Ontem (23.12) a presidenta Dilma anunciou mais uma leva de
novos ministros, dentre eles foi confirmado o nome do atual governador do
Ceará, Cid Gomes (PROS) para o Ministério da Educação. Seu nome aparecia na “bolsa
de apostas” desde o final do pleito.
A pergunta relevante é sobre o que muda no MEC com a ida de
Cid Gomes?
Na verdade é possível oferecer algumas respostas
provisórias. São provisórias por que a composição de um Ministério do tamanho
do MEC é complexa e a linha política do mesmo é um misto entre continuísmo do
que existe, perfil do titular e orientação presidencial. E ainda tem a atuação
dos atores sociais diretamente interessados, que pressionam para continuar ou
mudar de rumo, a depender do tema envolvido.
A primeira resposta é que o PT perde um ministério
importante, onde esteve nos últimos doze anos (Cristovam, Tarso, Haddad,
Mercadante e Paim). Não dá ainda para saber o quanto do PT sai da estrutura
ministerial, mas certamente uma fatia razoável sairá de lá.
A segunda resposta é que após a eleição de Haddad para
prefeitura de São Paulo, a vontade política de ocupar o MEC cresceu. Ele não é
o melhor dos ministérios para se fazer negócios, ou seja, para comandar grandes
obras e grandes licitações (tipo Ministério das Cidades, Integração Nacional ou
Transportes), mas mostrou um grande potencial de projeção pública do seu
titular. E isto se deveu ao peso que alguns programas ganharam na agenda do
governo. Isso significa que Cid Gomes (ex-governador) aceitou o cargo sonhando
alto, querendo projeção nacional. E o caminho mais fácil para isso é manter os
programas que projetaram Haddad, que conquistaram a atenção de Lula/Dilma.
Certamente o Pronatec e outros do gênero serão fortalecidos.
A terceira resposta diz respeito ao histórico anterior do
novo titular. Não é um educador, não tem tradição na educação, mas foi alçado
como bom gestor pela atuação na cidade de Sobral e no governo do Ceará. Foi
também um dos autores da Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o Piso dos
Professores e teve enormes atritos com o magistério. Não se deve esperar
relação tranquila entre ele e o funcionalismo federal, especialmente com os
docentes das Universidades e IFETs.
A quarta resposta, vinculada a primeira, é que talvez mude a
relação dos movimentos sociais com o MEC, especialmente aqueles dirigidos por
petistas. Ser do mesmo partido do comandante do ministério (além da
presidência) sempre foi um obstáculo para posturas mais radicais (mesmo quando
as mesmas eram necessárias). Quem sabe agora, com Cid Gomes no comando, os
movimentos sociais voltem a ter mais independência.
Não espero grandes mudanças programáticas, pois como disse
acima, o novo titular terá interesse em manter visibilidade dos programas
alardeados por Dilma na campanha. Porém, teremos um acento maior (ainda maior?)
para a “parceria” como o setor privado. Movimentos empresariais ganharão espaço
e o peso de indicadores de qualidade ancorados apenas na aprendizagem terão
ainda mais espaço.
E fica uma preocupação: que peso terá o novo Plano Nacional
de Educação sob a gestão de Cid Gomes? É incerto. Acho que ele tende a destacar
os aspectos afeitos ao seu perfil (parcerias com setor privado, bolsas, indicadores
de aprendizagem), mas não sei dizer o peso que trará nos aspectos federativos,
tendo sido prefeito e governador pode ter alguma sensibilidade sobre o tema.
Por fim, nesta breve especulação, Cid Gomes será um ministro
concordante com os ajustes fiscais que Dilma fará em 2015. Não reagirá contra
eles, pelo contrário, será um eficiente anteparo.
Bem, não foi o presente de Natal que os educadores escreverem
em suas cartas para o Papai Noel...
Um comentário:
Perfeito artigo
Parabéns! Agora fica claro o quanto é importante a educação para Dilma.
Só falta agora colocar o Bolsonáro de Ministro da Justiça ou dos Direitos Humanos. Lamentável também é a inércia do
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