Os primeiros quinze dias
de Janine no MEC ainda podem não ser suficientes para uma conclusão do que pode
acontecer Na sua passagem pela pasta, mas já podemos iniciar uma leitura das
entrelinhas de suas falas e tentar interpretar seus gestos (quando os mesmos
não são explícitos).
Duas visitas deram muito
o que falar.
A primeira foi a ida do
Ministro a Fundação Lemann. Esta fundação, assim como outras criadas pelo setor
empresarial, buscam influenciar os rumos das políticas públicas da educação,
inclusive por meio de parcerias e venda de ideias e produtos para aplicação nas
escolas públicas. Criada por um dos homens mais ricos do país (controlador da
maior rede de cervejas e principais sites de comércio eletrônico e que tem a
pretensão de ser uma espécie de Bill Gates brasileiro), a mesma defende a
introdução do locus empresarial no funcionamento da escola pública, ideia
difundida amplamente no país e criticada por inúmeros pesquisadores
respeitados.
Não foi acertada a ida.
Não que considere errado que um ministro da Educação dialogue com todos os
setores, dentre eles os mais poderosos. Pelo contrário, o problema não está em
ter ido, mas na sinalização que ter escolhido como primeiro lugar para ir tenha
sido uma fundação empresarial no meio de uma intensa disputa pelo fundo público
entre o setor público e setor privado.
A segunda visita me
pareceu uma clara tentativa de minimizar as repercussões negativas da primeira.
O ministro visitou o Cenpec, que mantido também por doações empresariais, goza
de melhor conceito e desenvolve interessantes trabalhos de assessoramento. O
mais importante não foi a visita em si, mas as palavras que foram ditas nesta
conversa. Destaco alguns trechos e os comento, tentando entender o sentido do
dito e esperando o desdobramento no feito.
Sobre o processo de
avaliação da educação básica, pelo que foi reproduzido pelo release do Cenpec,
o ministro expressou uma posição interessante. Teria dito que, na educação
básica, onde o ensino é obrigatório, as escolas que estão no fim da fila não
devem receber nenhuma punição. “Jamais podemos lidar com recursos necessários
como se eles fossem méritos”, defendeu.
“Não podemos deixar
apenas a lógica da competição prevalecer, se não, ela se torna perversa”. Sobre
as avaliações, Janine ponderou sobre seus usos: “uma coisa é avaliar um
ambiente de classe média, onde várias coisas estão garantidas. Outra é medir
uma febre muito alta que precisa ser tratada de forma emergencial”.
Este posicionamento foi
muito interessante, posto que o uso das avaliações no sentido da competição
está virando regra. Além disso, muitos estudos mostram que o peso maior na
composição das notas dos alunos no IDEB possui maior correlação com as
condições socioeconômicas do que com as condições específicas das escolas (ver
Corbucci e Zen, 2013 por exemplo). Agora é esperar que o ministro seja
consequente e revise a forma como as avaliações vem sendo utilizadas e
desestimule a prática de premiação e punição a partir dos resultados das
avaliações produzidas pelo ministério.
Um outro assunto
conversado na visita foi sobre o cumprimento das metas do PNE, muitas das quais
possuem prazos bem curtos. Questionado sobre a influência do Plano Nacional de
Educação sobre as políticas do Ministério, Janine afirmou que “o Plano Nacional
de Educação é uma espécie de constituição da educação, que a sociedade
brasileira definiu por meio de seus representantes. Ele é um mapa de estrada
sobre o que devemos fazer nos próximos nove anos e meio. Ele é ambicioso e isso
é bom porque a sociedade brasileira tem que colocar metas elevadas. Então, é
importante que o MEC, pela secretaria de articulação com estados e municípios e
também por todos os seus setores tenha isso como uma espécie de guia, um texto
que deve ser usado como referencial para melhorar a educação. Ele não dá só
finalidades, mas também os caminhos”.
Fiquei muito feliz com
esta fala. Realmente um dos problemas que tivemos na vigência do plano anterior
foi o fato de que o planejamento ministerial não se referenciava nas metas
legais, pelo contrário. Bem, de sua fala é esperado que:
1. Seja instituída imediatamente a comissão para
regulamentar o Custo Aluno Qualidade inicial, cujo prazo se encerra em 24 de
junho de 2016. E é uma estratégia que depende em tudo da iniciativa do
ministro.
2. Seja tomada a providência para regulamentar o
disposto no artigo 7º e instituída a instância de pactuação entre União,
Estados e Municípios.
3. Seja apresentada a diretriz governamental par
o cumprimento das metas diretamente relacionadas ao MEC, com destaque para as
metas 11 e 12.
Por fim, esta semana li
uma nota da assessoria de comunicação do MEC (forma institucional de se
apresentar uma opinião oficial sem expor o titular da pasta) sobre a recente
decisão do STF sobre a constitucionalidade da Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998, que instituiu o modelo das
organizações sociais.
Como não é normal que o MEC se
pronuncie sobre julgamentos feitos no STF, especialmente de uma lei que não é
específica da área, é necessário entender as suas motivações (considerando que
a assessoria se expressou em nome do comandante da pasta). Em primeiro lugar há
no texto uma defesa da lógica embutida na referida norma, ou seja, a atual
gestão do MEC concorda com a entrega (este termo não é obviamente usado na
nota!) de atribuições estatais para organizações sociais, inclusive “em
atividades dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento
tecnológico”. Em segundo lugar, a visão oficial do MEC é de que isto “não é uma
terceirização de atividade estatal, mas um mecanismo de parceria para fomentar
as atividades previstas na lei”.
E por fim, o mais importante e
o que acho que motivou a inusitada nota. Afirma que é “equivocada a alegação de
que a decisão pela constitucionalidade do modelo das organizações sociais acaba
com a necessidade de contratação de docentes e servidores nas instituições federais
de ensino”. A quem o MEC está respondendo? A milhares de professores que, ao
sentir que as terceirizações avançam a passos largos e depois do titular da
CAPES na gestão anterior ter defendido a substituição de concursos públicos por
esquemas terceirizados, ficaram com justiça preocupados com o uso da Lei.
Ou seja, três fatos
direcionados a fortalecer na melhor das hipóteses a lógica empresarial na
educação.
Faltam gestos que sinalizem
para o outro lado, ou seja, para o fortalecimento do papel do Estado como
provedor do direito à educação.
Um comentário:
Só sei dizer que enquanto esses empresários da "educação" só pensam em ganhar mais dinheiro, e esses MEC ser um Ministério da deseducação, os alunos da 1ª série vão pra 2ª sem saber ler e escrever, e vão pra 3ª sem terem aprendido nada da 2ª, e assim por diante. O pior de tudo é que os sabichões da área educacional dos municípios e dos estados, estão enfiando matérias extras nas séries iniciais, jogando o letramento e os saberes básicos constitucionais originais pras cucuias, e os alunos não aprendem nada, além da imbecilidade da famigerada aprovação automática. Outro detalhe, é formação de professores no Brasil, que estão sendo diplomados pelos tais "parfores", sem se quer terem aprendido ler e escrever um bilhete básico; será o fim da picada???. Esse é o Brasil da "pátria educadora", me poupem!!!!
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