Aparentemente o governo não tirou boas conclusões sobre os
resultados das eleições. Milhares de ativistas educacionais, de diversas
colorações, foram às ruas garantir no braço um segundo mandato para a Dilma.
Isso aconteceu não para dar um cheque em branco ou para que os erros do
primeiro mandato não fossem corrigidos. Pelo contrário.
Explico o sentido destas primeiras palavras.
Uma das batalhas mais quentes durante a tramitação do PNE
foi sobre a incorporação do Custo Aluno Qualidade no texto legal. Vejamos os
passos desta importante novela:
1.
A I CONAE incorporou o Custo Aluno Qualidade em
suas resoluções, escolhendo este indicador para ser a referência numa
necessária reformulação da política de financiamento da educação básica. Com
esta decisão, o que era uma iniciativa de uma importante rede de entidades
(Campanha Nacional pelo Direito à Educação) foi assimilada como uma bandeira do
principal fórum de participação social educacional dos últimos tempos;
2.
Ainda em 2010, logo após a decisão citada acima,
a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação formula um parecer
e propõe uma resolução sobre o tema, ou seja, tenta normatizar o padrão mínimo
de qualidade previsto na Constituição e na LDB por intermédio do Custo Aluno
Qualidade;
3.
O Ministério da Educação decide “sentar em cima”
da proposta. A atitude procrastinadora foi construindo um discurso de que
haviam inconsistências na proposta de resolução que precisavam ser sanadas.
Mais uma vez a generosidade dos movimentos sociais ajudou na estratégia do MEC,
por que tais imperfeições eram apenas cortina de fumaça. O verdadeiro motivo
era o temor de que implementado um Custo Aluno Qualidade, a pressão para uma
maior participação financeira da União aumentasse;
4.
No Projeto de Lei nº 8035 de finais de 2010 o
CAQ aparece de forma quase imperceptível, somente “para dizer que não falou de
flores”. Na estratégia 20.5 estava escrito “Definir o custo aluno-qualidade da educação
básica à luz da ampliação do investimento público em educação”. Ou seja, sem
prazo, sem parâmetro, sem responsabilidades;
5.
Durante a tramitação da Câmara a sociedade civil ganhou o debate
sobre financiamento e sobre a necessidade do Custo Aluno Qualidade, incorporando
estratégias mais afirmativas, tanto definindo um prazo mais curto para a
implementação do CAQ inicial, quanto incorporando uma das mais importantes
decisões da I CONAE e afirmando que seria de responsabilidade da União
complementar os estados e municípios que estiverem abaixo do patamar mínimo de
qualidade estabelecido;
6.
Durante a tramitação do Senado o governo “jogou pesado” para
reverter as derrotas sofridas na Câmara. Dentre os alvos da ação governista
estavam as estratégias do CAQi. Não sendo mais possível retirá-lo do texto, o
governo agiu para esvaziar seu conteúdo e retirar a referência de
complementação da União para a sua efetivação. Quando não se quer uma
determinada política, a melhor estratégia é retirar o seu financiamento.
Conseguiu seu intento no Senado;
7.
No retorno ao debate na Câmara o governo foi
derrotado neste quesito e o texto voltou a afirmar o CAQi e a necessária
complementação da União;
8.
Vivemos momentos tensos entre a aprovação e a
sanção, mas felizmente não ocorreram vetos no projeto aprovado no Congresso.
Agora, às vésperas da II CONAE o que se fala nos bastidores?
Que o MEC está mobilizando os seus delegados e tentando angariar apoio em
delegações “parceiras” para retirar do texto da Conferência as referências ao
Custo Aluno Qualidade, numa atitude de ganhar tempo e evitar o aumento da
pressão para que coordene o cumprimento da legislação, a qual determina dois
anos para que o CAQi seja instituído e implementado.
Um comentário:
E se o Aécioaeroportos ganhasse a eleição, como ficaria resumindo em uma única palavra? PRIVATIZAÇÃO, Acho.
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