Semana passada apresentei neste espaço virtual a sugestão de
alguns parâmetros para que seja feita uma avaliação do conteúdo do novo Plano
Nacional de Educação. Como ontem (03 de junho) a votação foi encerrada e o
texto seguirá para a sanção presidencial e mesmo que a Presidenta Dilma pode
ainda vetar alguma parte do texto, já é possível iniciar uma análise mais
detalhada do que o Congresso Nacional apresenta como planejamento para melhorar
a educação na próxima década.
Vou iniciar por onde a votação terminou, ou seja, por quanto
que o país irá investir em educação nos próximos dez anos e se esse percentual
é suficiente.
Como já registrei, os investimentos públicos em educação
cresceram pouco na última década e parte destes recursos reforçou o caixa do
setor privado via isenções e bolsas.
Dados disponíveis mostram que o investimento público direto
(dinheiro público na rede pública) chegou a 5,5% do PIB em 2012 (último dado
público sobre o tema). Quando a este percentual são somados os gastos com
bolsas e outras subvenções destinadas ao setor privado, chegamos a 6,4% do PIB.
A participação financeira da União, ente federado com maior
capacidade tributária girou em torno de 20% do efetivamente aplicado,
percentual muito aquém do seu potencial. Em termos de investimento direto
chegou a 1% e somando os gastos com setor privado alcança 1,3% do PIB.
Este recurso foi suficiente para termos a educação que temos
hoje, ou seja, com milhões de crianças ainda fora da escola, com 14 milhões de
analfabetos, 29 milhões de analfabetos funcionais, com desempenho de
aprendizagem sofrível, com apenas metade dos jovens entre 15 a 17 anos estudando no
ensino médio, dentre outras mazelas.
Durante os debates ocorridos no Congresso, tanto os
especialistas em financiamento da educação, quanto as entidades da sociedade
civil, convenceram os deputados e senadores que a proposta do governo de chegar
em 7% do PIB ao final da década era insuficiente. E, ainda na Câmara foi
aprovada nova redação, a qual elevou o percentual para 10% do PIB. O governo
tentou derrubar na Câmara esta decisão em junho de 2012 e conseguiu alterar por
dentro o seu conteúdo no Senado, ao incluir na contabilização dos gastos
públicos todos os repasses públicos ao setor privado, inclusive itens de
temerosa legalidade de serem arrolados como gastos educacionais, como o
subsidio nos juros praticados no financiamento estudantil.
A última votação ocorrida na Câmara foi justamente a
tentativa de evitar um texto com enorme contradição. De um lado, uma redação da
Meta 20 que aponta para 10% do PIB para a educação pública (escolas mantidas e
dirigidas por entes públicos) versus um parágrafo que autoriza a contabilização
como gasto educacional de recursos transferidos a qualquer titulo para a iniciativa
privada, inclusive incentivos ou isenções fiscais e subsídios a empréstimos,
além do que a Constituição autoriza a contabilizar no seu artigo 213. Por 269 a 118 votos foi mantida a
destinação de parte dos 10% para o setor privado.
O texto final perdeu a oportunidade de sinalizar pra
sociedade brasileira que a educação é um direito fundamental e que a
responsabilidade pelo seu provimento é do Estado. E, ao invés de aprovar 10% do
PIB para a educação pública, na prática aprovou uma redação que, caso seja
cumprida na sua integralidade, aplicará no máximo 8% do PIB nas escolas
públicas. O restante será destinada a fortalecer o caixa das instituições
privadas, que certamente ficaram felizes com a referida votação e, caso os
parlamentares a procurem e o STF mantenha o financiamento privado de campanha,
saberão retribuir de forma generosa a postura solícita da maioria legislativa.
O governo também ficou feliz com o aprovado, por que pode
continuar direcionando recursos para seus programas de expansão de vagas, todos
ancorados no aumento da parceria com o setor privado, por meio de bolsas,
isenções, empréstimos subsidiados, o que diminui a pressão social pela oferta
de vagas públicas, estas de melhor qualidade e por isso mais onerosas aos
cofres públicos. Afinal, existem outras prioridades mais relevantes do que
elevar o investimento público na rede pública.
Sempre poderia ser pior. Olhando o que o governo apresentou
em 2010 e o que foi aprovado, a pressão da sociedade civil arrancou conquistas
importantes neste quesito. Escrever na meta 20 que a educação pública deve ter
10% do PIB, mesmo com os problemas acima descritos, significa ter elementos
para fortalecer a luta por uma educação pública de qualidade.
Um comentário:
Oi Luiz,
Onde consigo a versão final do PNE aprovada na Câmara? ainda não está disponível?
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