O que mais me impressiona nos debates
educacionais é o número grande de palpiteiros sobre o tema. Alguns até possuem
formação na área, mas manifestam mais seus pensamentos políticos (e econômicos)
do que apresentam dados pesquisados ou pelo menos analisados de maneira séria e
consistente.
E muitas vezes, como no caso que
comento hoje, há uma clara mistura entre posições políticas e interesses de
sobrevivência econômica. Vejamos o caso do senhor João Batista Oliveira,
consultor na área educacional, presidente do Instituto Alfa e Beto, o qual
mantém “parcerias” com entidades empresarias tão distintas como a Odebrecht
(com vários dos seus executivos presos pela Operação Lava Jato) e que vende
serviços para inúmeras prefeituras e governos estaduais, mesmo que no seu site
afirme ser uma “entidade sem fins lucrativos”.
No dia 4 de dezembro este senhor
afirmou para a imprensa que “pelo menos, metade do orçamento para a educação é
mal utilizado”. Apresentou algum estudo científico sobre a realização das
despesas educacionais na União, nos 26 estados, no Distrito Federal, nos 5570
municípios? Claro que não. Publicou algum artigo em algum dos vários espaços
acadêmicos que poderiam validar os seus “estudos”? Também não. Puro achismo.
Este discurso foi repetido à exaustão
pelo falecido Paulo Renato quando no comando do MEC. Era a justificativa para
que a União não investisse de forma consistente no apoio aos estados e
municípios e deixasse à mingua nossas universidades federais.
E foi além. Ele afirmou que o PNE
recentemente aprovado “não garante melhorias ou mudanças na educação porque
corresponde mais aos anseios de corporações e grupos de interesses do que a um
projeto para a educação construído pela sociedade”.
Discurso surrado. Quando as ideias
dos interlocutores não são aquelas incorporadas na legislação, quando uma lei
se propõe a equiparar os ridículos salários dos docentes brasileiros, por
exemplo, certamente isso somente pode ser manifestação do “corporativismo”.
Interessante que pessoas como este senhor não acham nada corporativo quando o
empresariado do ensino realiza seus poderosos lobbies para abocanhar mais
fatias do mercado educacional sem regulação federal. Neste caso certamente
estariam falando “pela sociedade”, pelo menos a que vale a pena ser ouvida para
Oliveiras e tais.
A “sociedade” brasileira é formada
por distintos interesses e estes estiveram presentes na tramitação do PNE, como
estarão sempre presentes em cada disputa pela destinação do fundo público do
Estado Brasileiro. A pergunta é: que segmento desta sociedade desigual o senhor
João Batista faz parte, representa e defende?
Caso o plano seja cumprido, a
qualidade consiga melhorar e as redes públicas se fortaleçam, elevando o grau
de comprometimento do Estado Brasileiro com os mais pobres, os que continuam
excluídos do acesso, permanência e sucesso, quem sabe alguns prestadores de
serviço precisarão arranjar outro ramo para trabalhar. Para eles, quanto mais
se falar mal da escola pública, da gestão pública, mais mercado para os seus
produtos milagrosos se abrirão.
É verdade que a simples aprovação de
um Plano Nacional de Educação, em um país com tantas desigualdades sociais e
territoriais, não é suficiente para reverter os problemas crônicos que
vivenciamos na educação. Contudo, ter uma lei apontando metas de inclusão e
crescimento da presença pública na prestação dos serviços educacionais é uma
boa notícia, mesmo que não para todos os segmentos da “sociedade” brasileira.
3 comentários:
Excelente comentário, Luiz.
Este senhor tb não trabalhou no INEP na época do Paulo Renato?
O instituto dele tem o premio professor nota 10, em parceria com a Odebrecht, Gávea Investimentos (Armínio Fraga), Fundação Lemann e da Editora Abril. Por que será que ele quer premiar prefeitos?
Enquanto isso, nem se fala mais de quanto será o reajuste pra 2015 do Piso Nacional do Magistério, que está em queda livre diante da inflação galopante (a oficial é conversa fiada). lamentável mesmo a situação da categoria magistério em termos de valorização profissional.Tem prefeito dizendo que não dará reajuste nenhum...
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