Não me arrependo do elogio ao deputado Vanhoni feito logo
que li o relatório apresentado por ele. Tal atitude foi presidida pela minha
expectativa de que o texto seria muito ruim, totalmente alinhado com os
interesses do governo.
Porém, após leitura mais atenta do texto ficou evidente que
o deputado quis acender uma vela a Deus e outra ao Diabo, coisa muito perigosa e
que normalmente acaba condenando a alma do executante ao Coisa Ruim, como dizia
o velho Brizola.
A principal polêmica que permeou todos os debates do Plano
Nacional de Educação foi (e continua sendo) a participação que a União deve ter
no esforço nacional para melhorar o quadro educacional do país, que se encontra
em descompasso com o nosso potencial econômico (uma das oito maiores economias
mundiais).
Pois bem, esta polêmica se consolidou em alguns itens do
Plano. Vejamos quais:
1.
Redação da Meta, onde temos duas polêmicas
interligadas. De um lado, a necessidade de mais recursos (governo queria 7% do
PIB e os Educadores lutavam por 10% do PIB). De outro lado, a luta para que o
percentual seja destinado para “a escola pública” e o governo querendo incluir
tudo que repassa para a “escola privada”, em quaisquer dos seus formatos
(bolsas, subsídios, financiamento estudantil e isenções fiscais).
2.
Estabelecimento de prazo curto para a implantação
de um padrão mínimo de qualidade, que assumiu a denominação de Custo
Aluno-Qualidade e que pressupõe necessariamente um acordo para que a União
complemente estados e municípios que estiverem abaixo deste patamar.
Pois bem, uma primeira leitura mostra que três modificações
feitas relator mantém conquistas importantes arrancadas na tramitação da
Câmara:
1.
Ele manteve a redação da Meta 11, obrigando a
que o Poder Público avance na sua participação no ensino profissional;
2.
Ele manteve a redação da Meta 12, obrigando a
que o Poder Público avance na sua participação no ensino superior; e
3.
Manteve a redação da Meta 20, onde está escrito
que os 10% do PIB devem ser destinados para a “educação pública”.
Porém, como diz o ditado, alegria de pobre (e de educador,
acrescentaria) dura pouco, o relatório manteve dispositivos oriundos do Senado
que desfazem os avanços listados acima. Vejamos:
1.
Manteve o famigerado parágrafo 5º do artigo 5º,
no qual ficam reconhecidos como “investimento público em educação”, além dos “recursos
aplicados na forma do art. 212 da Constituição Federal e do art. 60 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias”, incorpora nesta contabilidade “os
recursos aplicados nos programas de expansão da educação profissional e
superior, inclusive na forma de incentivo e isenção fiscal, as bolsas de
estudos concedidas no Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em
programas de financiamento estudantil e o financiamento de creches, pré-escolas
e de educação especial na forma do art. 213 da Constituição Federal”.
Traduzindo: mesmo mantendo a palavra “pública” na Meta 20, o relator deixou
enorme brecha para que o governo, no dia seguinte à aprovação do PNE, diga que
estes outros gastos (com iniciativa privada) também farão parte da conta dos
10% do PIB.
2.
Na Câmara havíamos conseguido incluir o Custo
Aluno Qualidade no texto. Mesmo que o mesmo continue no texto do Senado (e no
relatório do deputado), ele foi enfraquecido, pois ao invés de estabelecer
prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE, para que ele seja implantado, o
texto substitui essa redação por ser definido. Sabe lá quanto tempo depois dos
dois anos ele será efetivamente implantado.
3.
E o mais grave, o Senado Federal havia suprimido
a Estratégia 20.10 aprovada na Câmara. No seu texto estava escrito que caberia à
União, na forma da lei, a complementação de recursos financeiros a todos os
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não conseguirem atingir o
valor do CAQi e, posteriormente, do CAQ. Suprimindo essa estratégia o relator
atende efusivo pedido do governo, que não quer assumir compromissos em
complementar estados e municípios com mais recursos, ou seja, enterra a
possibilidade de existência concreta do padrão mínimo de qualidade.
Estes dias li matéria publicada no UOL, de responsabilidade
da jornalista Cristiane Capuchinho, a informação de que das 291 mil vagas de
ensino técnico gratuito oferecido na segunda edição do Sisutec (Sistema de
Seleção Unificada para Cursos Técnicos), 84,5% são em instituições privadas
(246.228). A capacidade ociosa da rede particular está sendo usada pelo governo
federal para aumentar a capacitação profissional. Esse exemplo mostra que sem
restringir o uso de recursos públicos para o setor privado, mesmo escrevendo
que os 10% do PIB serão para a rede pública, o governo vai continuar no mesmo
caminho privatizante que vem trilhando.
A mudança destes itens do relatório do deputado Vanhoni são
fundamentais para que o PNE apresente clara sinalização de aumento da
responsabilidade do Poder Público com a oferta educacional, postura que é
condizente com o disposto em nossa Carta Magna.
Corrigir o relatório é urgente!
Um comentário:
Só mais um "plano de faz de conta", mais do mesmo: NADA!!!! Enquanto isso é greve de professores escravizados por todo o Brasil.
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