Fiquei refletindo sobre que ótica deveria expressar minha
opinião sobre a nomeação do professor Renato Janine ribeiro para o comando do
Ministério da Educação. Dentre os nomes que circularam na bolsa de valores
instalada após a saída de Cid Gomes, certamente a escolha é uma boa
sinalização. Ao contrário de ministros anteriores, Janine tem reconhecimento no
campo educacional, preparo teórico e teve alguns anos de experiência em uma
área sob jurisdição do MEC, no caso a sua experiência como diretor de avaliação
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Por isso, como educador esperançoso na melhoria da educação
pública, só posso desejar boa sorte para o professor Janine. Porém, diante dos
desafios que o mesmo terá pela frente, decidi apresentar alguns elementos
fundamentais para que o acerto da escolha (poderia ter sido o Chalita ou coisa
do gênero!) guarde coerência com o slogan do governo (Pátria educadora) e não
frustre as boas expectativas que li de vários atores sociais da área
educacional de ontem para hoje.
Em primeiro lugar, mesmo correndo o risco de ser queimado na
fogueira por doutrinação marxista, lembro de uma frase escrita por Marx no seu
livro 18 Brumário de Napoleão Bonaparte. Na oportunidade ele disse que “os
homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem
sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Então, quais são as
circunstâncias que se apresentam para a gestão de Janine?
1.
Apesar de anunciar que o mote do governo seria
Pátria Educadora, desde novembro o governo vem seguindo (e não temos sinais de
arrependimento ou mudança de rumos) uma linha de aprofundamento do ajuste
fiscal e de políticas de cortes nos gastos públicos. A primeira edição (dita
preventiva) foi de cortes lineares e defendida pelo ex-ministro Cid Gomes. Semana
passada a presidenta afirmou que serão feitos novos cortes, mesmo que não mais
lineares. O primeiro desafio de Janine vai ser evitar a continuidade dos cortes
orçamentários na área responsável por materializar o mote do governo. Os
efeitos dos cortes preventivos já estão sendo sentidos pelas universidades
federais (basta ler jornais diários para saber disso).
2.
O novo ministro assume um legado no MEC. A
lógica de crescimento da oferta educacional mitigada entre um pouco de expansão
pública direta (presencial e à distância) e uma primazia do repasse de recursos
públicos para a iniciativa privada, ancorada no crédito estudantil
subvencionado (FIES superior e agora técnico) e na concessão de bolsas de
estudo (Pronatec) e isenções fiscais (Prouni) em troca de vagas inclusivas. O
novo ministro será apenas um continuador desta política ou terá autonomia para
alguma inflexão na direção de dar mais peso a oferta pública, inclusive como obriga
que se fala as metas 11 e 12 do novo Plano Nacional de Educação?
3.
Janine herdará também uma primazia da política
de avaliação em larga escala, cuja concepção é a de que podemos avaliar o
sistema educacional (básico ou superior) tendo como único requisito testes de
aprendizagem aplicado aos alunos. A sua experiência na Capes, avaliando
mestrados e doutorados, ajudará a termos uma revisão do peso desta política no
funcionamento do MEC, impedindo o seu aprofundamento ou não?
4.
Um dos entraves para o cumprimento do Plano
Nacional de Educação é a resistência da União de ter um papel redistributivo e
supletivo mais efetivo no provimento da oferta educacional. É consenso que o
novo PNE não se efetivará sem que ocorra uma mudança de patamar do papel de
financiamento da União. A presidenta Dilma dará autonomia e autoridade para o
novo ministro discutir estes assuntos?Dizem que o governo Dilma, devido
a gravidade da crise econômica e política corre o risco de permanecer no cargo,
mas ficar cada vez mais parecida com os governos Sarney ou Itamar, governos
marcados por instabilidades. Talvez por isso me veio na memória a gestão do
Murilo Hingel, que exerceu o ministério da Educação no governo de Itamar Franco.
No meio de um governo fraco, foi um ministro forte e de diálogo, dentro dos
limites que as circunstâncias históricas lhe impuseram. O novo ministro Janine
pode ser o que Hingel foi para Itamar, mas depende de ter capacidade autonomia
para desatar os nós acima citados (existem outros, infelizmente, foi só uma
pequena lista dos desafios que enfrentará).Como não tenho informações sobre
as negociações feitas por Janine com a presidenta para aceitar o convite, não
possuo elementos conclusivos sobre o espaço que ele terá. Tanto podemos estar
diante de uma pequena inflexão de Dilma para recuperar credibilidade junto a
setores mais progressistas, quanto podemos estar diante daquelas situações em
que a solução técnica foi tomada para evitar entregar a pasta para aliados
incômodos, o que poderia aprofundar o desgaste profundo deste início de
governo.Os primeiros dias de gestão, a autonomia
ou não que terá para fazer a composição da equipe, a relação que construirá com
os segmentos sociais na sua gestão e, principalmente, o peso que terá na
definição dos cortes orçamentários próximos, poderão fornecer elementos mais
conclusivos.
Neste momento eu só posso desejar
boa sorte ao professor Janine, coisa de grande importância, posto que não a
desejaria para Chalitas da vida, por que seria desperdício de tempo.
2 comentários:
Aguardamos e nos mobilizamos para que o melhor ocorra...
Vale ler o comentário do professor Luiz Carlos de Freitas também, aqui: http://avaliacaoeducacional.com/2015/03/28/um-novo-ministro-sem-sal/
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