No noite de terça-feira (02 de julho), o plenário do Senado
Federal foi cenário de uma das manobras mais bem azeitadas dos últimos tempos.
Aparentemente o Senado estava, por iniciativa da bancada do governo e contando
com a supreendentemente omissão dos partidos da oposição conservadora,
aperfeiçoando o Projeto de Lei aprovado pela Câmara sobre os royalties.
Cheguei a ouvir de uma senadora que “o senador Eduardo Braga
nunca mentiria” pra ela e que os protestos das entidades e do senador Randolfe
Rodrigues (PSOL/AP) eram desconfianças infundadas em relação ao governo
federal.
A Nota Técnica da consultoria legislativa da Câmara e as
matérias da imprensa desmontaram o discurso do governo de que tudo não passava
de uma incompreensão de alguns poucos. O que o Senado aprovou representará,
caso confirmado pela Câmara, uma perda de 128 bilhões de reais em dez anos e
diminui a destinação dos royalties em 2022 de 1,1% do PIB para apenas 0,46% do
PIB, ou seja, se o antes aprovado representava um avanço limitado, o
substitutivo do Senado é incapaz de viabilizar o PNE em discussão.
Porém, faltava vir à tona as verdadeiras razões para tão
eficiente operação, a qual contou com a participação direta do todo poderoso
Ministro da Educação Aloizio Mercadante, do segundo na hierarquia do Ministério
das Minas e energias e de todo um staff ministerial que acampou no plenário do
Senado, deixando claro o quanto é fantasiosa a autonomia entre os poderes da
república brasileira.
A assessoria de imprensa da liderança do governo no Senado
conseguiu contribuir para elucidar os reais motivos da redução dos recursos de
royalties para a educação. Em nota, divulgada para explicar o inexplicável,
afirma que:
Sobre o Fundo Social: “utilizar no País as receitas do Fundo
Social contraria todos os princípios para os quais ele foi criado,
especialmente a estabilidade econômica e a capacidade de competição do país –
evita-se, dessa forma o risco de termos no Brasil a “doença holandesa”, cujo
nome é uma referência ao acontecido naquele País quando da produção e
exportação de grandes jazidas de gás natural”.
Traduzindo a afirmação: há um compromissos do governo de
usar a riqueza do pré-sal para constituir um “colchão de recursos” para
utilização em momentos de crise econômica, nos moldes do que presenciamos todos
os dias na Europa. Dito de outra forma, a riqueza do pré-sal não pode ser utilizada
para pagar a enorme dívida social com educação e saúde, mas estará disponível
paras salvar bancos ameaçados de falência e para ajudar a salvar as economias
dos países desenvolvidos.
Sobre a aplicação dos royalties pelos Estados e Municípios: “Voluntariamente,
o Governo aceitou que a parcela dos royalties que lhe cabe, oriunda de parte
dos contratos já firmados, fosse destinada para a educação – como não se pode
assegurar que todos os Estados e Municípios também aceitarão fazê-lo, o Senado
entendeu como prudente deixar que cada ente federado tratasse dessa matéria,
disciplinando apenas os recursos oriundos de contratos ainda não celebrados”.
Traduzindo a afirmação: os Estados e Municípios ficarão
livres para utilizar os recursos do jeito que bem quiserem, pedido feito
especialmente pelo aliado de sempre chamado Sérgio Cabral do Rio de Janeiro. Ou
seja, dinheiro para a educação continuará não sendo prioridade justamente onde
está a maioria de nossas crianças e jovens.
Mentira sempre tem pernas curtas, mesmo quando ela consegue
convencer uma maioria de senadores propensos a votar tudo que os governos
querem e, especialmente, sempre receosos de contrariar a voz do mercado
financeiro. Afinal de contas, o plebiscito ainda não ocorreu e o financiamento
privado de campanha (legal ou clandestino) continua sendo a regra na política
brasileira.
Ah... quanto ao clamor das ruas, parece que os jovens vão
precisar gritar bem mais alto pra que suas reivindicações sejam ouvidas.
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