sexta-feira, 21 de junho de 2013

As manifestações e a educação


Em todas as manifestações há um forte repúdio aos elevadíssimos gastos governamentais com a Copa do Mundo (e das Confederações) e é feita uma comparação com a precariedade dos serviços de educação. No ato de Brasília vários cartazes tratavam deste tema. Recordo de um que dizia que o Brasil ganhou de 3 a 0 do Japão no futebol e perdeu de 10 a 0 pra eles em educação.

É verdade que somente agora algumas reivindicações começam a ficar mais concretas, como foi o caso da redução das tarifas dos transportes urbanos e a rejeição da PEC 37, que tenta inibir as investigações realizadas pelo Ministério Público. Mas educação e saúde ainda continuam no campo da denúncia ou no contraponto aos gastos da Copa (quero uma educação na padrão Fifa!).

Recentemente a sociedade civil organizada (que não é quem está mobilizando a juventude que ocupa as ruas do país!) travou forte batalha para tornar o próximo Plano Nacional de Educação algo digno do nome. Esta mobilização foi feita nos moldes vigentes, ou seja, pressão presencial ou virtual sobre os parlamentares federais, alguns atos pequenos nos corredores do Congresso e muita negociação nos gabinetes. Algumas vitórias foram arrancadas, como a inscrição de 10% do PIB para a educação pública no substitutivo da Câmara.

As manifestações atuais começaram alguns dias depois da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovar o relatório Pimentel e retroagir nas principais conquistas arrancadas às duras penas na Câmara.

Acredito que a situação do governo e dos partidos mudou radicalmente nos últimos dias. A capacidade governamental de fazer e acontecer, aprovar o que quiser sem que as reações se façam sentir, acabou. Há um sentimento de que governos e partidos só aprontam contra o povo, usam nosso dinheiros em proveito próprio, esbanjam em circo enquanto falta o pão.

O desafio é auxiliar os nossos jovens a transformarem a crítica a situação deplorável da educação nacional em pauta de reivindicação concreta. Eu fiz uma experiência na manifestação de quinta-feira. Ganhei de presente dos meus alunos um cartaz com a inscrição “10% do PIB para a educação pública” e desfilei com ele na manifestação. Senti enorme empatia com os que ali estavam. Era um pequeno cartaz, mas sei que alunos da UnB também levaram faixas com os mesmos dizeres.

A possibilidade do governo “passar o rolo compressor” nas conquistas obtidas na Câmara são menores hoje. Mesmo que as manifestações não tenham colocado como parte da pauta de reivindicações nenhuma referência direta com o PNE ou sobre o percentual de investimento público em educação, mas os governos estão mais frágeis e os grandes partidos também. E nesta horas eles começam a tentar anunciar pequenas bondades, no afã de que o doce na boca da criança faça ela parar de chorar, mesmo que tal conduta não resolva a fome de justiça social.

Caso as entidades da sociedade civil consigam interagir com esta juventude que decidiu escrever os livros de história nas ruas das cidades brasileiras, o destino do PNE pode ser completamente diferente.

 

Nenhum comentário: