As últimas manifestações ocorridas no Brasil no mês de junho
fizeram reacender em muitas pessoas de minha geração a certeza de que os sonhos
de igualdade social não devem ser descartados.
Em um 19 de julho como de ontem, na verdade 34 julhos atrás,
eu era um jovem de dezesseis anos e militava ativamente contra a ditadura
militar e por melhorias na educação do estado do Pará. Estava no último ano do
ensino médio e, ao mesmo tempo, trabalhava como agente pastoral em um bairro
periférico de minha cidade (bairro do Benguí, Belém do Pará).
Foi neste contexto de muitos sonhos que acompanhei pela
imprensa que a Frente Sandinista de Libertação Nacional – FSLN, havia derrubado
o ditador Somoza e tomado o poder na Nicarágua.
Sandino era pra mim um ilustre desconhecido, mesmo que nesta
época já tivesse tido acesso a livros de Marx e Lenin. Mas, assim como toda a
esquerda desta época, era profundamente eurocêntrico em matéria de
transformação social. Nosso horizonte estava mais no que ocorrera na distante
Rússia czarista e muito pouco nas transformações ocorridas na vizinha Cuba.
Augusto Sandino não foi um socialista, mesmo que tenha tido
contato com alguns fragmentos das ideias marxistas em algum momento de sua
vida. Mas ele foi um democrata, um nacionalista e um anti-imperialista
admirável.
Nos anos seguintes atuei com outros companheiros no
movimento de solidariedade à revolução sandinista, criamos o Centro de
solidariedade 19 de julho, escrevi meu trabalho de conclusão de curso sobre os
elos de ligação entre os ideais de Sandino e o programa revolucionário da FSLN.
Mandamos militantes para brigadas de solidariedade, para colheita de café na
Nicarágua e contribuímos um pouco para que os militantes do movimento social
enxergassem a América Latina e seus potenciais transformadores.
Passadas três décadas muita coisa mudou no mundo e na
Nicarágua. Nem sempre pra melhor. A revolução sandinista foi derrotada pela
guerra de baixa intensidade desenvolvida pelo Grande Irmão do Norte, pelos seus
erros e pelas dificuldades econômicas provocadas pelo bloqueio norte americano.
Recentemente a FSLN voltou a governar a Nicarágua e Daniel Ortega tornou-se
presidente. O homem é o mesmo, mas suas ideias são bem diferentes, a FSLN não é
nem a sombra do que foi no passado, mesmo que para o povo nicaraguense seu
governo fará diferença se comparado com os neoliberais colocados no poder pelos
americanos durante duas décadas.
Com todos os limites programáticos atuais, o governo
nicaraguense tem sido muito mais proativo em política internacional do que os
governos brasileiros. Basta ver a concessão de ailo para Snowden, coisa que o
Brasil morreu de medo de fazer.
Porém, em tempos de vigilância universal de nossas vidas, de
controle econômico americano sobre nossas economias e de governos nacionais
marcados pela subserviência ao Império, as ideias nacionalistas de Sandino me
parecem muito apropriadas.
Infelizmente nossos jovens que voltaram às ruas desconheçam
nossos heróis latinos e suas ideias, muitos inclusive usarão camisas de Che da
mesma forma que usam uma do Iron Maiden.
Só uma certeza permanece inalterada: os sonhos de liberdade
não envelhecem, não morrem, e como a fênix, sempre ressurgem, do início meio
desorganizados, meio confusos, mais sempre ressurgem... ainda bem!
Um comentário:
As mudanças,infelizmente, ainda estão longe de acontecer nesse Pará desgovernado pela elite local, que se reveza no poder, ao longo do tempo, de maneira absurda reconduzida por nosso povo sem instrução básica necessária para reconhecer a mentira desses facínoras.A decripitude é a marca registrada desse desgoverno atual. Os poderes aqui no nosso Estado apodreceram de vez. O Pará é caso urgente para Intervenção Federal, ou popular mesmo, como os cabanos chegaram a fazer, e, em seguida, divisão do Estado Já! Em Pará, Tapajós, Carajás e Território Federal abrangendo Almeirim, Prainha e Monte Alegre, área da Calha Norte.
Hoje, relembrando o passado de lutas estudantis como pela meia-passagem no início dos anos de 1980, bloqueando a Almirante Barroso em Frente ao Colégio Souza Franco, sinto-me derrotado aqui no interior do Estado, onde o coronelismo impera com toda força. Mas, a reação a isso, não vai parar nunca, haverá retrocessos como agora vivencio.
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