Ontem (18 de maio) tive a oportunidade de participar de
debate sobre o documento Pátria Educadora. O evento foi promovido pela
Faculdade de Educação da Unicamp e compus uma mesa com o professor Luiz Carlos
Freitas (Unicamp) e com a professora Gilda Cardoso (Ufes).
As minhas posições (expressas neste espaço virtual) e as do
professor Freitas (expostas no blog avaliação educacional) são conhecidas.
Prefiro socializar pontos muito relevantes que a professora Gilda nos trouxe na
tarde de ontem. Espero ser fiel nesta tarefa.
Em primeiro lugar, Gilda nos alertou para um fato por demais
relevante: as ideias presentes no texto, as quais aparecem por vezes pouco
desenvolvidas, estavam presentes e muito mais elaboradas em documento produzido
no mesmo espaço institucional (SAE) e pelo mesmo ator (Mangabeira Unger) no ano
de 2009. O documento em questão se chama Duas Iniciativas Para Mudar a
Educação no Brasil e pode ser
acessado em http://migre.me/pVcgm.
E as informações
apresentadas mostram que, caso sejam incorporadas pelo MEC e pela Presidência
da República (tão desesperada em apresentar novidades que não sejam originárias
da Operação Lava Jato ou de ajuste fiscal!), representarão mudanças federativas
muito nocivas, para dizer o mínimo.
Quais pontos estavam
presentes no documento de 2009 (de forma mais aprofundada) e que estão no
documento atual de forma menos clara?
1.
A visão
de que é necessária uma “reconciliação” da gestão local, o qual pressupõe
aprofundar os instrumentos existentes, mas principalmente desenvolver procedimentos
corretivos para consertar redes escolares locais defeituosas, os quais incluiria
medidas de premiação, punição e troca de gestores).
2.
Defende o caminho americano, ou seja, a
judicialização da relação federativa educacional. No caso de queda comprovada
de qualidade do ensino, o juiz tem poderes para contingenciar recursos
orçamentários e nomear gestores independentes para os sistemas de ensino
locais.
3.
Criação
de uma força tarefa (Gilda chamou de Swat, mas acho que podemos chamar de Força
Nacional Educacional, já que a de segurança pública já existe). A mesma estaria
apta a “socorrer” sistemas educacionais com desempenho insatisfatório, mesmo
após apoio da União, flexibilizando o federalismo.
4.
Apresenta
o conceito de “Intervenção de forma corretiva e temporária”, ou seja, propõe
alterar a constituição para termos intervenção federal em caso de queda dos
indicadores de desempenho (IDEB, no caso).
5.
Dentre as
mudanças legais (que no documento Pátria Educadora estão genéricas, mas citadas
como necessárias numa fase seguinte) introduz Ação de Responsabilidade
Educacional (ARE). Determina que as ações de colaboração entre os entes
federados serão voluntárias. Qualidade determinada por índice e participação da
União na “colaboração” somente se ente federado aceitá-lo.
Para Gilda a “superficialidade
teórico-conceitual no tratamento da temática é um adensamento proposital, pois
já existe um conjunto de medidas a serem adotas que indicam uma forte indução
na federação elidindo qualquer possibilidade de coordenação e de colaboração
federativa”.
Concordo em parte com ele. Acho
gravíssima a ideia de federalismo de Mangabeira e o não detalhamento pode ser o
que ela afirma. Contudo, pode ser também pare de uma estratégia que funcionaria
mais ou menos assim:
1.
Em 2009 o autor apresentou ideais e elas não
foram incorporadas, ficaram na geladeira, mesmo que conceitos importantes
estivessem sendo praticados pelo governo (avaliação em larga escala,
ranqueamento, etc.).
2.
Apareceu, com a crise econômica e política, uma
oportunidade de coordenar um processo em que as ideais dele poderiam voltar a
ser discutidas. Porém, a experiência manda ir devagar com o andor, afinal de
contas o governo de Dilma foi eleito pregando governar pela esquerda e o “cavalo
de pau” deve ser feito de forma “lenta e gradual”.
3.
Assim, o autor não desenvolveu no documento
Pátria educadora uma estratégia de colocar em pratica as ideias de maneira
gradual, testando a aderência das mesmas, podendo ir aprofundando seus desdobramentos
na medida em que a lógica for sendo aceita e praticada.
Fecho este relato com uma afirmação que tenho repetido: em
2009 tal documento não teve incidência por que o governo não estava em crise e
não precisava das ideias ali presentes. Agora o quadro é bem distinto.
Seria importante saber o que os demais entes federados, por
meio de suas representações institucionais, acham de tudo que está escrito nos
dois documentos.
Um comentário:
Aqui no Pará a Educação Básica beira o caos pela total irresponsabilidade dos gestores, do maior ao menor, menos o pessoal das escolas. A greve dos Professores da Rede Estadual ultrapassa 55 dias e o governo vem descumprindo a Lei sistematicamente com o apoio da "justiça" e do "legislativo" local, e de boa parcela de seus cupinchas,e também, penaliza ainda mais os trabalhadores com descontos dos dias parados. Ao que parece, alguém está perdendo a cabeça e partindo para o confronto direto... Foi incendiada nessa madrugada no Município de Alenquer uma Escola Estadual, e há fortes indícios que foi proposital. Será uma rebelião civil a caminho? É bom lembrar que o povo paraense vem sendo humilhado de forma extremamente violenta pela elite local e nacional;e, não é bom desconsiderar, que na veia da maioria dos paraense ainda corre o sangue do povo cabano... Parece que a paciência está terminando.
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