população de 25 a 64 anos não concluiu a educação secundária.
2. O investimento médio por estudante na educação primária dos países da OCDE é de USD 6.756. No Brasil este valor em 2007, segundo os cálculos da OCDE, era de USD 1862.
3. Na educação secundária, a média da OCDE para gasto por aluno é de USD 8.153. No Brasil este gasto seria de USD 1750.
4. Na educação terciária o investimento médio é de USD 16.625. No Brasil este gasto seria de USD 10.950.
5. Na última década, na maioria dos países da OCDE, os alunos tiveram acesso a, pelo menos, 12 anos de educação formal. No Brasil assim como na Turquia, o período de tempo em que 90% dos alunos estão matriculados é de 9 e 7 anos, respectivamente.
6. Em média, nos países da OCDE, as instituições públicas detêm 67% dos alunos de educação tecnológica e 78% dos alunos dos cursos tipo A e pós-graduação. No Brasil a situação está invertida, com as instituições privadas detendo 85% dos alunos de educação tecnológica e 72% dos alunos dos cursos tipo A e pós-graduação.
7. No Brasil o tamanho médio das turmas de educação primária é de aproximadamente 25 estudantes por professor, o que coloca o país entre os que têm as turmas mais numerosas nesse nível educacional.
É verdade que às vésperas do segundo turno presidencial é difícil não filtrar apenas os dados mais positivos (e teriam alguns outros positivos no texto). Porém, também estamos às vésperas do envio pelo Executivo de sua proposta de Plano Nacional de Educação para a próxima década. E os dados publicados pela OCDE merecem reflexão.
Obviamente que devemos sempre analisar os dados à luz da realidade de cada país, medindo o esforço já realizado, o tempo que o processo de universalização do acesso se consolidou, assim por diante. Exemplo deste cuidado deve ser praticado ao analisarmos o gasto público com educação. Um país que conseguiu garantir o acesso a maioria de sua população e, inclusive, tenha criado um padrão mínimo de qualidade no atendimento, certamente precisará de menor volume de recursos do que outro país que está ainda correndo atrás destas metas.
Um comentário:
Olá, professor!
É certo que devemos analisar os dados à luz da realidade de cada país.
Os países da OCDE tinham um PIB per capita médio de $ 38,739.91, em 2007. O Brasil, PIB per capita de $ 7,012.78.
Assim, no ensino primário, a OCDE gastava 17.44% de seu PIB de 2007, enquanto o Brasil gastava 26.55%.
No ensino secundário: OCDE, 21.05%; Brasil, 24.95%.
No ensino superior: OCDE, 42.91%; Brasil, 156.14%.
Ou seja: o Brasil está investindo muito mais em educação que os países ricos.
Os dados estão em https://spreadsheets.google.com/pub?key=0AuERPic3WeZGdGNwMnVDVEFSMWpyMmtaY0xDbm9jMEE&hl=pt_BR&output=html
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