sexta-feira, 21 de junho de 2013

Aprendizado das ruas


Ontem à tarde fui ministrar minha aula na UnB. Ao chegar, meus alunos estavam preparando cartazes para a manifestação que começaria um pouco depois. Uma das alunas me mostrou o seu cartaz, o qual dizia algo mais ou menos assim: deixei meus livros de química pra escrever os livros de história.

Decidi acompanhar os meus alunos ao ato realizado em frente ao Congresso Nacional.

Em abril completei 50 anos e, portanto, eu faço parte de outra geração. A minha geração nasceu e cresceu sob governos autoritários e tivemos de muito cedo ir às ruas para redemocratizar o pais. Foram tempos difíceis e nossas manifestações eram monitoradas pelas forças de segurança, mas existem muito maus semelhanças do que diferenças com os fatos que estamos vivendo neste momento no Brasil.

A primeira semelhança é a frustração com o poder constituído. Acho que minha geração estava com justeza revoltada com a injustiça social e com a falta de liberdade vigente. A primeira passeata que participei foi para libertar um agente de pastoral vinculado a Dom Helder Câmara e foi organizada pelas pastorais da juventude. A segunda foi para reivindicar meia passagem no transporte público de Belém do Pará.

A juventude que hoje está nas ruas nasceu e cresceu na democracia, mas as sementes de justiça social que minha geração plantou não prosperaram e democracia não se tornou sinônimo de inclusão social e de melhores condições de vida. E mais, nossos jovens foram chamados a votar de dois em dois anos e presenciaram a deterioração da política partidária, a roubalheira como regra, a transformação de cargos de representação em oportunidades de negócios obscuros. A revolta contra os partidos (acho que seria melhor circunscrever a mesma aos partidos da ordem!) tem elementos concretos na frustração das expectativas com a democracia representativa.

Muitos anos atrás me encantei com um livro cujo título era “Dez dias que abalaram o mundo” e tratava das grandes mobilizações que derrubaram o czar na Rússia e implantaram a primeira república socialista do mundo.

Lembrei deste livro por que havia um sentimento de que a geração pós-democracia havia se acomodado, não ouvia os chamados das entidades estudantis, havia até uma diminuição do número de votantes nos processos eletivos de suas entidades. De outro lado, ocorreu uma perda considerável de energia no movimento sindical, cada vez mais distante de qualquer questionamento ao poder vigente. E, de repente, as coisas começam a mudar, os jovens voltam a sair às ruas, de forma espontânea, via redes sociais, por fora das organizações existentes, querendo distância os partidos, mas gritando palavras-de-ordem, enfrentando a polícia, “caminhando e cantando” e encurralando os governos, que já estavam muito mal acostumados a fazer as piores coisas sem que houvesse reação popular. E em poucos dias colocaram o país de cabeça pra baixo.

É um movimento com algumas diferenças do que vivi na minha juventude. Éramos mais organizados, tínhamos lideranças claras e valorizávamos isso e possuíamos um norte mais claro do que queríamos fazer com o mundo. Não consegui ver lideranças nem organização no ato de ontem, talvez por isso seja tão fácil que os mesmos percam o controle e ocorram episódios de depredação sem motivos claros. E só lentamente parece se materializar um conjunto mais claro de reivindicações (além da redução das tarifas do transporte).

O principal é que o Brasil e os seus jovens não serão os mesmos. E acho que as organizações estudantis, populares e sindicais e, quem sabe, os partidos também não.  

Nenhum comentário: