No dia 1º
de janeiro iniciou-se o segundo mandato da presidenta Dilma. No discurso feito
no parlamento Dilma anunciou o lema deste novo período na direção do país:
Brasil, pátria educadora.
Afirmou que
o lema refletia “com clareza qual será a nossa grande prioridade e sinaliza
para qual setor deve convergir o esforço de todas as áreas do governo”. E disse
ainda que o mesmo possui duplo sentido, de um lado sinalizando que “a educação
será a prioridade das prioridades” e, por outro, que as ações de governo devem
ter um “sentido formador, uma prática cidadã, um compromisso de ética e um
sentimento republicano”.
Talvez
ainda seja cedo (quatro dias após o anúncio) para entender se o lema é apenas
uma jogada de marketing de um dos temas que renderam votos na campanha
eleitoral ou realmente a eleição de uma nova prioridade governamental.
Um lema
deve representar uma prioridade do governo e as prioridades se materializam em
ações governamentais e dotação de recursos. No primeiro mandato o combate à
miséria foi o lema, mas não podemos dizer que foi onde o governo mais investiu
recursos. Na verdade, podemos afirmar que duas ações concentraram os recursos
do fundo público: o pagamento da dívida (difícil de se tornar lema de governo!)
e os investimentos na infraestrutura para o desenvolvimento de empreendimentos
capitalistas. Estas foram as verdadeiras prioridades.
Contudo, o
governo comemorou a queda nos níveis mais absurdos de pobreza, mesmo que a
desigualdade (distância entre os mais ricos e os mais pobres) não tenha caído
de forma consistente no último período. Ou seja, temos menos miseráveis, porém
a desigualdade absurda não foi atacada nos seus fundamentos, pelo contrário.
A
presidenta não apresentou novos caminhos educacionais, apenas repetiu temas
desenvolvidos no primeiro mandato, ou seja, a pátria educadora até o momento se
constitui de “mais do mesmo” na área educacional.
Chamou-me a
atenção um trecho de seu pronunciamento, o qual seria um bom caminho de mudança
de rumo, caso o governo tirasse todas as consequências do que afirmou. Ela
disse que “democratizar o conhecimento significa universalizar o acesso a um
ensino de qualidade em todos os níveis – da creche à pós-graduação” e que isso
“significa também levar a todos os segmentos da população – dos mais
marginalizados, aos negros, às mulheres e a todos os brasileiros a
educação de qualidade”. Concordo com o dito, mas pergunto: que medidas serão
tomadas para alcançar este objetivo? Qual será o papel da União neste esforço
nacional?
Uma das batalhas
mais renhida de 2014 foi justamente a tentativa da presidenta impedir que o
Congresso aprovasse o Custo Aluno-Qualidade, especialmente a estratégia que
determina apoio financeiro da União para Estados e Municípios que não
alcançarem o patamar que deve ser estabelecido nos próximos dezoito meses.
Guardado na
gaveta mais escondida do gabinete do MEC, a Resolução sobre o CAQi, aprovada
pelo Conselho Nacional de Educação, continua esperando uma mudança de atitude
concreta, postura que ajudaria a dar mais credibilidade para o lema anunciado.
Outro
aspecto preocupante é sobre a alocação de recursos para tornar o Brasil
realmente uma pátria educadora, onde a qualidade seja democratizada e chegue
aos mais humildes. No discurso a presidenta manteve a lógica eleitoral e bradou
que nos próximos anos os recursos oriundos dos royalties do petróleo e do fundo
social do pré-sal, somados a “determinação política” do governo serão
suficientes para dar o salto de qualidade esperado. Todos os especialistas e
entidades ouvidos durante a tramitação do PNE no Congresso afirmaram que o
recurso do petróleo é bem-vindo, mas não garante alcançar os 10% do PIB para a
educação pública e será um pouco maior nos quatro últimos anos de vigência do
referido Plano, ou seja, depois que Dilma se despedir do seu segundo mandato.
Ter como
lema do governo federal a educação não deixa de ser uma boa notícia para o
setor. Obriga o governo a atentar para as demandas reprimidas e para as
reivindicações da sociedade civil organizada, dos milhões excluídos da escola,
dos outros milhões que frequentam escolas de baixa qualidade e de mais de dois
milhões de professores que aguardam real valorização profissional.
Vamos
monitorar os dias seguintes e verificar se o lema é um eixo de governo ou uma
resposta as críticas dos segmentos sociais que ajudaram Dilma a permanecer no
Palácio do Planalto e viram seu ministério ser muito parecido com as ideias do
seu adversário.
2 comentários:
Pertinente reflexão para iniciarmos o ano, afinal entre o discurso e a ação há um distante percurso e compete a nós educadores e a toda a sociedade brasileira acompanhar as contradições desse processo.
Parabéns Luiz! Sempre nos convocando a assumir o nosso papel.
Rosemeire Baraúna
Lúcida análise, Luiz. Entendo que a homologação do CAQi e sua implementação via Fundeb é a primeira mostra de que a educação é prioridade para valer. Aliás, ampliar o complemento da União dos atuais 10% da contribuição de Estados e Municípios ao fundo, para 15%, já em 2015, seria um bom motivo de que dá para confiar na Presidenta.
Zé Marcelino
Ribeirão Preto
Postar um comentário