CARTA ABERTA DAS ENTIDADES E MOVIMENTOS EDUCACIONAIS
É PRECISO APERFEIÇOAR O RELATÓRIO DO PNE PARA GARANTIR UM PLANO CAPAZ
DE CONSAGRAR O DIREITO À EDUCAÇÃO NO BRASIL
Brasil, 31 de março de 2014.
Com o intuito
de garantir um Plano Nacional de Educação (PNE) capaz de colaborar decisivamente
com a consagração do direito à educação pública de qualidade, as entidades e os movimentos educacionais
signatários solicitam às deputadas e aos deputados federais que compõem a
Comissão Especial do PL 8035/ 2010 o destaque a três pontos do relatório do
Dep. Angelo Vanhoni (PT-PR).
Mesmo
afirmando que na Meta 20 do PNE o investimento público será em educação
pública, ao incorporar proposta do Senado Federal na forma do parágrafo 4º ao
Art. 5º, o relatório do Dep. Vanhoni acaba
por estabelecer uma nova maneira de contabilizar o investimento em políticas
públicas educacionais.
Para considerar
na contabilização da Meta 20 do PNE (10% do PIB para educação pública)
programas como Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego), ProUni (Programa Universidade para Todos), Ciências Sem Fronteiras e
FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), além de matrículas em creches e
pré-escolas conveniadas, o relator absorve um dispositivo que pode levar à
falta de garantia da expansão da educação pública nos diversos níveis e
modalidades de ensino.
Em outras
palavras, a manutenção desse instrumento pode significar a indistinção entre o
que é público e o que é privado, trazendo graves consequências à gestão
educacional e à qualidade da educação. E mais grave: da forma como está
disposto, permite uma expansão ilimitada dos programas supracitados no
orçamento da educação. Portanto, é
preciso suprimir o parágrafo 4º do Art. 5º da proposta de Lei do PNE.
No âmbito da
Educação Básica e da questão federativa, ao não retomar a Estratégia 20.10 da
Câmara dos Deputados, que determina a complementação da União ao Custo
Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e ao Custo Aluno-Qualidade (CAQ), o relatório desobriga
o Governo Federal a participar de modo justo e decisivo na Educação Básica.
Assim, caso o
texto seja mantido tal como propõe o relator, todo o custo da elevação de
qualidade na Educação Básica, determinada pelos mecanismos do CAQi e do CAQ,
recairá sobre os orçamentos municipais e estaduais, ferindo tanto a realidade
orçamentária dos entes subnacionais como o disposto no parágrafo 1º do Art. 211
da Constituição Federal: cabe à União colaborar técnica e financeiramente com
Estados e Municípios para o atingimento de um padrão mínimo de qualidade na Educação
(mensurado pelo CAQi).
Vale ressaltar
que a complementação da União ao CAQi e ao CAQ consta do Documento Final da
Conae (Conferência Nacional de Educação) de 2010 e do Documento Base da Conae
de 2014. Ou seja, é um instrumento imprescindível para a comunidade educacional.
Desse modo, a Estratégia 20.10 precisa
ser reinserida no PNE.
Por último, ao
incorporar a Estratégia 7.36 do Senado Federal, o relatório do Dep. Angelo
Vanhoni estimula, por meio do PNE, a
prática de bonificação por resultados na educação pública brasileira. Essa política,
que tem sido revogada mundo afora, acaba por desconstruir a carreira docente e
não melhora a aprendizagem, pelo contrário: é contraproducente. O caso mais
emblemático de revogação da medida ocorreu em Nova Iorque, na gestão do prefeito
republicano Michael Bloomberg. Portanto,
é preciso suprimir a Estratégia 7.36.
Afora os destaques acima mencionados, as
entidades e movimentos educacionais solicitam a aprovação dos deputados e das
deputadas da Comissão Especial ao texto do relator Angelo Vanhoni (PT-PR) no
que se refere à questão do combate às discriminações de gênero, raça e de
orientação sexual. O PNE não pode se eximir de planificar uma educação que
respeite integralmente todos os cidadãos e cidadãs em território nacional,
fazendo das políticas educacionais um instrumento fundamental de combate aos
preconceitos e à violência contra a mulher, contra os negros e as negras e
contra a comunidade LGBT.
Por fim, demonstrando
a unidade do movimento educacional, o que está disposto nesta Carta Aberta está
alicerçado pela 21ª Nota Pública do Fórum Nacional de Educação, espaço de
encontro entre a sociedade civil e os governos.
As entidades e
movimentos educacionais signatários desta Carta acompanharão as votações finais
do PNE na Comissão Especial e no Plenário da Câmara dos Deputados, observando a
presença e os votos dos deputados e das deputadas.
Entidades e movimentos educacionais signatários (por ordem alfabética):
1.
AASSOPAES (Associação de Pais de Alunos do Espírito
Santo)
2.
ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais)
3.
AÇÃO EDUCATIVA – ASSESSORIA, PESQUISA E
INFORMAÇÃO
4.
ACTIONAID BRASIL
5.
ALIANÇA PELA INFÂNCIA
6.
ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos
Profissionais da Educação)
7.
ANPAE (Associação Nacional de Política e
Administração da Educação)
8.
ANPAE/AL
9.
ANPAE/PI
10. ANPED
(Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação)
11. CADARA
(Comissão Assessora de Diversidade para Assuntos Relacionados aos
Afrodescentes)
12. CAMPANHA
NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO
13. CAMPE
(Centro de Apoio a Mães de Portadores de Eficiência)
14. CCLF
(Centro de Cultura Luiz Freire)
15. CEDECA-CE
(Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará)
16. CEDES
(Centro de Estudos Educação e Sociedade)
17. CENPEC
(Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária)
18. CGTB
(Central Geral dos Trabalhadores do Brasil)
19. CMB
(Confederação de Mulheres do Brasil)
20. CNAB
(Congresso Nacional Afro-brasileiro)
21. CNTE
(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação)
22. CONTEE
(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino)
23. CRECE
(Conselho de Representantes dos Conselhos de Escola)
24. CUT
(Central Única dos Trabalhadores)
25. ECOS
- COMUNICAÇÃO EM SEXUALIDADE
26. ESCOLA
DE GENTE – COMUNICAÇÃO EM INCLUSÃO
27. ESCOLA
POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO DA FIOCRUZ
28. FACULDADE
DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
29. FASUBRA
(Federação de Sindicatos de Trabalhadores de Universidades Brasileiras)
30. FEIC
(Fórum de Educação Infantil do Ceará)
31. FINEDUCA
(Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação)
32. FOMEJA
(Fórum Mineiro de Educação de Jovens e Adultos)
33. FÓRUM
DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO RIO GRANDE DO NORTE
34. FÓRUM
GO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
35. FÓRUM
PERMANENTE DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO ESPÍRITO SANTO
36. FÓRUM
RJ DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
37. FÓRUM
RO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
38. FÓRUM
SC DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
39. FÓRUM
SP DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
40. FORUMDIR
(Fórum Nacional de Diretores de Faculdades/Centros de Educação ou Equivalentes
das Universidades Públicas Brasileiras)
41. FUNDAÇÃO
ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
42. GELEDÉS
INSTITUTO DA MULHER NEGRA
43. IBASE
(Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas)
44. INESC
(Instituto de Estudos Socioeconômicos)
45. INSTITUTO
PAULO FREIRE
46. JPL
(Juventude Pátria Livre)
47. MIEIB
(Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil)
48. MOVIMENTO
CULTURAL FAZENDO ARTE
49. MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
50. NEJA/UFMG
(Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos)
51. PROIFES
(Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino
Superior)
52. REDE
ESTRADO (Rede Latino-americana de Estudos sobre Trabalho Docente)
53. UBES
(União Brasileira dos Estudantes Secundaristas)
54. UGES
(União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas)
55. UMES/SP
(União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo)
56. UNCME
(União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação)
57. UNDIME
(União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação)
58. UNE
(União Nacional dos Estudantes)
59. UNEFORT
(União Estudantil de Fortaleza)
60. UNIPOP
(Instituto Universidade Popular)
2 comentários:
Enquanto esse PNE não sai a contento, é preciso que todos saibam do descaso com que os prefeitos da Região Norte vem tratando a Educação Básica em seus municípios. É lamentável, a forma politiqueira como tratam a educação pública.Os professores que seriam uma das esperanças no combate a esses crápulas, estão a mercê dessa política educacional dos municípios, principalmente, aqui no estado do Pará, onde os sindicatos municipais de educação pública, estão literalmente fragilizados, e, sem apoio praticamente nenhum dos poderes que deveriam fiscalizar e punir esses que transgridem as leis educacionais e a Constituição Federal. As escolas estão sucateadas e funcionam de forma muito precária, os professores que estão assumindo diversas turmas são formados pelo PARFOR, cursos de qualidade extremamente duvidosa. Tem comunidade do interior expulsando "professores" "formados" pelo famigerado Parfor e faculdades particulares caçadoras de níqueis.Para piorar os salários dos professores estão sendo reduzidos sistematicamente, seja através de perdas de vantagens asseguradas pela Lei do Piso, seja por redução do baixo índice indicado pelo Mec e outras formas de dilapidação do salário dos professores, SOCORRO!!!! ISSO É CALAMIDADE PÚBLICA EDUCACIONAL!!! e OS PREFEITOS MENTIROSOS ALEGAM FALTA DE VERBAS, O QUE NÃO É VERDADE!! O problema chama-se: FALTA DE GESTÃO!! E respeito com as coisas públicas.
O texto final da Carta aberta incluiu a palavra PÚBLICA no título, conforme segue. Esta é uma distinção importante, considerando as divergências quanto ao tema, na Meta 20.
É PRECISO APERFEIÇOAR O RELATÓRIO DO PNE PARA GARANTIR UM PLANO CAPAZ DE CONSAGRAR O DIREITO À EDUCAÇÃO PÙBLICA NO BRASIL
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