Acaba de sair do forno mais uma Medida
Provisória do governo federal. Trata-se da MP nº. 614. Aparentemente a mesma
teria sido editada para corrigir os "erros" constante da Lei nº.
12772, aprovada no ano passado e que trata da reestruturação do plano de
carreira. Já tratei este tema neste espaço virtual, mas vamos recordar quais
eram as polêmicas que envolviam o assunto.
1º. A Lei citada estabeleceu que o "ingresso
na Carreira de Magistério Superior ocorrerá sempre no primeiro nível da Classe
de Professor Auxiliar, mediante aprovação em concurso público de provas e
títulos". E que no "concurso público de que trata o caput, será
exigido o diploma de curso superior em nível de graduação". A exigência de
apenas graduação mereceu destaque na mídia e pronta resposta do MEC dizendo que
havia ocorrido um erro. Porém, pouco destaque teve para o caput do artigo, ou
seja, para o fato de que exigir graduação estava diretamente vinculado a
enquadrar os novos professores na classe de Professor Auxiliar.
2º. As universidades estabelecem, por
meio de sua autonomia constitucional, as exigências de seus concursos. Como
regra a exigência tem sido doutorado, por isso que nas instituições públicas federais
temos já 48% de professores doutores. Mas existem exceções, motivadas por
especificidade de áreas do conhecimento ou por dificuldades em determinadas
regiões do país.
3º. Hoje, ao exigir titulação de doutor,
a universidade garante que o novo professor seja enquadrado como professor
adjunto, ou seja, que perceba vencimento equivalente a sua qualificação. Este
dispositivo foi alterado pela referida lei.
A Medida Provisória nº. 614, publicada no dia de hoje não
resolveu o problema. O que o governo está propondo?
1º. Manteve o dispositivo de que o professor iniciará sua
carreira no primeiro nível da Classe de Professor Auxiliar;
2º. Corrigiu o problema da exigência para ingresso,
estabelecendo como regra o título de doutor, mas prevendo exceção a ser
decidida pelo colegiado de direção das instituições de ensino; e
3º. Criou uma espécie de sub-classe dentro da Classe A (a do
Professor Auxiliar). Assim, dentro desta Classe teremos três tipos de
professores: Professor Auxiliar, Professor Assistente A e Professor Adjunto A,
com salários diferentes e menores do que os seus equivalente com igual
qualificação em outras classes da carreira.
O que isto quer dizer?
1º. Que o erro do governo somente aconteceu no caso da exigência,
mas que a intenção era prender os novos professores em nível mais baixo da
carreira durante um tempo, pressionando os gastos com salário para baixo.
2º. Que agora, corrigindo o pequeno erro, o governo está
criando uma geladeira onde serão colocados os novos professores que, mesmo
formalmente recebendo pela qualificação exigida no certame seletivo, ganharão
salários menores que os seus semelhantes.
Exemplo: um professor adjunto (Classe C, Nível 1), que
possui doutorado, em 2013 recebe de vencimento em 40 horas a fortuna de R$ 4.015,41.
Mas um novo professor com doutorado, selecionado pós a edição da Medida Provisória,
será classificado como Professor Adjunto A e seu vencimento em 40 horas será de
R$ 3.677,52. Receberá durante parte de sua vida profissional 8,4% menos do que
os que possuem a mesma qualificação.
A MP não resolve o problema, mantém uma interferência na
autonomia universitária e cria uma absurda e inaceitável geladeira para os
professores ingressantes.
Como afirmei acima, a criatividade não tem limite.
3 comentários:
Além da interferência na autonomia universitária e no congelamento salarial,os professores da educação superior pública, enquanto trabalhadores, precisam ser disciplinados, mantidos sob controle e rédea curta. Com um salário tão pequeno, corre-se o risco de se ter, a curto e médio, professores com formação duvidosa e, no topo, uma elite disputando as migalhas advindas dos recursos aos projetos de pesquisa, editais de fomento e similares. Isso é contraditório com um governo que se autoproclama dos "trabalhadores".
Raquel Moraes
É preciso dar o troco nesses políticos nas próximas eleições. A Dilma que me aguarde... Agora é preciso ter cuidado na escolha pra que não ocorra de escolhermos políticos que não coloquem a educação como prioridade e mudanças severas na lei para punir infratores, principalmente, corruptos.
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