Dizem que às vésperas do povo derrubar os reis franceses,
Maria Antonieta perguntou aos seus ministros mais próximos qual era a
reivindicação do povo que cercava seu palácio. Prontamente os ministros
informaram que o povo queria pão. A rainha então teria dito: se o povo não tem
pão, que coma brioches.
Pode ser que mude, mas a minha impressão do pronunciamento
de sexta-feira passada da presidenta Dilma foi de que ela acha suficiente a
oferta de alguns brioches ao povo para diminuir (e quem sabe acabar) a
intensidade dos protestos. Mesmo afirmando que seu governo está atento a “voz
direta das ruas”, mas parece que há um problema de tradução da mensagem que as
ruas estão enviando.
Digo isso por que as manifestações, mesmo que apresentando
uma profusão de reivindicações, mandam mensagens claras de insatisfação
profunda. Essencialmente os nossos jovens dizem que aqueles que foram eleitos
para resolver os seus problemas não estão cumprindo o prometido. E pior, estão
usando os seus cargos para o enriquecimento pessoal ou de pequenos grupos
econômicos. A corrupção aparece como uma face de uma moeda que na outra face
tem a precariedade dos serviços públicos essenciais.
E o que Dilma ofereceu como resposta?
Manifestou-se favorável a realização de uma reforma
política, mas não apresentou nenhum gesto concreto sobre isso. Talvez por que
seu governo, por necessidade de sobrevivência, é sustentado no congresso pelos
principais expoentes da política questionada pelas ruas. Não é possível um
pacto anticorrupção mantendo os corruptos no governo!
Vai chamar os governadores e prefeitos para finalmente
realizarem um plano nacional de mobilidade urbana. Diz o ditado que quando não
queremos resolver um problema devemos formar uma comissão. A presidenta Dilma
está no governo desde 1º de janeiro de 2011, mas já ajudava Lula a governar. O
povo esperava medidas concretas para as principais áreas e não a convocação de
mais um pacto, que mais parece um abraço dos afogados, todos querendo se livrar
do desgaste que a repulsa aos políticos está provocando.
Um dos principais elementos causadores do caos urbano e das
carências da saúde e educação é a opção preferencial pelos ricos do governo
federal. O pão, reivindicado pelo povo nas ruas, está totalmente comprometido
com os acordos econômicos com os credores da dívida pública. Para o povo só é
possível oferecer alguns brioches, por meio de políticas compensatórias e
tímido crescimento do volume de serviços públicos. Sem alterar substancialmente
as prioridades é impossível atender aos apelos populares.
Um dos exemplos desta política do “brioche” é a questão dos
royalties. O Projeto de Lei 5500/2013, que foi apresentado pelo governo federal
estabelece 100% dos royalties para a educação dos futuros royalties a serem
recebidos por contratos que serão assinados em agosto e de uma produção que nem
começou. E sobre o pré-sal o governo propõe destinar apenas 50% dos DIVIDENDOS
das aplicações do Fundo Social no mercado financeiro internacional. Não é um
formato que incida diretamente e imediatamente na situação de penúria da
educação.
Os governos acreditam que o povo, mais uma vez, ficará
contente com o aumento da quantidade de brioches.
Será? Na França, o que sempre dava certo, chegou em dado
momento tal política perdeu a eficácia.
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