Como não poderia deixar de acontecer, mesmo não tendo se
tornado eixo das propostas de desenvolvimento nacional, em todas as eleições,
seja no pleito nacional ou nas disputas estaduais, a educação aparece como
promessa relevante dos candidatos. Infelizmente, como regra, as propostas
apresentadas são genéricas e são apresentadas soluções que já estavam “na
moda”, ou seja, aquilo que estava sendo aceito ou muito divulgado pela mídia, é
apropriado no discurso e no programa dos candidatos.
Esta eleição, pelo menos até o momento, não tem sido
diferente. Como o pleito começou a esquentar logo após a aprovação do novo
Plano Nacional de Educação (junho de 2014), alguns temas que polarizaram os
debates no Congresso Nacional foram incorporados no discurso dos candidatos,
especialmente a educação em tempo integral, expansão da oferta de creches e
ensino profissionalizante.
Não foi apresentado nenhum projeto inovador e mesmo
emprestando algumas propostas badaladas na tramitação do PNE, os desafios da
sua concretização não apareceram como preocupação dos candidatos.
Seria muito interessante cobrar dos candidatos o
posicionamento claro sobre alguns dos principais desafios que ficaram evidentes
durante a tramitação do Plano Nacional, especialmente daqueles e daquelas que
disputam o posto presidencial, mas também de governadores. Anuncio aqui alguns
dos questionamentos necessários:
O primeiro diz respeito ao papel que a União terá na próxima
década no financiamento da educação e como as candidaturas pensam em cumprir o
preceito constitucional (artigo 211, no seu parágrafo primeiro) que incumbe à
União o papel redistributivo e supletivo, visando equalização das oportunidades
educacionais.
Durante a tramitação do PNE ficou claro para quase todo
mundo que sem uma revisão do formato de participação da União no provimento
educacional, inúmeras metas não se concretizarão. Estados e Municípios
precisarão de mais ajuda federal, mas a mesma precisa ter sustentabilidade
(palavra muito falada atualmente), não podendo estar circunscrita apenas a
programas federais, os quais mudam ao sabor do ministro de plantão.
O segundo, que está diretamente vinculado ao primeiro, é
sobre qual percentual de elevação dos investimentos educacionais cada candidato
se compromete, condição fundamental para se ter uma ideia sobre a efetivação do
plano ou não. É verdade que a redação da Lei nº 13.005/04 não estabelece qual
seria a obrigação de cada ente federado para que, ao final de dez anos, o país
esteja aplicando 10% do PIB na educação pública. É igualmente verdadeiro que o
governo conseguiu incluir na contabilidade deste percentual toda ordem de
subsídios ao setor privado, inclusive itens temerários como o subsidio nos
juros do financiamento estudantil.
Porém, ficou evidente nas exposições de especialistas
ouvidos durante a tramitação do PNE que um crescimento proporcional ao que hoje
é a participação de cada ente federado não é justa nem viável. Apesar de
abocanhar 57% dos recursos arrecadados pelos tributos pagos pelos brasileiros,
a União participa com algo em torno de 20% do esforço para oferecer educação.
Acreditar que estados e municípios dobrarão sua participação não é razoável.
E neste ponto temos um grande problema. Os últimos debates
ocorridos entre os candidatos e suas declarações na imprensa mostram uma
corrida pela conquista da confiança do mercado e vicejam promessas de rigor no
combate à inflação, aumento do superávit primário e autonomia do Banco Central
(em várias tonalidades). Ou seja, os três principais concorrentes anunciam
aperto fiscal, mesmo que com palavras rebuscadas e de difícil compreensão por
parte dos seus eleitores. Como acreditar que neste cenário sejam elevadas de
forma significativa a participação financeira da União nos investimentos educacionais.
Exemplo sintomático desta contradição é a unanimidade que a
educação integral ganhou dentre os candidatos. O Plano Nacional de Educação
prevê que após dez anos de vigência 50% das escolas, equivalendo a 25% de
alunos, convivam com educação em tempo integral. O custo desta expansão é fácil
de imaginar. Uma escola em tempo integral precisará de mais professores e/ou
maior carga horária para os atuais docentes. Os prédios, na sua esmagadora
maioria, não possuem estrutura adequada para oferecer outras atividades que não
sejam restritas a aulas de disciplinas. É óbvio que, para manter coerência com
o entusiasmo manifestado nos debates, os candidatos (e candidatas) precisam
deixar claro qual será o tamanho da ajuda federal para que escolas estaduais e
municipais alcancem este patamar.
2 comentários:
Professor Luiz Araújo, parabéns pela palestra de hoje aqui no Ciclo de Seminários da UNDIME-ES. Gostaria de aprofundar meus estudos sobre o Financiamento da Educação. Trabalho com Orçamento na Prefeitura Municipal de Cariacica, a cidade com menor PIB per capita do Estado. Obrigado pela contribuição!
Parabéns pelo retorno e pelo Doutorado, que com certeza vai contribuir muito para o povo brasileiro.
Pois é, como sempre os políticos tratam a educação como mero item de suas negociatas politiqueiras para garimpar votos de incautos.
Esse modismo de "educação em tempo integral" não passa de pura balela. Se quer, o sistema público educacional consegue manter um tempo, que dirá dois; tudo conversa fiada.
Agora, é preciso que os professores da Educação Básica devolvam o troco pra Dilma que só fala em Pronatec. Onde já se viu técnicos bem formados sem uma boa Educação Básica? A hora é agora professores pau! na Dilma e sua trupe de incompetentes!FEDERALIZAÇÃO JÁ! DA EDUCAÇÃO BÁSICA!
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