Ontem, na Comissão Especial da
Câmara dos Deputados, foi travada mais uma batalha de uma velha guerra presente
na educação brasileira. por onze votos a oito foi mantido o parágrafo quarto do
artigo 5º do Substitutivo do Deputado petista Ângelo Vanhoni. Foi, sem sombras
de dúvida, uma das mais importantes votações realizadas, seja pela sua
consequência prática, seja pelo simbolismo da decisão.
Em síntese aconteceu o seguinte:
1. Quando o Projeto de Lei nº
8035/2010 chegou na Câmara nele estava incluída a proposta de que na próxima
década fossem aplicados 7% do PIB em educação. A sociedade civil e os especialistas em
financiamento provaram que tal percentual era insuficiente para cumprir as
metas do novo plano e tornava improvável que a superação dos principais
gargalos educacionais. Por isso, ganhou força a proposta de 10% do PIB para a
educação pública.
2. O relator da matéria tentou
uma manobra, a qual consistia em estabelecer um percentual intermediário (8,3%
do PIB) mas alterava a abrangência do texto, que passaria a abarcar não somente
os investimentos públicos nas redes públicas, contabilizando também os
investimentos públicos com a rede privada. A maioria da Comissão não aceitou
tal manobra e aprovou 10% do PIB para a educação pública. O governo ensaiou
recorrer ao plenário, mas diante da pressão social teve que recuar.
3. No Senado Federal ocorreu
forte recuo. Nas Comissões e no Plenário foi retirada a palavra
"pública" do texto da Meta 20 e criado um parágrafo que descrevia que
investimentos públicos no setor privado poderiam ser contabilizados, arrolando
desde gastos previstos no artigo 213 da Constituição Federal até gastos
temerários, como aqueles relativos a isenções fiscais que viabilizam o Prouni e
os empréstimos estudantis (FIES).
3. Ao votar para a Comissão
Especial a expectativa era sobre o que teria mais peso na consciência dos
parlamentares: a pressão violenta do governo e dos segmentos empresariais ou a
pressão da sociedade civil. Pois bem, o relator resolveu acender uma vela para
deus e outra pro diabo. Ele manteve a redação originalmente aprovada pela
Comissão da Câmara, ou seja, 10% do PIB para a escola pública. Porém, manteve o
parágrafo que amplia a abrangência do que pode ser contabilizado no cálculo
deste percentual.
Pois bem, ontem por onze votos a
oito foi acatada a proposição do relator. Qual a consequência prática caso esta
decisão seja confirmada no Plenário da Câmara dos Deputados?
Vejo duas consequências bem
claras. A primeira é que o percentual de investimento público na educação
pública não será 10% do PIB, devendo girar em algo em torno de 8,5% do PIB,
caso não cresça o percentual atual de destinação de recursos públicos para a
área privada. A segunda é que com este percentual as metas e estratégias
constantes do texto não serão cumpridos.
E qual é o recado simbólico por
trás da decisão?
Na minha opinião este é o maior
problema, pois a decisão indica a consolidação de uma visão de compartilhamento
da oferta do direito educacional, o qual não precisaria mais ser prestado
diretamente pelo Estado, podendo perfeitamente ser feito pelo setor privado,
desde que subsidiado pelo recurso público, posto que a parcela da população sem
acesso ao direito à educação não possui condições de comprar a "mercadoria
educação". O peso que os programas de isenção fiscal e financiamento
subsidiado no ensino superior e profissional possuem na política educacional do
governo federal passa a ser eixo de oferta educacional, sai do status de exceção,
de tratamento emergencial, e passa a ser um dos eixos da oferta das novas vagas
necessárias ao cumprimento das metas e estratégias do plano.
É como se o Congresso Nacional
estivesse subvertendo o texto constitucional, minimizando a importância do
termo "dever do Estado" no artigo 205.
As consequências práticas serão
muito mais danosas e permanentes do que o aparente simples problema de
contabilização de bolsas no percentual do PIB.
Esta votação é uma vitória dos
que defendem a redução do tamanho do Estado e a transformação da educação no
rol dos setores não essenciais para a sua existência.
Perdemos uma batalha importante e
isto aconteceu essencialmente por que parte da esquerda se converteu, na prática,
em defensora dos pressupostos teóricos da direita.
Um comentário:
Essa a atitude é um absurdo! Esses deputados e senadores de certos partidos ditos de esquerda são um bando embusteiros e traidores do povo!!
Ps. Aproveitando a oportunidade em que comento sobre esse absurdo acima, caro Luis, gostaria que você escrevesse uma matéria sobre as bases legais do processo de aprovação automática no Ensino Fundamental, coisa que em minha humilde opinião é um absurdo!A liás deveria-se era investir na qualidade, e, dando-se condições plenas para os professores poderem trabalhar melhor os alunos no início da alfabetização e depois. Aqui, tem aluno no 6º, 7º anos que não sabem ler e escrever, por que a justiça não manda barrar essa barbárie de aprovação automática que é muito pior que a reprovação que indica uma falha que precisa ser corrigida??? Se não estou enganado o Prefeito de São Paulo Haddad disse que acabaria com a aprovação automática se fosse eleito prefeito, será que ele fez isso?
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