Uma das grandes vitórias dos educadores brasileiros foi ter
conseguido inserir a Constituição Federal um percentual de vinculação de
impostos para a educação. Sem esta vinculação não teríamos a cobertura escolar
que temos hoje.
Os investimentos públicos em educação são fracos em nosso
país. Especialmente pelos desafios de acesso, permanência e sucesso que ainda
temos pela frente. Em 2011, oficialmente, este investimento girou em torno de
5,3% do PIB.
Comparar os gastos educacionais ao PIB é um indicador, mas
tais investimentos precisam ter fontes seguras (como a vinculação
constitucional e o salário-educação) e se materializa em cada orçamento de cada
ente federado. Sem esta clareza o percentual do PIB não se concretiza, vira uma
simbologia.
Os educadores lutam por 10% do PIB para a educação pública.
O governo apresentou 7%, depois autorizou o relator na Câmara a apresentar 8%,
tentou incluir os gastos com o setor privado e na votação teve que engolir a
vitória dos setores populares com a decisão de 10% do PIB para a rede pública.
Agora novamente o governo, por meio do seu fiel escudeiro
senador Pimentel (PT/CE) tenta novamente reduzir este percentual, mudando o
indicador para incluir gastos com bolsas e subvenções e assim reduzir para algo
em torno de 8,5% do PIB o investimento direto na rede pública.
Para além desta polêmica há a necessidade de se estabelecer
de onde virá o dinheiro para complementar os atuais patamares de gastos. Quanto
mais claro estiver esta fonte, mais garantia teremos de cumprir a meta e
crescermos os investimentos.
Depois de ser uma bandeira apenas do movimento social, o
governo decidiu assumir a destinação dos royalties como fonte complementar a
educação. Acontece que essa fonte não é suficiente e no formato proposto pelo
governo muito menos impactante será.
Vamos esclarecer bem esta questão:
1.
Em 2011 os royalties repassados para os entes
federados foi de 12,9 bilhões de reais. Também foram repassados a título de participação
especial um montante de 12,6 bilhões de reais.
2.
Os recursos arrecadados na área do pré-sal e
devidos ao Estado Brasileiro vão na sua totalidade para o Fundo Soberano.
Segundo o relatório de gestão teríamos depositados neste fundo algo em torno de
15 bilhões. Isto sem levar em consideração que no final de 2012 o governo
assaltou este saldo e retirou 12,8 bilhões para amortizar a dívida pública.
3.
Acabaram de ser licitadas novas áreas de
extração de petróleo e gás, as quais passarão a produzir daqui a alguns anos
(cinco anos mais ou menos) e que devem aumentar a produção nacional.
O que o governo está propondo:
1.
Que não vá para a educação NADA dos royalties e
participação especial de contratos antigos (valores descritos no ítem 01 acima);
2.
Que 100% dos royalties dos contratos novos, que
começarão a produzir na metade da vigência do PNE sejam destinados à educação.
3.
Que 50% dos dividendos do dinheiro do Fundo
Soberano seja destinado a educação.
Quanto isso representa e qual o impacto nas necessidades do
PNE?
Bem, não é fácil fazer esta conta, principalmente por que
não há informação oficial de quanto é a estimativa de royalties das áreas
novas, mas extraoficialmente fala-se em potencial para representar metade do
que hoje se produz, ou seja, de gerar 50% dos atuais royalties.
Dados do relatório de gestão do Fundo Soberano de 2011
mostram que os dividendos dos recursos depositados pela Petrobrás (quem extrai
na área do pré-sal) foram de apenas 444,8 milhões de reais, mas devem crescer
no próximo período.
Somando tudo teríamos algo em torno de 13,8 bilhões de
recursos novos para educação por ano.
O PIB de 2012 foi de 4,3 trilhões de reais. Não existem
dados do investimento em educação realizados, mas caso tenha se repetido o
desempenho de 2011, isto significaria que a educação aplicou algo em torno de
233 bilhões ou 5,3% do PIB, faltando portanto 206 bilhões para chegar aos 10%.
É verdade que este valor, segundo a Meta 20, deva ser
alcançado ao final de dez anos, mas fica evidente que formato proposto pelo
governo é muito insuficiente.
Caso prevaleça a proposta da sociedade civil, ou seja, que
TODOS os recursos oriundos de royalties e participação especial, seja em terra
ou no mar, seja no pós sal, seja no pré-sal, sejam direcionados a educação, aí
sim estes recursos se tornariam mais significativos, mesmo que não suficientes
para resolver todo o problema. Neste formato mais abrangente teríamos hoje algo
em torno de 53 bilhões, em números atualizados para 2012.
Então, lutar para que os recursos dos royalties e participação
especial sejam direcionados para a educação é importante, mas precisa ser ao
mesmo tempo coerente e não cair nas armadilhas da proposta do governo.
Dizer não a discussão é perder recursos novos para a
educação e transformar a luta por 10% em bandeira apenas de propaganda, para
ser realizada quem sabe somente no socialismo. Dizer somente sim a proposta do
governo é criar ilusões de soluções parciais e tornar mais incerta a
possibilidade de termos 10% do PIB pras educação pública.
É preciso exigir mais e com mais clareza. É preciso lutar
pelos 10% e brigar para que sejam estabelecidas novas fontes de financiamento
estáveis para a educação. Dentre elas (mas não a única) está a destinação de
100% dos royalties e participação especial para a educação. De forma abrangente
e sem restrições, envolvendo os recursos de todos os entes federados.
Um comentário:
Recopiando você; "Uma das grandes vitórias dos educadores brasileiros foi ter conseguido inserir a Constituição Federal um percentual de vinculação de impostos para a educação...." É importante sempre lembrar caro Luiz que esta vitória deveu-se ao Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública na Constituinte!!!! AÇão de movimentos sociais organizados é muito poderosa!!!
Postar um comentário