Após a saída espalhafatosa do senhor Cid Gomes do
comando da pasta da educação, a qual aconteceu em meio a grave crise política e
econômica, várias entidades educacionais enviaram cartas a presidenta, numa
tentativa salutar de influenciar na indicação do substituto (ou substituta) pro
MEC. Duas manifestações merecem destaque:
A
primeira, enviada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, rede de
organizações da sociedade civil que tem demonstrada grande capacidade de
incidência nos debates parlamentares sobre o tema sugeriu que “a chefia do Ministério da Educação seja ocupada por uma pessoa que goze
da necessária legitimidade política e também de amplo reconhecimento junto à
comunidade educacional, especialmente junto a trabalhadores(as) em educação, gestores(as)
públicos, conselheiros(as) educacionais, ativistas e pesquisadores(as)”.
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E fez questão de lembrar que “efetivamente uma pátria educadora é
necessário um esforço irrevogável de cumprimento do PNE (Plano Nacional de
Educação – Lei 13.005/2014)”.
A segunda manifestação foi enviada pela Anped (Associação
Nacional de Pós-Graduação em Pesquisa em Educação), entidade com larga
tradição e reconhecida representatividade no seio dos pesquisadores
educacionais. A entidade alertou para “um descompasso entre sua agenda
política e o fortalecimento da educação pública, laica, gratuita, democrática
e de qualidade socialmente referenciada” que vem ocorrendo desde o início de
2015. E que a “saída do Ministro da Educação exige outra prática para a
escolha da (do) titular da pasta. O MEC não pode ser balcão de negócios ou
moeda de troca para assegurar a governabilidade”.
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Afirma também a necessidade da escolha do novo titular
recair em um nome “atenda às especificidades da educação para a sociedade
brasileira”, na “superação dos grandes desafios, para o enfrentamento das
desigualdades históricas da educação” e “na direção da garantia de conquistas,
da efetivação do direito universal à educação inclusiva, laica, democrática,
para todos (as), só pode se realizar com o fortalecimento da Educação Pública”.
Vamos resumir a situação que cerca o momento da escolha
do novo titular da educação:
1. Dilma
está com baixa popularidade, fato provocado pela piora na situação econômica do
país (e no sentimento concreto de que a vida está pior) e pelos escândalos de corrupção
descobertos pela Operação Lava Jato;
2. Dilma
decidiu implementar um pacote de ajustes fiscais (corte de orçamento, reajuste
das tarifas públicas, aumento do preço da gasolina e retirada de direitos
trabalhistas), política que em que pese os protestos ela continua defendendo
como único caminho para debelar a crise econômica;
3. Dilma
fez um ministério para garantir (?) a chamada governabilidade, que no Brasil
passa por saciar a fome do PMDB e de partidos fisiológicos (tipo o PROS de Cid
Gomes), mas até o momento isso não foi suficiente para ter maioria sólida no
Congresso Nacional, cujos comandantes do PMDB criam problemas toda a semana
para seu governo;
4. Há
um sentimento nos setores de esquerda de que Dilma mentiu pra população e está
governando com o programa do adversário (e defendendo a necessidade de). Isso
diminui a vontade e disposição de manifestações em seu favor;
5. Por
outro lado, cresceu um sentimento antigoverno e antipetista, com forte matiz
conservador, que empunha a bandeira do impeachment ou de intervenção militar
(mesmo que minoritária). O que deu força a estas manifestações, sem sombra de
dúvida, foi a situação econômica e o ajuste fiscal (da qual Dilma não abre
mão).
Para que lado da balança política Dilma vai sinalizar
ao indicar o novo ministro?
1. A
base das entidades signatárias dos dois posicionamentos votou em Dilma
esperando um governo de esquerda ou para evitar um maior retrocesso de um
governo tucano. E sentem que suas demandas foram rapidamente abandonadas. Caso
Dilma indique alguém com o perfil reivindicado pelas entidades estaria tentando
dar uma sinalização de maior comprometimento com políticas sociais inclusivas,
mesmo que as demais medidas econômicas não permitam grande margem de manobra ao
titular da pasta (ontem anunciou que vai contingenciar o orçamento e certamente
atingirá a educação).
2. Caso
indique alguém do PMDB (tem vários nomes na bolsa de valores) ou de outro
partido de igual perfil, Dilma estará indicando que o caminho escolhido para
sobreviver ao tsunami político é garantir governabilidade via incorporação
ainda maior de partidos conservadores no comando do país. Neste caminho
afastará ainda mais a base de apoio de esquerda e enterrará de vez o
cumprimento do PNE, pelo menos nos seus primeiros quatro anos.
3. Caso
tente uma solução aparentemente técnica, tipo a feita na última parte do
primeiro mandato, deixará aliados insatisfeitos (seria uma forma disfarçada de
manter o PT na estrutura ministerial) e manteria a lógica atual de gestão que
não passou confiança de compromisso com o PNE, quanto mais com as mudanças de
rumo sugeridas pelas entidades.
O dilema educacional que Dilma tem nas mãos nestes
dias é somente parte do dilema maior, mas pode servir claramente para indicar o
caminho escolhido por ela para enfrentar a crise.
2 comentários:
Creio que o melhor nome para a educação no Brasil é Cristovam Buarque.
Concordo, o Cristóvão Buarque seria o ideal e a Dilma acatar suas ações. Enquanto isso a Educação Básica vive seus piores dias. Aqui no Pará o desgovernador Simão Lorota acaba de provocar uma greve generalizada, praticamente 100% da Rede Estadual está parada por conta da greve dos professores iniciada ontem 25/03/15. Esse "governador" é costumeiro em dar calote e querer reduzir o salário dos professores paraenses igualzinho o de São Paulo, que também é dessa praga de partido chamado PSDB.
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