Um dos grandes desafios do nosso
país é garantir efetiva participação social nas decisões das políticas
públicas. Essa carência de instâncias de participação e respeito as suas
decisões ficou evidente no processo de formulação do PNE.
No final da década de 90 a sociedade civil precisou
realizar conferências nacionais para formular a proposta de plano e enfrentar a
intransigência governamental, que fechava todas as portas de diálogo. É verdade
que as entidades sindicais, acadêmicas, estudantis e populares estavam muito
mais unidas naquela ocasião, principalmente pelos ataques que todos sofriam do
governo e por todos partilharem visões muito semelhantes acerca do caráter do
governo. A realização das CONEDs foi um momento muito rico de participação
cidadã. Havia um tripé que garantiu este saldo, constituído pela participação
ativa da entidade nacional dos professores universitários, das entidades
acadêmicas e da entidade representativa dos professores da educação básica.
A assunção de Lula a Presidência
da República trouxe pelo menos duas mudanças importantes neste cenário
anterior: abertura de alguns canais de participação, mesmo que cheios de
limitações e idas e vindas e uma divisão dentro do movimento social que esteve
unido na conjuntura anterior, especialmente por que o olhar desses movimentos
sobre a política implementada pelo novo governo passou a ser discordante.
É neste cenário bem mais complexo
que se realizou a Conferência Nacional de Educação - CONAE. De maneira resumida
tivemos a seguinte situação:
2. Das entidades promotoras das
CONEDS quase todas estiveram ativamente participando do processo da CONAE.
Contudo, uma das principais entidades que sustentaram o processo anterior
esteve ausente. Refiro-me ao ANDES-SN. Além desta entidade, algumas entidades
de base da CNTE e da UNE também decidiram boicotar o evento.
3. As decisões da CONAE não foram
tão "governistas" como os que boicotaram achavam que seriam. A
presença de muitos delegados da sociedade civil garantiu a aprovação de
resoluções que contrariaram em muitas questões os pontos defendidos pelo
governo, mesmo que emendas mais ácidas aos programas governamentais,
especialmente na ensino superior, não tenham tido apoio de parte destes
delegados. Ou seja, a crença de que um governo que "deveria ser de
esquerda e não é" controlaria totalmente qualquer espaço de participação
social não se efetivou.
4. houve um choque de realidade
nas entidades participantes ao perceberem que o Projeto de Lei do governo para
o novo PNE não absorveu as principais questões aprovadas no evento,
contrariando a promessa do governo de respeitar as decisões da CONAE. Ou seja,
a crença de um governo "de esquerda" respeitaria a vontade da
sociedade civil também não se efetivou.
Agora estamos diante da
convocatória de uma nova CONAE, com as etapas municipais e estaduais marcadas
para serem realizadas este ano e a nacional no inicio de 2014. E novamente a
participação ou não no evento toma conta dos debates sindicais, estudantis e
populares. E tem circulado uma proposta de uma reedição da CONED, tendo como intuito
fazer um contraponto a realização da segunda CONAE. Tal proposta é estimulada
por parte dos que promoveram as CONEDs e que boicotaram a primeira CONAE.
Quero registrar meu posicionamento
contrário a este caminho.
1º. Não é possível reeditar uma
Conferência Nacional de Educação da sociedade civil com a participação de
apenas uma parte do movimento educacional brasileiro. Convocar uma Conferência
tendo como núcleo apenas o ANDES-SN, dois ou três sindicatos estaduais da base
da CNTE e a ANEEL (entidade paralela a UNE) não é representativo e não pode ser
visto como a continuidade do que foi o esforço unitário da década de 90.
2º Há um erro conceitual
implícito nesta proposta. Lutamos muito para que ocorressem conferências
deliberativas, seja na área da saúde, assistência, direitos da criança e
educação. Realizamos as CONEDS por falta de resposta governamental, pela
dificuldade de conseguir espaços institucionais deliberativos. Não há nenhum
demérito de termos uma CONAE convocada por fórum onde está presente os
governos, as centrais sindicais, as entidades sindicais dos professores e
servidores e ONGs. O problema está na postura do governo em cumprir as suas
decisões, mas isto faz parte da luta que desenvolvemos cotidianamente.
3º. Acho que o atual comando da
CONAE está capenga de uma perna, e isto reside no fato de que o ANDES-SN não
participar do processo e os professores estarem sendo representados por
entidade paralela (PROIFES). Isso sim deveria ser uma briga a ser comprada
urgentemente.
4º. A tramitação do PNE mostrou
os prejuízos de realizarmos ações descoordenadas e isoladas em várias
articulações da sociedade civil. Ou seja, se queremos ter ingerência relevante
nos rumos da CONAE é preciso aumentar nossa capacidade de agir em conjunto, de
construir consensos e de influenciar no formato e no conteúdo do evento.
Bem, considero que o melhor local
para aqueles que estão convencidos dos limites políticos do atual governo é
disputando os rumos das decisões da CONAE, influenciando com suas ideias as
reuniões municipais e estaduais, elaborando propostas críticas em relação aos
documentos-base e assim por diante.
Acho muito útil que, caso se
consiga elevar o patamar de unidade do movimento educacional, ocorra espaços
alternativos e próprios de articulação da sociedade civil que sirvam de
preparação para uma intervenção mais organizada na CONAE. Este caminho tem o
meu apoio total.
Um comentário:
Caro professor Luiz Aráujo
Estou enviando a decisão judicial aqui no Rio Grande do Norte sobre as horas atividade.
Post do blog Panorama Político
Prof. José Luiz Araújo
Pedra Preta - RN
TJ decide obrigar Governo a pagar horas extras a professores do Estado, são 16 horas por mês para cada docente
O Governo do Estado foi obrigado a pagar 16 horas extras por mês para cada professor da rede pública estadual de ensino. A determinação é retroativa a 2008. A decisão liminar foi do desembargador Claudio Santos. A ação foi assinada pelo advogado Carlos Gondim que representa o Sindicato dos Trabalhadores em Educação.
“Diante do exposto, exrcendo o juízo de retrataçäo, defiro, em parte, 0 pedido de antecipaçâo da tutela recursal, para determinar que o Estado do Rio Grande do Norte remunere os professores por mais 04 horas de trabaìho, tendo como base o valor da hora normal, como já explicitado, até que se efetive o direito à carga horária de 30 (trinta) horas, sendo 2O (vinte) horas em sala de aula e 10 (dez) honras para atividades extraclasse, como previsto na lei de regência”, diz o desembargador na decisão.
A ação foi originada porque a lei que instituiu o Piso Nacional do Professor definiu que o docente deve cumprir dois terços da carga horária em sala de aula e um terço em atividade extra classe, como corrigir provas e qualificação.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação acionou judicialmente o Estado porque os professores da rede pública estavam cumprindo 24 horas em sala de aula e 6 horas na atividade extra. “A carga horária do professor é de 30 horas, ele (o docente) está dando 4 horas a mais em sala de aula”, explicou o advogado Carlos Gondim.
O pleito inicial era uma liminar para instituir as 20 horas em sala e outras dez para as tarefas extras. No entanto, o juiz de primeira instância Airton Medeiros negou o pedido. No recurso ao Tribunal de Justiça, o desembargador Claudio Santos analisou que limitar a carga horária na sala de aula a 20 horas traria grande transtorno no planejamento da rede e, a partir disso, determinou o pagamento das horas extras. No total, são quatro horas por semana, ou seja, 16 horas semanais para cada professor.
O cálculo será retroativo a 2008.
A decisão é passível de recurso do Governo do Estado.
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