quarta-feira, 17 de abril de 2013

Para não esquecer


Há dezessete anos atrás eu exercia o mandato de deputado estadual no Pará. E numa tarde recebi um telefonema de uma professora da cidade de Eldorado de Carajás. De forma nervosa a professora relatava que vários militantes do MST haviam sido mortos pela Polícia Militar em um trecho da PA-150, numa localidade conhecida como Curva do S.

Na manhã seguinte cheguei a Marabá fazendo parte de uma comitiva de deputados estaduais. Estive no local onde os corpos estavam aguardando perícia (a cidade de Marabá não possuía área apropriada para tal procedimento). Certamente foi uma das cenas que não se apagam da memória. Percorri cada corpo a procura de conhecidos, pois havia participado e me pronunciado semanas antes em manifestação promovida pelo mesmo grupo. No entanto era difícil identificar vários deles, pois mais do que um conflito, muitos foram vítimas de execução e tinham seus rostos deformados.

Com a referida comitiva visitei o quartel da PM de Marabá, hospitais que socorreram feridos e mais tarde participei de audiência com o então governador do estado, senhor Almir Gabriel (PSDB).

É interessante como determinadas atitudes se repetem. Li nos jornais de hoje que o ex-governador paulista Luiz Antônio Fleury, em depoimento no julgamento dos policiais responsáveis pelo Massacre de Carandiru, defendeu a ação policial. A mesma postura teve o governador paraense dois dias após o episódio de Eldorado dos Carajás. Depois ele jogou a culpa nos comandantes da operação, pois tal atitude retirava dele a responsabilidade por ter autorizado a ação.

Passados dezessete anos o pano de fundo do massacre continua sem solução, ou seja, milhões de brasileiros continuam privados do acesso à terra e nossos governos optaram por privilegiar a grande propriedade em detrimento da pequena produção e, por incrível que pareça, defender uma reforma agrária virou coisa fora de moda na política nacional.

Os excluídos, sejam eles sem-terra, índios, ribeirinhos ou pequenos produtores, teimam em não deixar o debate morrer. Ainda bem.

Ao me deslocar para o trabalho enfrentei um enorme engarrafamento provocado por passeata do MST. A marcha tenta reacender a luta por terra e condições de trabalho de parcela significativa dos excluídos do modelo econômico brasileiro. A maioria dos condutores dos carros ao lado do meu estavam revoltados com a passeata.

Eu cheguei atrasado ao trabalho, mas sei que se os excluídos não gritarem, quem ouvirá os seus reclamos?

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