Nesta
sexta-feira (22 de maio) o governo federal anunciou um corte de 70 bilhões no
Orçamento Federal para 2015. Terceira pasta mais afetada pelo corte no
Orçamento anunciado pelo governo, o Ministério da Educação informou, por meio
de nota, que “os programas e ações estruturantes e essenciais” estão garantidos
apesar da redução em R$ 9,42 bilhões nos seus recursos.
Não consegui entender a
origem do número divulgado pelo release do Ministério do Planejamento sobre os
cortes efetuados no MEC. A única coisa clara é que em 2015 serão cortados do
valor aprovado pelo Congresso Nacional o montante de 9,42 bilhões. Porém, não
consegui encontrar lógica sobre o montante de R$ 48,81 bilhões (o qual seria o
valor aprovado pelo Congresso!).
Em 2014, considerando o
que efetivamente foi pago pelo MEC tivemos um gasto de R$ 79,7 bilhões, não
sendo factível que o valor aprovado tenha caído para R$ 48,8 bilhões. No Portal
do Senado encontrei o valor aprovado de R$ 79,3 bilhões.
Os nomes dos programas
podem induzir a erros de análise. Por exemplo, o pagamento de funcionários dos
IFETs está alocado no Programa Educação básica e não no Programa Educação
Profissional e Tecnológica. Da mesma forma, o pagamento do pessoal ativo das
universidades está alocado no Programa Gestão e manutenção do Ministério da
Educação e não no Programa Educação Superior. Isso dificulta o entendimento do
perfil dos gastos (e agora dos cortes).
Bem, mas o importante é
entender as consequências de um corte de 9,4 bilhões sobre um orçamento que não
registraria crescimento sobre o executado do ano anterior.
Em primeiro lugar, existe
uma parte significativa dos gastos que não são passíveis de corte:
1.
Remuneração atual dos servidores federais
da educação (MEC-Sede, Universidades, IFETs, INEP, FNDE e demais órgãos);
2.
Complementação da União para o Fundeb;
Em segundo lugar, existem
os programas que o governo possui dificuldade para operar cortes, especialmente
pelas consequências federativas e de descontinuidade da prestação de serviços
essenciais, sendo exemplares:
1.
Programa Nacional de Livro Didático;
2.
Programa Nacional de Alimentação Escolar;
3.
Programa Nacional de Transporte Escolar.
Em terceiro, existem
programas e ações que teoricamente podem ser cortados 9parcialmente, pelo
menos), mas que provocam transtornos consideráveis na prestação dos serviços
educacionais. Podemos citar alguns:
1.
Serviço de vigilância das Universidades e
IFETs;
2.
Serviço de limpeza das Universidades e
IFETs;
3.
Programa Dinheiro Direto na Escola (Educação
Básica);
Em quarto, existem
programas considerados prioritários pelo governo e que significam repasse de
recursos públicos para a área privada, os quais também podem sofrer cortes,
mesmo que o governo venha sofrendo pressão dos interessados (especialmente das
escolas privadas) para que isso não ocorra:
1.
Pronatec;
2.
FIES;
Em quinto, existem
programas destinados a expandir a rede pública educacional, sendo alguns de
construção e ampliação de universidades e IFETs e outros de apoio federal para
que estados e municípios consigam cumprir suas obrigações. Poderão ser extintos
ou andar a passos de cágado os programas:
1.
Pro-infância (financiamento de unidades de
educação infantil para os municípios);
2.
Apoio a reestruturação das escolas de
ensino médio (estados);
3.
Construção e ampliação de IFETs;
4.
Construção e ampliação de universidades.
E por último, temos
atividades importantes setoriais que farão falta, diminuirão a incidência
federal no apoio a medidas para corrigir problemas educacionais, sejam
programas de apoio a formação inicial e continuada dos professores,
aparelhamento de bibliotecas escolares, incentivo a pesquisa e prática docente
universitária, etc.
Ou seja, o montante do
corte poderá afetar diversas atividades, todas importantes, inclusive
precarizando serviços essenciais.
Os cortes preventivos,
feitos nos primeiros quatro meses do ano, já mostraram o quanto é nociva a
medida governamental. O anúncio somente agravará o quadro.
Está, desde o início do
ano, intensa disputa sobre o que preservar, onde não cortar. O setor privado
está conseguindo importantes vitórias, o setor das universidades está
acumulando sucessivas derrotas. É esta disputa que se esconde por trás de
frases tais como “os programas e ações estruturantes e essenciais estão
garantidos”, ou coisas do gênero. Qual o critério da essencialidade? A força
política e social para impor tal escolha e a possibilidade de oferecer
dividendos eleitorais imediatos ao governo.
E para que todo este “esforço
fiscal”? Para honrar os compromissos com os credores de nossa dívida pública.
Na sua maioria são bancos, grandes investidores, fundos de pensão e aplicadores
em papéis governamentais. O corte é, por um lado, para garantir a estes
senhores que o dinheiro para resgatar os papéis existe e está guardado. E por
outro lado, manter a atratividade de capitais voláteis que, migram feito
gafanhotos de país em país atrás de boas taxas de juros.
O retorno para o país do
dinheiro gasto com estes senhores rende menos do que foi aplicado. O dinheiro
aplicado na educação praticamente retorna em dobro, por que movimenta a
economia, gera renda, compras de produtos, prestação de serviços.
A economia está
praticamente paralisada e a opção do governo é retirar de circulação produtiva
70 bilhões de reais. Tenho enorme dificuldade para aceitar o argumento de que
tal conduta garantirá a retomada do crescimento econômico.
Bem, independente da
polêmica sobre os efeitos do amargo remédio sobre o paciente (povo brasileiro),
está claro que a medida coloca uma pá de cal em qualquer esperança de
construção de uma pátria educadora digna do nome, pelo menos no mandato da
presidenta Dilma.
3 comentários:
Enquanto esse desmantelamento orçamentário ocorre na esfera federal, aqui no Pará o governo anuncia a construção de 50 escolas técnicas estaduais, com recursos da ordem de 500 milhões emprestados desses bancos galfadores de nossos suados impostos. O detalhe, é que esse desgoverno tucano do Pará, deixou várias escolas técnicas abandonas ainda nas paredes e várias escolas de Ensino Médio estão sendo reformadas pela segunda vez consecutiva porque a empresa anterior surrupiou os recursos e o que fez de obra teve que ser desmanchado e refeito, pura incompetência. Enquanto isso ele reduz a carga horária dos professores e consequentemente seus salários e contrata sem concurso vários professores que não aprenderam nada nos parfores da vida e de certas faculdades caça-níqueis, e muitos alunos estão sem aulas sem professores e outros permanecem em greve - estamos "fritos" literalmente. Outro detalhe que chama a atenção, é que o próprio governador anunciou crescimento nas receitas estaduais de cerca de 40%. No entanto, sua "muquiranice" vem mantendo o Pará em último lugar no Ideb. Tomara que a Dilma dê um Ministério pra ele, já que ela vive bajulando esses hipócritas do PSDB/PFLs e por tabela nos livraríamos desse estrupício.
“A outra face do Estado de São Paulo... ”
Nosso informativo mostra o sofrimento das crianças que estão sendo obrigadas a andar quilômetros a pé, pois o Governador Geraldo Alckmin esta cancelando o transporte escolar gratuito.
http://easycoop.com.br/Informativos/View.aspx?idConteudo=530
Tentar articular por meio de um Conselho a efeetivação dos efeitos do PNE - o regime de colaboração; Piso e Carreira é sim um avanço no contexto de crise. Vale à pena confiar e continuarlutar para isso acontecer. Valeu a informação camarada.
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