Um dos vídeos mais acessados nas redes sociais foi, sem
sombra de dúvida, as cinco causas propostas pelo grupo Anonymous. A segunda
causa é a proposta de retirada do presidente do Senado, senhor Renan Calheiros.
Vale recordar que quando de sua eleição mais de um milhão de pessoas assinaram
petição virtual fazendo o mesmo pedido.
O que isto tem a ver com a votação do PNE? Tudo. Os governos
e os parlamentares saíram da letargia inicial diante dos protestos e estão
empenhados a ceder os anéis para não ceder os dedos, como diz o dito popular.
No Senado, a postura de Renan Calheiros é de quase liderança estudantil. Ele se
apressa a apoiar todas as reivindicações (até o passe livre!) e se propõe a
acelerar importantes votações.
Bem, da lista de cinco causas uma foi resolvida
(arquivamento da PEC-37) e justamente a renúncia de Renan é o próximo da lista.
Com um instinto de sobrevivência apurado, este senhor sabe que quanto mais boas
ações ele fizer, ele pode conseguir empurrar o seu caso pro final da lista e,
quem sabe, a demanda cair no esquecimento.
Com isso, existe enorme possibilidade de que a votação do
Plano Nacional de Educação seja acelerada. Ontem, no plenário do Senado, o
acordo era tramitar na semana que vem na CCJ e em seguida na Comissão de Educação.
E depois seguir rápido pro plenário.
Esta repentina pressa é fruto da necessidade de responder ao
clamor das ruas, mas o formato da resposta que Dilma e o Congresso pretendem
dar não é exatamente uma leitura apurada dos anseios da população, mas alguma
resposta sobre os itens mais candentes, os quais serão mediados pelos
interesses de quem está no poder.
Exemplo disso foi a votação sobre os royalties para a
educação. A ideia do governo era simplesmente aprovar a sua proposta original,
da qual já várias vezes expliquei sobre sua insuficiência aqui neste espaço. O
que foi aprovado na Câmara não foi bem o que o governo queria, por que o clamor
das ruas motiva parlamentares mais à esquerda a ter mais desenvoltura e não
ficar subordinados aos ditames do Planalto, também estes preocupados com o dia
seguinte eleitoral nos seus estados.
Assim, quais os benefícios e quais os riscos desta movimentação?
1.
Há um risco do governo empurrar goela a baixo
uma votação rápida e baseada no péssimo relatório do senador Pimentel, que foi
aprovado na CAE. Este relatório representa o desejo de limitar a participação
da união a patamares aceitáveis para que a mesma cumpra seu principal pacto que
é com a “responsabilidade fiscal”, eufemismo que significa continuar gastando
nosso suado dinheiro no pagamento da dívida pública. Agilizando a votação o
governo evita o crescimento da pressão da sociedade civil sobre os senadores,
agora vitaminada pelas mobilizações;
2.
Há um benefício da pressa, pois sabendo que o
relatório Pimentel pode ser usado para mobilizar o povo que está nas ruas, o governo
e agora combativo Renan podem optar pela aprovação do texto da Câmara, o que
viabilizaria uma sanção imediata da presidenta, o que representaria uma
resposta concreta para a reivindicação de melhoria educacional. Apesar dos seus
limites, isso significaria aprovar 10% do PIB pra educação pública.
Bem, o projeto da Câmara tem muita coisa pra ser melhorado,
principalmente no que diz respeito a materialização do papel dos entes
federados em cada uma das metas, especialmente das relativas ao acesso. Mas é
um relatório que o governo torce o nariz pra ele. Uma aprovação rápida e no
clima atual intimidaria Dilma a vetar os pontos discordantes, conduta que
poderia retroalimentar seu desgaste no segmento social que se mobiliza.
Minha sugestão: aproveitar o clima de recuo do governo e de
sua maioria para garantir que não sejam retiradas conquistas obtidas na Câmara,
jogando na lata do lixo o relatório Pimentel e negociando emendas prioritárias.
Contudo, deixo bem clara uma posição: não é coerente com a
nova correlação de forças que as entidades, por qualquer motivo que seja,
aceitem renegociar os termos da Meta 20, 11 e 12. São nestas três metas que
estão os aspectos mais relevantes do texto e que mais o governo será obrigado a
ceder. Aceitar negociações de bastidores alargarão ainda mais o fosso que se
criou de representatividade entre as tradicionais entidades e os novos
manifestantes.
Um comentário:
Luiz Araujo,
Estamos acompanhando seus posicionamentos, por sinal eficazes e precisos para que estajamos debatendo.
obrigada, continue.
Suely Duque Rodarte.
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