domingo, 8 de março de 2020

Fundeb: na reta final o governo apareceu



Pela primeira vez na história da política de fundos da educação básica temos uma reformulação onde o governo federal não é o protagonista do texto que está prestes a ser aprovado na Comissão Especial.
A educação básica teve a má sorte da data da renovação do Fundeb coincidir com dois grandes problemas interligados: uma crise econômica sendo enfrentada com aprofundamento da austeridade fiscal e o comando do país nas mãos de um governo de extrema direita, capaz de colocar um lunático
no comando do MEC e um pilantra no comando da Economia.
Na véspera da votação (prevista para dia 10 de março), finalmente alguém com autoridade no governo resolveu entrar no circuito de forma explicita. Trata-se do Secretário do Tesouro Nacional, senhor Mansueto Almeida.
Segundo na hierarquia do Ministério da Economia e responsável pela condução dos fortes cortes orçamentários, este senhor foi franco ao dizer que o governo não sabe o quanto poderá aceitar de elevação na complementação da União, mas que 20% é demais.
Vamos organizar o xadrez político para entender o que pode acontecer semana que vem.
1.       O protagonista principal da tramitação é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Felizmente para a educação básica, este senhor virou o alvo preferido da base mais radical do bolsonarismo que está engajado na convocatória dos atos do dia 15.03, propondo inclusive fechar o Congresso e STF. Esse “ruído” no andar de cima pode ajudar a perdermos menos na tramitação.
2.       Porém, Rodrigo Maia, que de santo não tem nada, tenta ser o interlocutor junto a elite financeira e tem apoiado todos os pacotes econômicos e, algumas vezes, disputando diretamente a primazia de apresentação de medidas de austeridade. Trabalha com a tese de que o que atrapalha as reformas é o governo e ele, cioso de suas responsabilidades, opera para blindar a pauta econômica das maluquices governamentais e dos arroubos autoritários do Bolsonaro. Assim, apesar de andar às turras com o governo, vive lua de mel com o mercado financeiro. Isso o torna “sensível” aos apelos por responsabilidade fiscal, frase adocicada para justificar cortes nas políticas sociais.
3.       A gestão de Paulo Guedes tem ojeriza a qualquer vinculação e conseguiu convencer 27 senadores a patrocinarem uma PEC que aprofunda a destruição do financiamento das políticas sociais. O Fundeb vai na direção contrária a linha econômica que governa o país nesse momento. Então, certamente ele e seus verdadeiros patrões (Bolsonaro é apenas o inquilino que acha que é dono da casa, quem manda em Guedes é o capital financeiro) vão pressionar para enxugar ao máximo a complementação da União, especialmente por que ela está protegida dos contingenciamentos periódicos.
Assim, corremos o risco de ter sonhado com 40% de complementação da União (ancorada em recursos novos), acordado com um relatório patrocinado por Rodrigo Maia que reduziu para 20%, sendo parte dinheiro novo e parte roubando dinheiro da alimentação, transporte e livro didático. E agora, podemos ter uma semana em que os 20% passem a ser um teto sob risco de cair para 15% ou até menos, inclusive mantendo a mexida no salário educação.
Pode piorar? Pode. Corre a informação nos bastidores de que a relatora do texto teme que o Partido Novo (aquele composto de parlamentares que consideram moderno retirar tudo quanto é direito dos trabalhadores) consiga passar a sua emenda de voucher na educação básica.
Iniciamos uma semana decisiva para a tramitação do novo Fundeb, inclusive para saber se realmente ele será uma boa novidade ou se estará submetido a lógica fiscalista, perdendo a oportunidade de incidir positivamente para a melhoria educacional que tanto almejamos, que tantos políticos conservadores falam da boca para fora e que o governo Bolsonaro está empenhado em destruir até o pouco que foi conquistado.
O resultado dependerá do comportamento de poderosos atores sociais, mas tem um que pode ser decisivo: os que defendem uma escola pública de qualidade, os educadores, estudantes, trabalhadores que possuem filhos nas escolas atendidas pelo Fundeb.

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