A repórter Ana Aranha da Revista Época produziu uma matéria atestando falhas na execução das provas do Saresp em São Paulo e, inclusive, reproduziu algumas denúncias de possíveis fraudes na aplicação, o que deu o título da matéria: Professou passou cola.
As denúncias devem ser devidamente apuradas e o Secretário Estadual de Educação, Paulo Renato, tão zeloso e incentivador da implantação de provas de verificação da aprendizagem, deve ser o máximo rigoroso, na mesma proporção que cobrou rigor do governo federal no caso do vazamento da prova do Enem.
Entretanto, não comungo da avaliação da minha amiga jornalista quanto ao caráter inovador ou louvável da vinculação das notas do Saresp com a remuneração de professores da rede estadual. E esclareço os motivos:
As notas dos alunos serão conseqüência de inúmeros fatores que interferem na aprendizagem, dentre eles o papel desempenhado por seus professores. Contudo, não há comprovação do tamanho deste papel no produto final, ou seja, na nota final do aluno.
Outros insumos interferem no aprendizado. Por exemplo, a existência de salas de recursos, de bibliotecas, o quantitativo e a qualidade dos livros nas bibliotecas, horário para estudo, atividades extra-classe. Todos estes fatores pesam em alguma medida e não dependem do trabalho dos professores e sim da capacidade governamental de dotar as escolas com estes insumos.
A tentativa de fraude no Enem e agora no Saresp está diretamente associado a mudança de caráter destas avaliações. No caso do Enem, quando tornou-se porta de entrada para o ensino superior a prova passou a interessar a um conjunto de indivíduos e instituições que vivem da preparação dos alunos para o ingresso nas universidades. No caso do Saresp, passou a interessar ao conjunto dos professores de cada escola. A ocorrência de tentativas de fraude tende a crescer nestes casos.
Remunerar pelo mérito é em tese saudável. Acontece que uma prova que avalie a aprendizagem do aluno não julga o mérito ou o demérito do professor deste aluno. Por isso nem acho louvável a proposta da secretaria estadual de educação. Nem é inovadora, apenas repete o que o governo Garotinho fez no Rio de Janeiro, por exemplo.
Um comentário:
João Monlevade discordando. Se, como você diz, Luiz, "remunerar pelo mérito é, em tese, saudável", você mesmo, nos tantos anos de meritória carreira, já teria tido alguma idéia boa da forma de por a coisa em prática. Eu já discuti várias alternativas com colegas e gestores e nunca obtive consenso. Relacionar aumento salarial com titulação também não é muito saudável: provoca uma onda de compra de certificados e diplomas que ameaça a ética profissional. Quanto à avaliação de massa (tipo Enem, Saeb, saresp, e escambau), não deixam de ter valor diagnóstico e podem orientar políticas públicas. Mas, daí a legitimar resultados de aprendizagens, é uma discussão a ser aprofundada.Para mim, a avaliação mais importante é a diária, a cumulativa e contínua, que depende de uma mudança profunda nas jornadas dos professores e na relação entre cada um e o número de alunos a seus cuidados.
Postar um comentário