O pronunciamento da última semana
feito pelo Presidente foi uma jogada calculada, mas com alta margem de risco. Quais
as intenções manifestas do presidente com o pronunciamento e e entrevistas?
1. Construir
uma narrativa que minimize a pandemia, reforçando discurso de histeria;
2. Dar
peso para os efeitos nocivos da paralisia da economia, especialmente para t5rabalho
informal e pequenos empresários;
3. Jogar
a responsabilidade da recessão nas costas dos governadores, que exageraram na
dose de quarentena.
Não saíram pesquisas sobre o
reflexo deste ato na população brasileira, mas nos chegam alguns indícios
preocupantes e outros positivos.
De um lado, aumentou o isolamento
político do presidente, como ficou claro na reação unida dos governadores e na
dinâmica operada por Maia e aprovar medidas econômicas por fora do diálogo com
o Planalto. A repercussão no segmento populacional que já avaliava negativamente
o governo o pronunciamento provocou uma maior radicalização, o que aumentou a
pressão por sua saída.
De outro lado, unificou a tropa
bolsonarista com uma bandeira para suas redes e, inclusive, para voltar às ruas
(já que quarentena é coisa para vagabundo esquerdista). O discurso de que o
Brasil não pode parar ganhou adeptos reais e está se transformando numa
narrativa que desvia a atenção da culpa do governo que teima em não proteger a
população da recessão e do vírus.
Qual o risco? Todo o cálculo do
Bolsonaro parte de um pressuposto temerário, para não dizer irresponsável, de
que pandemia será mais fraca, que o número de mortes não será impactante e que
a cloroquina vai curar os doentes. Tem tudo para dar errado. Vejamos:
1. A
“cura” oferecida não tem comprovação cientifica e tem fortes questionamentos de
pesquisas sérias. É tipo aquela pílula milagrosa feita por um professor da USP.
Vacina vai custar e todas as autoridades médicas mostram que isso vai custar um
pouco.
2. A
pandemia continua crescendo, o ritmo até aumentou no dia de hoje. A curva é
compatível com o ocorrido em outros países. É verdade que características locais
influenciam, mas não temos muitos pontos positivos a agregar como variável,
infelizmente.
3. O
isolamento social continua sendo a medida mais eficaz contra o vírus. Estimular
a quebra ou encurtamento da quarentena tem como resultado prático o aumento da contaminação.
E, com o aumento de mortes e contaminados a pressão por retorno a quarentena
mais hard será muito forte.
4. A
recessão é inevitável, é um efeito colateral da paralisia da frágil economia
brasileira. O que pode ser feito é um conjunto de medidas protetivas, as quais
não fazem parte da agenda ultraliberal do Paulo Guedes (que aliás anda sumido,
estou inclusive bastante preocupado com a saúde dele) e de Bolsonaro. Mas também
não estava na agenda de Trump e de outros líderes mundiais.
Um aumento da pandemia e uma
recessão, para além dos efeitos nefastos em termos de saúde e renda, mudam
radicalmente o humor da população com seus governos. E a estratégia de Bolsonaro
de se livrar do desgaste, construindo uma narrativa de que tudo isso é uma
trama que une mídia, partidos conservadores e de esquerda e sei lá mais quem,
não vai funcionar.
Olhando pelo lado das vidas que
devíamos estar empenhados em salvar, a estratégia do presidente é criminosa.
Olhando pelo lado dos empregos
que devíamos estar empenhados em preservar, a inanição do governo é criminosa.
Mas talvez mantenha uma parte do
seu eleitorado, que o elegeu acreditando numa overdose de fakenews, em torno de
sua política. O tamanho desse eleitorado, o quanto ele vai desidratar e se isso
pode viabilizar que o país se livre deste irresponsável de forma mais breve,
ainda são questões em aberto.
Mas não faltam desejos de que ele
fique conhecido como Bolsonaro, o breve.
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