Devido a dedicação para um concurso público na minha área,
estive afastado deste espaço na última quinzena e pouco comentei sobre a reta
final da tramitação do Plano Nacional de Educação. Como há a possibilidade de
que ocorra na tarde/noite de hoje a última votação da longa via crucis por que
passou o tema, comentarei neste espaço os meus posicionamentos e expectativas sobre o tema. Hoje vou comentar um pouco sobre os atores sociais envolvidos.
Como toda norma, o PNE a ser aprovado será expressão da
correlação de forças entre os vários segmentos sociais interessados e/ou
mobilizados para influenciar no seu formato. Sendo um plano que envolve todos
os aspectos da educação brasileira, há uma multiplicidade de atores sociais e
institucionais envolvidos, mas os mesmos não possuem e não tiveram pesos iguais
na pressão para definir os rumos do texto legal. Destaco alguns destes atores.
O primeiro, por ser o mais poderoso, é o governo central. Na
chamada governabilidade à brasileira, marcada pelo toma lá dá cá entre governo
e parlamento, as posições do governo possuem forte influência junto aos
parlamentares. E neste caso não foi diferente. É verdade que o texto final está
positivamente diferente do que havia sido proposto pelo executivo, mas também é
verdade que o governo impediu avanços importantes e agiu para impedir aumento
de despesas para os cofres federais, por um lado, e para legalizar programas
federais estratégicos, por outro. Se perdeu a batalha dos 10% do PIB para a
educação pública, o governo conseguiu inserir na contabilidade deste percentual
todo o gasto público com a iniciativa privada, matriz principal de sua proposta
de crescimento da oferta educacional nos últimos anos, especialmente no ensino
profissional e superior.
O segundo, por ser inovador em termos da política
brasileira, é a sociedade civil, representada neste processo pela Campanha Nacional
pelo Direito à Educação. Cada mobilização social é fruto do nível de
organização das classes de baixo e do seu grau de unidade nos embates políticos
contra os de cima e neste sentido não considero que o processo atual seja
semelhante ao desenvolvido quando da Constituinte ou da LDB. Hoje há muito mais
desunião nas hostes populares e o governo possui forte influência nas suas
principais direções. Mesmo assim, é alvissareira a capacidade que esta rede
teve de influenciar no texto final, garantindo vitórias importantes (ganhou o
debate de que eram necessários mais recursos para a educação, por exemplo) e
introduzindo no texto o conceito de custo aluno-qualidade, materialização da
exigência constitucional de padrão mínimo de qualidade.
O terceiro ator relevante na materialização do PNE, pelo
menos nesta fase de elaboração são os próprios parlamentares. Infelizmente a
educação ainda não se tornou uma preocupação relevante no cotidiano da Câmara e
do Senado, e as mudanças descritas acima refletem na redução de parlamentares
que elegem esta temática como eixo dos seus mandatos. Talvez a mais
representativa expressão do esgotamento das energias representativas do
parlamento brasileiro no que diz respeito a tramitação do PNE tenha sido a
postura do Senado em todas as votações educacionais ocorridas nestes últimos
quatro anos: insensíveis aos anseios populares, sensíveis às demandas
governamentais e de grupos conservadores.
O quarto grupo de atores, que não possuíram peso relevante
na formulação, mas que serão decisivos na implementação do PNE, é composto
pelos governadores e prefeitos. É sobre os entes federados com menor poder
político que recairá o grosso das responsabilidades. A falta de peso político
destes entes para forçar concessões federativas claras e objetivas enfraqueceu
o novo plano, deixando de aproveitar para pautar um dos principais temas
federativos brasileiros que é a revisão do papel da União no provimento da
educação básica. Porém, passada a fase de elaboração, o plano nacional depende
da construção de planos estaduais e municipais, de se tornar referência para a
elaboração das peças orçamentárias e de seus desafios se tornarem referência
para as políticas públicas locais. E também deste atores pressionarem a União
para auxiliar no cumprimento das metas mais desafiadoras.
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