O MEC divulgou as notas do Exame Nacional do Ensino Médio e
estamos no momento vivendo o frenesi das avaliações apressadas sobre os seus
resultados. E como um bom ministro novo, o atual começa a soltar ideais
mirabolantes, tão necessárias para criar manchetes de um dia na mídia, as quais
certamente não consultou nem os especialistas da área e provavelmente os
técnicos do INEP ou do MEC (Enem online foi uma das pérolas ministeriais do
dia).
A imprensa se volta para a lógica de ranqueamento,
especulando que escolas conseguiram as melhores notas, as que conseguiram as
piores e também tentando descobrir por que determinadas médias caíram ou
subiram.
O mais perigoso e recorrente de tudo isso é, em que pese a
completa transformação por que passou este Exame Nacional, enxergarmos a
insistência de avaliar o ensino médio a partir dos seus resultados.
O ENEM se transformou em um vestibular nacional. E nisso não
vejo nenhum problema, pelo contrário. Acho mais democrático que qualquer
brasileiro, mesmo os que residem nas regiões mais remotas do país, possam
realizar um vestibular que possibilite disputar as escassas vagas públicas
federais existentes (o problema continua sendo a escassez). Não acho
democrático que o acesso às universidades do Sul e Sudeste seja privilégio dos
que lá residem ou dos que podem financiar a ida dos seus filhos para prestar seus
vestibulares.
É óbvio que todo vestibular influencia diretamente o currículo
realmente existente nas escolas de ensino médio. E não poderia ser diferente
como o Enem, ou seja, quanto mais voltada para aprovar os alunos nos
vestibulares, mais preparada estará a escola para tirar boas notas nas
referidas provas, com todas as distorções curriculares que esta postura
provoca.
De todas as informações divulgadas pelo INEP, uma que até
foi reproduzida, mas que nunca possui o impacto devido, certamente é a tabela
que aqui reproduzo acima, que mostra uma alta correlação entre a renda dos
estudantes e a nota obtida no exame nacional, regra válida para todas as redes,
mas que certamente impulsiona pra cima duas delas: a privada, por ser composta
majoritariamente da classe rica e média e preparar quase que exclusivamente
para os filhos destas classes para cursar o ensino superior e, a rede federal,
que não tendo necessariamente um perfil tão nítido como a rede privada, por ser
muito seletiva na entrada, acaba sofrendo de efeito semelhante.
Isto tudo me fez reler um interessante artigo de Paulo Corbucci
e Eduardo Zen, denominado “O IDEB à luz de fatores extrínsecos e intrínsecos à
escola: uma abordagem sob a ótica dos municípios” (http://www.ipea.gov.br/bd/publicacao_2013.html).
Uma das conclusões deste estudo é que existe uma fortíssima correlação entre a
renda per capita dos alunos e suas notas no IDEB, o qual é composto pelos
indicadores de aprovação e reprovação escolar e pelos resultados da Prova
Brasil.
O gráfico 3, que reproduzo abaixo, tenta traduzir estes
resultados de forma mais simples.
Em um país com profundas desigualdades de renda, as quais
condicionam as oportunidades de acesso a bens culturais essenciais ao
desenvolvimento pleno de seus cidadãos, concluir que as escolas particulares são
melhores do que as públicas é, no mínimo, uma conclusão apressada e pouco
fundamentada.
Enquanto as nossas escolas continuarem reproduzindo (e até
aprofundando) as desigualdades existentes e enquanto as políticas sociais
continuarem sendo apenas paliativos que não chegam a arranhar sequer a lógica
excludente de organização de nossa sociedade, os resultados serão parecidos aos
divulgados.
3 comentários:
Por esse motivo que a FINEDUCA (Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação) têm reivindicado do INEP que a divulgação do IDEB leve em conta o nível socioeconômico das famílias. Trato também deste tema no artigo Pinto, J. M. de R. (2014) Dinheiro traz felicidade? A relação entre insumos e qualidade na
educação. Arquivos Analíticos de Políticas Educativas, 22 (19).
http://dx.doi.org/10.14507/epaa.v22n19.2014
José Marcelino de Rezende Pinto
Presidente da Fineduca
O ministério da Educação (deseducação, deveria ser fechado por incompetência e todas as universidades brasileiras deveriam ser rebaixadas pra escolas de Educação Básica de qualidade, que o que precisamos nesse país de idiotas e hipócritas).
Prof Luiz Araújo
Bom dia.
Gostaria que o Sr. Publicasse algum artigo sobre a aplicabilidade da lei do piso nacional dos professores no que refere-se ao pagamento, haja vista, aqui no Rio Grande do Norte alguns municípios e o próprio governo estadual dizem só podem pagar o salario uma vez aprovado pela câmara municipal ou assembleia legislativa respectivamente.
Grato.
Prof. Jose Luiz Araújo de Abreu
Pedra Preta _ RN
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