Em todas as manifestações há um
forte repúdio aos elevadíssimos gastos governamentais com a Copa do Mundo (e
das Confederações) e é feita uma comparação com a precariedade dos serviços de
educação. No ato de Brasília vários cartazes tratavam deste tema. Recordo de um
que dizia que o Brasil ganhou de 3 a 0 do Japão no futebol e perdeu de 10 a 0
pra eles em educação.
É verdade que somente agora algumas
reivindicações começam a ficar mais concretas, como foi o caso da redução das
tarifas dos transportes urbanos e a rejeição da PEC 37, que tenta inibir as
investigações realizadas pelo Ministério Público. Mas educação e saúde ainda
continuam no campo da denúncia ou no contraponto aos gastos da Copa (quero uma
educação na padrão Fifa!).
Recentemente a sociedade civil
organizada (que não é quem está mobilizando a juventude que ocupa as ruas do
país!) travou forte batalha para tornar o próximo Plano Nacional de Educação
algo digno do nome. Esta mobilização foi feita nos moldes vigentes, ou seja,
pressão presencial ou virtual sobre os parlamentares federais, alguns atos
pequenos nos corredores do Congresso e muita negociação nos gabinetes. Algumas
vitórias foram arrancadas, como a inscrição de 10% do PIB para a educação
pública no substitutivo da Câmara.
As manifestações atuais começaram
alguns dias depois da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovar o
relatório Pimentel e retroagir nas principais conquistas arrancadas às duras
penas na Câmara.
Acredito que a situação do governo e
dos partidos mudou radicalmente nos últimos dias. A capacidade governamental de
fazer e acontecer, aprovar o que quiser sem que as reações se façam sentir,
acabou. Há um sentimento de que governos e partidos só aprontam contra o povo,
usam nosso dinheiros em proveito próprio, esbanjam em circo enquanto falta o
pão.
O desafio é auxiliar os nossos
jovens a transformarem a crítica a situação deplorável da educação nacional em
pauta de reivindicação concreta. Eu fiz uma experiência na manifestação de
quinta-feira. Ganhei de presente dos meus alunos um cartaz com a inscrição “10%
do PIB para a educação pública” e desfilei com ele na manifestação. Senti
enorme empatia com os que ali estavam. Era um pequeno cartaz, mas sei que
alunos da UnB também levaram faixas com os mesmos dizeres.
A possibilidade do governo “passar
o rolo compressor” nas conquistas obtidas na Câmara são menores hoje. Mesmo que
as manifestações não tenham colocado como parte da pauta de reivindicações
nenhuma referência direta com o PNE ou sobre o percentual de investimento
público em educação, mas os governos estão mais frágeis e os grandes partidos
também. E nesta horas eles começam a tentar anunciar pequenas bondades, no afã
de que o doce na boca da criança faça ela parar de chorar, mesmo que tal
conduta não resolva a fome de justiça social.
Caso as entidades da sociedade
civil consigam interagir com esta juventude que decidiu escrever os livros de
história nas ruas das cidades brasileiras, o destino do PNE pode ser
completamente diferente.
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