Em 1997, por meio da Lei nº. 9478, o então presidente
Fernando Henrique Cardoso, com o apoio de sua maioria parlamentar, pôs fim ao
monopólio da Petrobrás. Esta referida Lei obrigou que a empresa entregasse a
ANP os dados de pesquisa sobre bacias petrolíferas e abriu a possibilidade de
que qualquer empresa constituída sob as leis brasileiras, mesmo que de fato
sendo uma subsidiária dos grandes conglomerados estrangeiros, pudesse explorar
as riquezas nacionais.
De lá para cá parte da produção petrolífera passou para as mãos
de grandes empresas internacionais. Desde que o monopólio da Petrobrás foi
quebrado foram realizados nove leilões. Neste processo foram privatizados cerca
de 280 blocos, beneficiando 75 empresas privadas. Metade delas é constituída
por multinacionais que atuam no Brasil.
Nos próximos dias 14 e 15 de maio, na cidade do Rio de
Janeiro, o povo brasileiro presenciará mais uma ação de lesa-pátria. Refiro-me
a realização de mais um leilão de bacias petrolíferas pela Agência Nacional do
Petróleo - ANP.
O tamanho das reservas
colocadas à disposição das empresas privadas na
11ª Rodada de Licitações de Blocos Exploratórios é alarmante e já rendeu
inúmeras denúncias por parte das entidades representativas dos trabalhadores
petroleiros em todo o Brasil. O que tem contrastado com o silêncio cúmplice do
governo brasileiro, da diretoria da Petrobras e da ANP, que são os verdadeiros
promotores desta nova rodada entreguista e antinacional.
A ANP leiloará 289 blocos exploratórios, em todo o Brasil,
sendo 123 em terra e 166 no mar. As áreas escolhidas estão distribuídas em 11
bacias sedimentares (localizadas nas regiões Norte e Nordeste, além do Estado
do Espírito Santo). As estimativas produtivas das onze áreas que serão
leiloadas é surpreendente. Fala-se em uma produção de 7 bilhões de barris. Para
se ter uma idéia, isto equivale a metade das reservas brasileiras reconhecidas,
que, atualmente, somam 14 bilhões de barris.
Dentre os produtores de petróleo, o Brasil é um dos países
onde o estado tem menor participação governamental nos lucros auferidos pela
extração e comercialização da riqueza do subsolo. Enquanto a média de
participação governamental oscila em menos de 20% em nosso país, na China,
Líbia, Venezuela e Rússia esta participação é maior que 90%, no Reino Unido e
nos EUA é de quase 60%.
A imprensa e o próprio governo, pelo menos de vez em quando,
comparam a descoberta de novas reservas energéticas, a descoberta de um bilhete
premiado. pois bem, o Brasil está leiloando esse bilhete premiado para que as
nações estrangeiras explorem os seus benefícios e se conforma em que menos de
20% do seu valor seja revertido para o fundo público, seja por meio de bônus de
assinatura, participação especial ou royalties.
As migalhas vão para a educação? Apenas uma parte!
Enquanto entregamos as jóias da coroa para os estrangeiros, o
parlamento, os governadores, os prefeitos e a comunidade educacional está
consumida em discutir como dividir as sobras, ou seja, qual a melhor forma de
repartir os royalties.
Já comentei acerca do pronunciamento da Presidenta Dilma no
dia 1º de maio e sobre o teor do projeto de lei sobre destinação de royalties
para educação.
É angustiante ver que todo este debate é sobre cerca de, no
máximo, 10% do que representa a produção de petróleo. Os 90% restante estão
sendo entregues de forma acintosa aos conglomerados internacionais.
Não foi Dilma quer inventou este processo de quebra do monopólio
da Petrobrás e entrega desavergonhada do nosso patrimônio e de nossas riquezas,
mas ela é responsável por dar continuidade. A onda privatista, que começou com
Collor, que se consolidou nos governos de Fernando Henrique Cardoso, que teve
continuidade nos dois governos de Lula, agora continua firme e forte no governo
Dilma.
Bons tempos em que os estudantes brasileiros, liderados pela
UNE, iam às ruas para lutar para que fosse estabelecido o monopólio da produção
de petróleo. Hoje, ainda se vai às ruas
para que 100% dos royalties sejam destinados à educação, mas suas lideranças
enfiam a cabeça em um profundo buraco se forem chamadas a criticar a postura
entreguista do atual governo. Sinal dos tempos!
2 comentários:
Excelente análise, Luis. Nem precisaríamos brigar tanto pelos 100% dos royalties para a educação se a União ficasse com 60% dos lucros da extração feita pelas empresas estrangeiras, como dizes que são os contratos nos Estados Unidos... Nos digladiamos pela partilha interna das migalhas que caem debaixo da mesa, deixando os pratos fartos serem comidos pelo capital estrangeiro... Vital
Parabéns Luiz, clareza e objetividade no tema.Chega de embromação política.
Suely
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