Pela primeira vez na história da política de fundos da
educação básica temos uma reformulação onde o governo federal não é o
protagonista do texto que está prestes a ser aprovado na Comissão Especial.
A educação básica teve a má sorte da data da renovação do
Fundeb coincidir com dois grandes problemas interligados: uma crise econômica sendo
enfrentada com aprofundamento da austeridade fiscal e o comando do país nas
mãos de um governo de extrema direita, capaz de colocar um lunático
no comando
do MEC e um pilantra no comando da Economia.
Na véspera da votação (prevista para dia 10 de março),
finalmente alguém com autoridade no governo resolveu entrar no circuito de
forma explicita. Trata-se do Secretário do Tesouro Nacional, senhor Mansueto
Almeida.
Segundo na hierarquia do Ministério da Economia e responsável
pela condução dos fortes cortes orçamentários, este senhor foi franco ao dizer
que o governo não sabe o quanto poderá aceitar de elevação na complementação da
União, mas que 20% é demais.
Vamos organizar o xadrez político para entender o que pode
acontecer semana que vem.
1.
O protagonista principal da tramitação é o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Felizmente para a educação básica, este
senhor virou o alvo preferido da base mais radical do bolsonarismo que está
engajado na convocatória dos atos do dia 15.03, propondo inclusive fechar o
Congresso e STF. Esse “ruído” no andar de cima pode ajudar a perdermos menos na
tramitação.
2.
Porém, Rodrigo Maia, que de santo não tem nada,
tenta ser o interlocutor junto a elite financeira e tem apoiado todos os
pacotes econômicos e, algumas vezes, disputando diretamente a primazia de
apresentação de medidas de austeridade. Trabalha com a tese de que o que
atrapalha as reformas é o governo e ele, cioso de suas responsabilidades, opera
para blindar a pauta econômica das maluquices governamentais e dos arroubos
autoritários do Bolsonaro. Assim, apesar de andar às turras com o governo, vive
lua de mel com o mercado financeiro. Isso o torna “sensível” aos apelos por responsabilidade
fiscal, frase adocicada para justificar cortes nas políticas sociais.
3.
A gestão de Paulo Guedes tem ojeriza a qualquer
vinculação e conseguiu convencer 27 senadores a patrocinarem uma PEC que
aprofunda a destruição do financiamento das políticas sociais. O Fundeb vai na
direção contrária a linha econômica que governa o país nesse momento. Então,
certamente ele e seus verdadeiros patrões (Bolsonaro é apenas o inquilino que
acha que é dono da casa, quem manda em Guedes é o capital financeiro) vão
pressionar para enxugar ao máximo a complementação da União, especialmente por
que ela está protegida dos contingenciamentos periódicos.
Assim, corremos o risco de ter sonhado com 40% de
complementação da União (ancorada em recursos novos), acordado com um relatório
patrocinado por Rodrigo Maia que reduziu para 20%, sendo parte dinheiro novo e
parte roubando dinheiro da alimentação, transporte e livro didático. E agora,
podemos ter uma semana em que os 20% passem a ser um teto sob risco de cair
para 15% ou até menos, inclusive mantendo a mexida no salário educação.
Pode piorar? Pode. Corre a informação nos bastidores de que
a relatora do texto teme que o Partido Novo (aquele composto de parlamentares
que consideram moderno retirar tudo quanto é direito dos trabalhadores) consiga
passar a sua emenda de voucher na educação básica.
Iniciamos uma semana decisiva para a tramitação do novo
Fundeb, inclusive para saber se realmente ele será uma boa novidade ou se
estará submetido a lógica fiscalista, perdendo a oportunidade de incidir
positivamente para a melhoria educacional que tanto almejamos, que tantos
políticos conservadores falam da boca para fora e que o governo Bolsonaro está
empenhado em destruir até o pouco que foi conquistado.
O resultado dependerá do comportamento de poderosos atores
sociais, mas tem um que pode ser decisivo: os que defendem uma escola pública
de qualidade, os educadores, estudantes, trabalhadores que possuem filhos nas
escolas atendidas pelo Fundeb.
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