segunda-feira, 26 de abril de 2010

Desabafo de um professor

Nem todas as pessoas que postam mensagens no meu blog se identificam, seja por que não querem ou por alguma dificuldade na hora da postagem.

Recebi a mensagem de um professor anônimo que reproduzo abaixo. É um desabafo que merece ser discutido.O teor do comentário foi o seguinte:

Em minha opinião tudo isso de CONAE é balela, "conversa pra boi dormir".

Sou professor do Estado e no Município onde resido. Comecei a lecionar para turmas de EJA esse ano de 2010, calendário super atrasado por culpa do Prefeito despreparado e desqualificado para governar um município. Sujeito egoísta e centralizador de tudo inclusive. Esse ano se quer foi fornecido livro para os alunos (número insuficiente), e, segundo informações as verbas são repassadas via Fundeb normalmente. A situação nas escolas é deplorável, começando pelo estado de abandono de muitos prédios e que, às vezes, são mal reformados ou construídos fora dos padrões para uma escola, a começar pela péssima iluminação, ventilação, limpeza, etc. Crianças na 5ª série e 3ª e 4ª etapas, que mal sabem escrever seus nomes. Um descaso total.

Acho que a única saída para melhorar o sistema educacional brasileiro é reverter imediatamente a municipalização do ensino, que somente trouxe o caos que aí está pelo Brasil afora. Em seguida o Governo Federal deveria assumir a educação, principalmente, no interior do país.


Gostaria de comentar a mensagem do professor. Em primeiro lugar, infelizmente a realidade relatada por ele é a de milhares de outros profissionais, que trabalham sem que o poder público ofereça um padrão mínimo de qualidade nas escolas. São problemas de superlotação das turmas, inadequação das salas de aula, falta de recursos pedagógicos e desorganização administrativa. Exemplo disso é a denúncia que faz de que faltam livros didáticos para parte das crianças de seu município.

Em segundo lugar, seu relato questiona a validade da municipalização que ocorreu em nosso país. Não é um estudo sobre o processo, é mais um sentimento de quem vive as conseqüências de um processo que podemos denominar de “prefeiturização” e não de municipalização. Em muitos estados as escolas foram repassadas sem a garantia das condições para o seu bom funcionamento.

Em terceiro lugar, é normal que a convivência com o descaso e as enormes dificuldades relatadas pelo nosso anônimo professor o torne descrente de que acontecerá alguma mudança. Mas este talvez seja o efeito mais perverso das péssimas condições de exercício da profissão. A esperança é uma das mais poderosas armas nas mãos do professor. A nossa tarefa cotidiana é afirmar aos nossos alunos que é possível melhorar, superar obstáculos, desde aqueles do aprendizado até os mais profundos.

Em quarto lugar, a sua proposta de federalização das escolas públicas não deve ser desprezada, mesmo que sua efetivação seja difícil. Mas o mérito está correto: a educação deveria ter por parte da União uma participação mais efetiva, especialmente a educação básica. Esse foi um dos principais eixos do debate ocorrido na CONAE.

Por fim, não considero que as decisões da CONAE sejam “conversa pra boi dormir”, mas também não se constituem em fórmulas mágicas. O mundo continua tão complicado após o término da Conferência quanto estava antes. E todos nós estamos nos perguntando sobre o que fazer para que as propostas aprovadas se tornem realidade.

Bem, a história nos mostra que conquistar uma educação de qualidade dependerá da mobilização da sociedade, especialmente daqueles que são os responsáveis pela formação de nossas crianças.

Não perder as esperanças e lutas por elas é fundamental!

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