Na noite de ontem (14 de agosto) a Câmara dos Deputados
aprovou a destinação dos royalties para a educação e saúde. Esta votação, que
se arrastava desde junho, representou uma derrota aos interesses do governo e
dos banqueiros, mesmo que não seja uma tábua de salvação definitiva aos
problemas de financiamento dos dois setores.
Os educadores e os estudantes estão em permanente guerra por
uma educação pública de qualidade e a favor da universalização do atendimento
de saúde com qualidade. Um dos campos em que se trava esta batalha é na área do
financiamento.
O estabelecimento de vinculação constitucional para as áreas
sociais, especialmente para educação e saúde, foi fundamental para que fosse
viabilizado o SUS e garantida a cobertura escolar alcançada nas últimas décadas.
Sem esta definição as políticas públicas, bastante descentralizadas, não teriam
continuidade nem sustentabilidade.
Na área de educação, com a tramitação do novo Plano Nacional
de Educação, o debate sobre a necessidade de mais recursos para viabilizar o
direito à educação se tornou pauta de discussão. De um lado, os conservadores
de todas as ordens, setores empresariais e o
próprio governo defendendo o mesmo discurso da era FHC: dinheiro é
suficiente, o problema é de gestão! De outro lado, as organizações da sociedade
civil, os pesquisadores, as entidades acadêmicas e parlamentares progressistas
defendendo que um plano educacional digno do nome, que enfrente enormes
desafios de acesso e qualidade não é possível com apenas um crescimento
vegetativo dos recursos atualmente vinculados.
A aprovação de um formato de destinação de royalties do petróleo
para a educação e saúde reforça a sustentabilidade e a viabilidade do aumento
da oferta nestas áreas sociais. Aliás, são duas áreas muito presentes nas
demandas populares que ocuparam as ruas do país nas Jornadas de Junho.
Segundo cálculos da Consultoria Legislativa da Câmara este
formato destinará em 2013 1,4 bilhão e em 2022 chegará a 37,8 bilhões para as
duas áreas.
Porém, quero registrar o meu protesto contra dois elementos
do debate de ontem.
O primeiro foi a aprovação do destaque do PMDB que diminuiu
o percentual de recursos que ficarão com o Estado Brasileiro nas áreas que serão
leiloadas no Pré-Sal, que o Projeto previa 60% e caiu para 40%.
Pensando apenas na destinação de recursos para educação e saúde,
nos próximos dez anos, a retirada dos 60% representa uma redução de R$ 193,42
bilhões para R$ 179,87 bilhões (R$ 13,55 bilhões). No entanto, ao longo do
contrato do Campo de Libra (35 anos), ele representa uma redução de R$ 300
bilhões na renda do Estado brasileiro.
É a velha e recorrente prática de entregar o patrimônio que
pertence ao povo brasileiro para empresas multinacionais. E o mais incrível é
que vários especialistas e entidades sindicais denunciam que não precisamos
fazer este Leilão tão cedo, dizem que a Petrobrás já descobriu mais de 60
bilhões de barris no pré-sal nos campos de Tupi, Carioca, Franco, Libra, Sapinhoá,
Iara, e outros, que somados aos 14 bilhões existentes antes do pré-sal nos dão
uma autossuficiência para mais de 50 anos. Não havendo, portanto,
justificativas para se leiloar um campo já descoberto e testado, sendo hoje o
maior do mundo, e entregá-lo ao capital externo reduzindo drasticamente uma
riqueza nacional.
O segundo é que para garantir a votação teria sido feito um
acordo entre o governo e as lideranças dos partidos aliados para, no futuro,
rever o texto aprovado e voltar a destinar apenas os rendimentos do Fundo
Social para a educação e saúde. Isso seria feito um pouco mais adiante, posto
que o grosso da destinação desta fonte ainda vai custar uns quatro anos para
começar a migrar para a área social.
É verdade que é o tipo de acordo feito por atores sociais
que não sabem se poderão cumpri-lo no futuro, posto que em 2014 terão eleições
e nem a presidenta, nem os deputados presentes, podem garantir a continuidade
de seus respectivos mandatos. E até o envio do referido projeto muita água
passará por debaixo da ponte da política brasileira. Acho que foi o típico
acordo para diminuir a imagem de derrota do governo.
E mais, o povo brasileiro não estava na mesa deste acordo,
portanto não o avalizou. E as últimas manifestações mostraram que mobilização
social tem grande poder. sem estas mobilizações, sem o trabalho das entidades
da sociedade civil, especialmente a Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
este resultado não teria acontecido. Quando tal projeto de revisão foi enviado é
bom perguntar para o povo brasileiro se concorda com seus termos.
A guerra não terminou, ganhamos uma batalha. A próxima já
está marcada: garantir 10% do PIB para a educação pública no texto do Plano
Nacional de Educação.
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