Nas Escrituras está dito que podemos pecar por atos e
omissões. Em matéria educacional os governos também podem se enquadrar nesta
regra.
ATO 01
Ontem (29 de abril) centenas de professores, estudantes e
outros cidadãos foram brutalmente espancados pela Polícia Militar do Paraná. O
suposto conflito (não concordo com esta recorrente definição, por que conflito
pressupõe duas forças com igual condições para se enfrentar, o que não era o
caso!) aconteceu em meio a greve dos docentes em reação a um dos itens do
ajuste fiscal promovido pelo governador Richa (PSDB) do Paraná.
ATO 02
Em vários estados e prefeituras os docentes (e em alguns
também os demais servidores da educação) estão em greve. As pautas sofrem
alterações, mas as motivações de todas é das duas uma: a intransigência de
governos em negociar as reivindicações ou a dificuldade de governos em oferecer
propostas aceitáveis diante dos efeitos do ajuste fiscal federal na economia, o
que impacta as receitas de impostos de todos os entes federados.
OMISSÃO 01
No dia de sua posse no segundo mandato a presidenta Dilma anunciou
que o slogan seria Pátria Educadora. E no mesmo dia anunciou algo totalmente contraditório,
ou seja, decidiu cortar recursos educacionais.
Diante de outras tragédias sempre a presidente rapidamente
se manifestou. Foi assim com os deslizamentos de terra, alagamentos, acidentes
naturais. Foi assim com o fuzilamento de brasileiros presos por tráfico de
drogas na Indonésia.
E sobre as greves de educadores que se espalham em todo o
país? Nenhuma palavra.
E sobre a repressão brutal da PM do Paraná? Nenhuma palavra.
Alguém pode dizer que o executivo federal nada tem a ver com
as negociações dos governadores (e prefeitos) com seus servidores. É meia
verdade (ou meia mentira, como queiram). O artigo 211 da Constituição Federal
afirma que cabe a União papel redistributivo e supletivo em matéria
educacional, ou seja, precisa socorrer os brasileiros residentes em estados ou
municípios em dificuldade educacional. Além disso, a paralisia da economia e a
queda da arrecadação é culpa da política econômica conservadora (subiram a taxa
de juros ontem também, tudo para acalmar o “mercado”).
A lei do piso salarial nacional do magistério estabelece que
pelo menos 1 bilhão de reais estarão reservados este ano para auxiliar estados
e municípios em dificuldade. Quantos reais foram liberados desde que esta lei
entrou em vigor? Nenhum centavo sequer.
OMISSÃO 02
O que o cidadão designado pela presidenta Dilma para tirar
do limbo o slogan Pátria educadora propõe para resolver a desvalorização da
carreira docente? Uma diretriz nacional de carreira, mas que se baseia na premiação
do mérito. Diz o documento que a “carreira pode ser construída em etapas. Ela
pode começar na forma de carreira especial e suplementar para professores que
se comprometam a manter determinadas metas de desempenho. Receberiam adicional
ao salário, depois de avaliação, por avaliadores independentes, do cumprimento
de tais metas”.
Quem pagaria este adicional por mérito (nada inovador, basta
ver experiências malogradas em São Paulo, que está em greve, no Rio de Janeiro
nos governos da família Garotinho e em outras paragens)? Os combalidos governos
estaduais e municipais. Ou seja, tudo se resume em um problema de gestão. A
União, segundo a proposta, vai ajudar regulando as relações, aplicando provas
nacionais, certificando os professores (de volta a ideia de mérito como
resolução do problema da atratividade da carreira).
ÚNICO ATO DIGNO
Para não dizer que ninguém neste imenso país está empenhado
em aplicar o slogan, registro a minha admiração pelos 17 policiais militares do
Paraná que se recusaram a marchar contra os professores e estão sendo
processados pela corporação por insubordinação.
Ontem eles mostraram que uma pátria educadora somente será
construída se os professores forem considerados essenciais para o
desenvolvimento da sociedade, o que obviamente é totalmente contraditório em
soltar cachorros nas pernas deles ou descer a lenha nas suas costas.
Não é fácil agir da forma que eles procederam. Sabiam que
seriam punidos, sabiam que a corporação não é democrática, mas agiram como
verdadeiros cidadãos empenhados em valorizar os docentes.
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