segunda-feira, 24 de junho de 2013

Dilma, brioches não!


Dizem que às vésperas do povo derrubar os reis franceses, Maria Antonieta perguntou aos seus ministros mais próximos qual era a reivindicação do povo que cercava seu palácio. Prontamente os ministros informaram que o povo queria pão. A rainha então teria dito: se o povo não tem pão, que coma brioches.

Pode ser que mude, mas a minha impressão do pronunciamento de sexta-feira passada da presidenta Dilma foi de que ela acha suficiente a oferta de alguns brioches ao povo para diminuir (e quem sabe acabar) a intensidade dos protestos. Mesmo afirmando que seu governo está atento a “voz direta das ruas”, mas parece que há um problema de tradução da mensagem que as ruas estão enviando.

Digo isso por que as manifestações, mesmo que apresentando uma profusão de reivindicações, mandam mensagens claras de insatisfação profunda. Essencialmente os nossos jovens dizem que aqueles que foram eleitos para resolver os seus problemas não estão cumprindo o prometido. E pior, estão usando os seus cargos para o enriquecimento pessoal ou de pequenos grupos econômicos. A corrupção aparece como uma face de uma moeda que na outra face tem a precariedade dos serviços públicos essenciais.

E o que Dilma ofereceu como resposta?

Manifestou-se favorável a realização de uma reforma política, mas não apresentou nenhum gesto concreto sobre isso. Talvez por que seu governo, por necessidade de sobrevivência, é sustentado no congresso pelos principais expoentes da política questionada pelas ruas. Não é possível um pacto anticorrupção mantendo os corruptos no governo!

Vai chamar os governadores e prefeitos para finalmente realizarem um plano nacional de mobilidade urbana. Diz o ditado que quando não queremos resolver um problema devemos formar uma comissão. A presidenta Dilma está no governo desde 1º de janeiro de 2011, mas já ajudava Lula a governar. O povo esperava medidas concretas para as principais áreas e não a convocação de mais um pacto, que mais parece um abraço dos afogados, todos querendo se livrar do desgaste que a repulsa aos políticos está provocando.

Um dos principais elementos causadores do caos urbano e das carências da saúde e educação é a opção preferencial pelos ricos do governo federal. O pão, reivindicado pelo povo nas ruas, está totalmente comprometido com os acordos econômicos com os credores da dívida pública. Para o povo só é possível oferecer alguns brioches, por meio de políticas compensatórias e tímido crescimento do volume de serviços públicos. Sem alterar substancialmente as prioridades é impossível atender aos apelos populares.

Um dos exemplos desta política do “brioche” é a questão dos royalties. O Projeto de Lei 5500/2013, que foi apresentado pelo governo federal estabelece 100% dos royalties para a educação dos futuros royalties a serem recebidos por contratos que serão assinados em agosto e de uma produção que nem começou. E sobre o pré-sal o governo propõe destinar apenas 50% dos DIVIDENDOS das aplicações do Fundo Social no mercado financeiro internacional. Não é um formato que incida diretamente e imediatamente na situação de penúria da educação.

Os governos acreditam que o povo, mais uma vez, ficará contente com o aumento da quantidade de brioches.

Será? Na França, o que sempre dava certo, chegou em dado momento tal política perdeu a eficácia.

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